quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
A Crise do América
Foto: Tribuna da Bola
Na foto acima, os veteranos Jorge Vieira, técnico campeão carioca de 1960 - quando tinha vinte e poucos anos - e Amarildo Silveira, "O Possesso", campeão do Mundo em 1962 pela seleção do Brasil. Unidos pelo "vencerás" do hino rubro, os sessentões atenderam ao chamado do ex-todo poderoso do futebol do América, Waldir Zagaglia, demitido nesta semana junto com Amarildo, o gerente de futebol Zé Carlos - ex-goleiro do Flamengo - e que se juntaram à comissão técnica de Ademir Fonseca, responsável pela preparação do time para o Campeonato Estadual desde o fim do ano passado, e que deixou o clube após o acachapante 4x2 aplicado pelo Duque de Caxias na estréia do campeonato. Muitos são os motivos que levaram o simpático clube tijucano às quatro derrotas seguidas e à incrível marca de 3 treinadores em 4 jogos - Ademir, Jorge Vieira e Amarildo. A média de público das partidas, que gira há anos na casa dos 800, 1000 pagantes, se manteve estável desde a boa campanha da última Série C, onde a equipe vinha bem até os já tradicionais atropelos causados pela desorganização e a falta de compromisso ético de dirigentes profissionais e amadores. Financeiramente, a situação não é fácil. Nos anos 90, o América vendeu o lendário Estádio do Andaraí, demolido para a construção de um shopping center. No acordo, estava previsto determinado repasse dos lucros do comprador pelo prazo de 15 anos. Pouco tempo depois de firmado o contrato, o clube vendeu a participação nos lucros por preço irrisório a um grupo de participações. Estava assinada com a saída do Andaraí, para muitos, a morte do simpático time. Foi esta uma situação que agravou, é bem verdade, as crises provocadas por decisões estapafúrdias da CBF que rebaixaram o América "na caneta" para a segunda divisão do campeonato brasileiro nos anos 80, e que transformaram o futebol do América no centro de convenções de empresários e dirigentes ligados a outros clubes da cidade, que pouco conseguiram fazer para evitar a insolvência financeira e a decadência técnica. É bom lembrar que grande parte das receitas do estadual deste ano, em sua maioria vindas de direitos de transmissão para a televisão, foram adiantadas em 2006, e utilizadas na campanha da Série C, em uma aposta arriscada que tentava a volta dos diabos rubros ao cenário nacional. Aposta arriscada, mas compreensível. A disputa da Série B traria um aumento substancial nos direitos de transmissão, e a possibilidade de manter um time em campo ao longo de todo o ano, evitando os tradicionais desmanches pós-estadual. Para muitos sócios e conselheiros, só há uma solução: a venda da centenária sede de Campos Salles, localizada em uma zona privilegiada da Tijuca, zona norte do Rio. As negociações, inclusive, já teriam começado para a construção de mais um shopping da região. Para outros, a mudança definitiva do América para o município de Mesquita, na Baixada Fluminense - onde fica o estádio de Édson Passos, inaugurado em 2000 - significaria a separação definitiva entre um clube e sua alma, sua gente e seu jeito de torcer. Nesta semana, o bom técnico Gaúcho - zagueiro do Vasco nos anos 70, e que já passou por clubes como América Mineiro, Madureira e o próprio América - foi anunciado como o quarto comandante da equipe em apenas cinco jogos. Provavelmente, um recorde nacional. Um título para um clube que há muito não dá à sua apaixonada torcida a correspondência necessária a qualquer amor.
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