
Poucas coisas chamam tanto minha atenção quanto um pôster de evento que já passou. Ali, na parede da composição do metrô, o aviso de algo que já foi me lembra de que o tempo só fica parado quando alguém nos lembra disso. O ponto de encontro entre os que bateram os olhos naquele pedaço de papel colado no vidro é a vontade de descobrirem juntos, cada um por um caminho, um bom lugar para ir. Eu preferi o lugar-comum. E lugar-comum é segmento, pois! Assim como nos Estados Unidos há uma massa de tomate que é vendida em apenas um tamanho e sabor e os Ford Bigodes dos anos trinta eram sempre da mesma cor, escolhi o samba de uma nota só. A mesma cor, o mesmo tamanho, o mesmo cheiro, o mesmo sabor, o mesmo tom de voz, os mesmos olhos - menos quando bate o sol! - os mesmos cabelos - mais longos, mais curtos, repicados ou escovados - e, pasmem, o mesmo nome. Na cozinha industrial dos relacionamentos pós-modernos, fiz banquete de um ingrediente só. E não foram os temperos enumerados nas páginas da Capricho ou da Nova que me fizeram dar sabor adicional ao que sempre foi prato dos mais saborosos. É sabor que entra pela boca e circula por todo o meu sangue, contagia meu paladar e meu olfato com a sua textura e a sua fragância, invade todos os meus órgãos e ossos, exala de minha pele as notas musicais que encontram uníssono e repetem um mesmo nome, um mesmo chamado. Até meus olhos, tradicionalmente com as pupilas apontando para baixo e os cílios cerrados se abrem mais felizes com a luz que me alcança e faz as íris castanhas mudarem de cor e beirarem o mel. Me tornei usuário de um processo contínuo de otimização de meus sentidos acionado através de três palavras curtinhas que, sempre na mesma ordem, me despertam para as novas formas: "eu", "te" e "amo". Afinal, a melhor coisa do Mundo é degustar o prato mais simples das presenças desarmadas e das palavras curtas e simples: ativar o eterno através do simplório. Assim, cem anos de solidão desaparecem ao chamado de um segundo de encontro. E, por diante, um ano vivendo do mais simples e fascinante dos sentimentos equivale a incontáveis experiências com o que o ser humano tem de melhor - um prato que todos podem preparar, saborear e contar a receita. O meu, tenham certeza, será sempre servido no mesmo lugar e ao mesmo chamado.