sábado, 9 de outubro de 2021

Substrato em desalinho

Gélida face sob a colcha

Que ensaboa a memória desvairada

Vê que morte enevoada

É a sanha do seu cálido momento

Senti-te esquentar meus pés

Com o aquecedor ligado

E sorver meus dedos, vis

Tive a sorte do teu beijo, colombina

Tanto tempo atrás, mais de três luas

E as tuas vestes nuas

De quem tanto desejou

Hoje, caminho meio morto

Absorto, em desalinho

Pois te espero em um milagre

Nos percentuais de descaminhos.

Desgracei minha prece vã

E sou todo seu, sem ter nada mais aqui

sábado, 2 de outubro de 2021

Alouette

Tenho andado apressado

E carcomido os meus botões 

Com a voz que bate no esterno

E me manda correr até lá 

É voz que inflama a alma

E me faz depor contra mim:

Sorrir debruçado sobre a dor?

Já sofremos demais por agora

É hora de viver sem mais piques

Sem o estouro da boiada, piamente

Como uma cotovia que espera a outra

No compasso de um samba sincopado

Em um bailar de sombras intermitentes

Com você a tomar tudo de mim

Enquanto navego em mar bravio