Neva lá fora, fresta aberta em meu peito, sangue aos borbotões
Quero abotoar a alma para que desate o nó, para que calibre a calma
Tenho remado a canoa, maneta, no horizonte em que nada há
Quase nada, quase insólita calma, toda a paz dos cemitérios
Obscurecido, desvelo o breu e sinto o absoluto silêncio
De um avião em queda, onde todos prendem a respiração
E aceno, da janela, para o tempo ido
Tempo de deleite e sofrimento de quem me traz nostalgia
Tenho sentido o teu pulsar, o teu nariz gelado
E recordado dois anos atrás, o pranto no teu colo
A carta, o cordão, o nunca mais
Os meus e os teus blefes, o nosso pôquer diário
E deslizado pelo bolso do colete
Tudo o que vivemos e o que sentimos
Na inesquecível e única certeza da vida:
A de que tudo tem o seu fim.
Menos a inefável verdade
A única que já vivi
O deleite e o emprego dos meus dons
Para sonhar do teu lado
Morremos um pouco todos os dias...
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