segunda-feira, 4 de abril de 2022

Meu sonho que você não crê

Tenho andado calado

E falado pelos cotovelos

Que a boca pra fora está cheia de azia

A corroer o estômago, a correr de mim

E passado as madrugadas, velado

Em um esparro íntimo de quem viu esvair

E tem algo bem concreto, e insosso

Para abraçar o futuro sem pé e nem cabeça

E aguardar, numa esquina qualquer

Que o milagre imponha a censura

E reinicie as velhas notícias

Notícias trancadas num ataúde raivoso

Embrulhado em panos negros de cetim

Com a leveza das suas mãos, que um dia abraçaram

E agora, ásperas, também andam caladas

Como quem esbraveja a página virada

E não desfaz a tatuagem, impressa em brasa

Um sol no meu braço, para me iluminar

E um furo em minh'alma, por onde ela se despede de mim

Um pouco a cada hora

Até virar do avesso

E ser livre na manhã alumiada

Entregue, mesmo tarde demais

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