terça-feira, 2 de agosto de 2022

Metensomatose

 Tenho andado perdido

No descompasso de um calendário

Que desfolhou tudo aqui

E me pôs de joelhos diante do há


Fui um dia, príncipe perverso

Que sem mágoa ou ardor vão

Subverti o que tinha

Em nome do amor eterno


E vivi cálido inferno

Abrasado pela voz doce

Inundado de certezas

Para desfolhar todo mês.


Mal-me-quer?


Madruguei ensanguentado

Despertei tão tarde

A ver-te perder na esquina

Ou achar-te, enfim


Para viver aqui, percluso

Mas livre, pela primeira vez

Par de cotos que apontam para a frente

Braços baldios, braços sem mãos


Braços livres, mas goros

Tudo o que é seu, para sempre

Na mais baldada das intenções

A de esperar pelo trem de uma extinta ferrovia.


Bem-me-quer.


Libertei-me para nada

A mirar o lume de dez dias atrás

O último portal, o seu último túnel

Seus encantos em desalinho


E agora, sem te alcançar jamais

Guardo aqui na chama azul do meu peito

Teu nome em brasa, para nunca mais

Ou para todo o sempre, como sempre fui.


Mal-me-quer.

Nenhum comentário: