quinta-feira, 29 de maio de 2025

Impávido colosso

Neva lá fora, fresta aberta em meu peito, sangue aos borbotões

Quero abotoar a alma para que desate o nó, para que calibre a calma

Tenho remado a canoa, maneta, no horizonte em que nada há

Quase nada, quase insólita calma, toda a paz dos cemitérios


Obscurecido, desvelo o breu e sinto o absoluto silêncio

De um avião em queda, onde todos prendem a respiração

E aceno, da janela, para o tempo ido

Tempo de deleite e sofrimento de quem me traz nostalgia


Tenho sentido o teu pulsar, o teu nariz gelado

E recordado dois anos atrás, o pranto no teu colo

A carta, o cordão, o nunca mais

Os meus e os teus blefes, o nosso pôquer diário


E deslizado pelo bolso do colete

Tudo o que vivemos e o que sentimos

Na inesquecível e única certeza da vida:

A de que tudo tem o seu fim.


Menos a inefável verdade

A única que já vivi

O deleite e o emprego dos meus dons

Para sonhar do teu lado


Morremos um pouco todos os dias...

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