segunda-feira, 31 de maio de 2021

Prelúdio

Pus o mais belo raio de sol no bolso do colete, e senti abrasar meu colarinho, me fazer esgarçar as golas como quem fosse explodir. Fogo da divina esperança, nove de ouros, minha prece e meu luto. A glória e a tragédia de quem se revira de amor e se contorce de dor. As muitas madrugadas. Em claro, com copos d'água para apagar o sol e fazer a lua cheia surgir no céu. A maior das luas, a mais brilhante. Mas o brilho que vem da lua, está distante dali: é apenas impressão. Brilho maior está no calor dos dias, que brotam sucessivamente até fazer com que a nossa chama, enfim, se apague. É o incendiar de duas voltas em torno do sol que faz minha lua, ao bailar em torno de si, brilhar. Se tudo parasse no tempo, não brilharia! É o seguir dos dias que a faz brilhar, em sua marcha ao infinito que não verei. É o universo de seu olhar sorridente, um cosmo verde, rodeado por estrelas marrons aqui e ali. Tons distintos. Este firmamento não se apaga com o calor dos dias: está aqui, tatuado do avesso, como se minha carcaça pudesse abarcar, em si, tudo o que existe no mundo. Um inventário do nosso segredo. Minha luz de estimação.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Sobressalto

Enrijeço, à espera da febre

Com as janelas aflitas para o que há de vir

E a ti, em sombra, rabisco no papel

De olhos bem abertos, a me fitar

Com seu sorriso magro, com sua doçura

E sua antítese, o silêncio. Que retumba.

Que me trancou há um mês.

Que engoliu as chaves.

Daqui da alma.