quarta-feira, 22 de junho de 2022

Espelhado

Tenho me abrasado um bocado

E deitado o dorso sobre a alma carcomida

Quinquilharia de esquina,

Doce mentira de quem só te quis bem

Para abarcar, na morte em vida

O apreço à palavra, o mais antigo erro

De quem sempre preferiu a razão à felicidade

E agora, cortado pela metade

Caminha no escuro sem espaço a tatear

Como um imenso ôco, que não sente os limites

Vendado da maior realidade de todas

A de que não podemos nos alimentar do que é vão

Nem blefar contra o coração, que é soberano

E nos lembra a cada dia que não dá pra fingir.

Deixei o que eu sinto na curva do rio

E vivo o sobejo do que não sou

À espera de um dia me libertar de tanta mentira

De despir essa farsa

E poder ser quem sempre quis

No além do restolho das preces vãs

Abraçado ao que mais quero

Ao que mais sinto, ao que me energiza

E que não esqueci um dia ali

Para não te esquecer jamais.

Parabéns.