sábado, 23 de junho de 2012

Sonhos falsos

Enquanto eu te vi saudade, oh mocidade
Teu pavilhão do meu bloco a desfilar
Desfraldado entre as carnes do outrora
Encarnado a escorrer teu vil torpor

Os teus suores predicados, colombina
Que enlamaçavam com os meus, ensaboados
Desvencilhavam tuas mãos das sortes minhas
Desembocavam nos teus olhos a cerrar

Ah, noite sem pano! ah, ruço da serra!
Dos covardes doces ditos da tua boca
Das saladas sem vinagre, dos salames sem pimenta
Do passar do tempo em prole, das promessas no chuveiro

Eu ali, agachado, pés descalços
Pensativo, solene, amofinado: 'meu nome é trabalho'
'Ainda serei prefeito desta cidade, oh mocidade'
E teu beijo me calava, impositivo

O teu silêncio me faz eco, colombina
Descamba pr'a morte em vida
Destoa do que eu já fui
Ah! e bem lembrado:
Pensando bem, eu morri e me esqueci de deitar!