Desprovido de pena, calei minha voz pequena, e senti latejar a enxaqueca que me pegou pelos pés. Estou desalinhado. Meus sapatos, curvados, exibem a sola seca, roída, como se fossem rebentar. Perdi o porvir. Sou algo sem devir, metáfora do aplauso que se dá ao clown de gracejos baratos. Tudo está sem sentido. Sem saber o que valeu, sem guizo no pescoço. Sem perfídia ou altruísmo, sem qualquer apreço ou desânimo por mim. Como um barco de papel, esbarro no mar puído onde me enfiei, como um trapo que escorre e me deixa nu, em escaras, com dores de perdas e mortes por culpas, cotidianas e assoberbadas escolhas que haverão de me levar para o mesmo nada ao que chegaria sem elas. Acabou tudo. E nem começou.
segunda-feira, 28 de março de 2022
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