A verdade é que somos intransitivos
E vivemos a esperar o barqueiro
Para levar tudo o que há, corrente adentro
Para o mar aberto da nossa memória
Doces e amargos dias
Diapasões que ecoam até onde o som pode ir
Gargalhadas, beijos, prantos
Dias que vivemos, e que se esvaem para a Grande Nuvem
Nuvem inacessível, das perdas inexoráveis
Dias sofridos ou belos, não importa
Tudo está condenado a partir e me deixar aqui
Até o barqueiro vir me buscar
Mas, até o inevitável caminho
Ainda posso ouvir sua voz esvair
E me chamar, cada vez mais ao longe
Mas ainda sua, é ainda você
Que empalidece sem sair daqui
Como um decalque na janela
Que, mesmo rasgado e atirado de cima
Ainda mantém parte da sua cola
O que nos prende, o que nos marca
E o que me habita aqui, tão só
Para nunca mais. Para logo aqui.
Sem esperanças, mas inevitavelmente seu
Até que o vento do mar leve embora tua voz.
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