Tenho me abrasado um bocado
E deitado o dorso sobre a alma carcomida
Quinquilharia de esquina,
Doce mentira de quem só te quis bem
Para abarcar, na morte em vida
O apreço à palavra, o mais antigo erro
De quem sempre preferiu a razão à felicidade
E agora, cortado pela metade
Caminha no escuro sem espaço a tatear
Como um imenso ôco, que não sente os limites
Vendado da maior realidade de todas
A de que não podemos nos alimentar do que é vão
Nem blefar contra o coração, que é soberano
E nos lembra a cada dia que não dá pra fingir.
Deixei o que eu sinto na curva do rio
E vivo o sobejo do que não sou
À espera de um dia me libertar de tanta mentira
De despir essa farsa
E poder ser quem sempre quis
No além do restolho das preces vãs
Abraçado ao que mais quero
Ao que mais sinto, ao que me energiza
E que não esqueci um dia ali
Para não te esquecer jamais.
Parabéns.
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