O ano da virada já virou
O ano da levada já levou
O ano da pegada já pegou
Pegada forte! Levada firme!
Os vinte foram bem mais que os dezenove
Muito mais que uma unidade
Muito mais do que trezentos e poucos
Foi o ano do encontro
Foi o ano da partilha
Foi o ano da matilha!
Foi o ano da balbúrdia!
Foi o ano da penumbra
Foi o ano do esquecer
Já nem sei o que fazer
Pra fazer mais do que fiz
Só em um ponto eu pensei:
Eu vou ser bem mais feliz!
segunda-feira, 23 de junho de 2008
segunda-feira, 9 de junho de 2008
A Corrida Do Ouro
Toda tarde as mesmas pernas percorriam as pedras portuguesas pra pegar o mesmo ônibus. Preta-e-branca, Preta-e-branca, Preta-e-branca. Eram pernas de estudante, de bermuda jeans e suor escorrendo pelos pêlos novos. Uns segundos de pique, o peito batendo como um soco inglês em uma caixa de papelão, a cachola latejando e o suor por toda a pele, por todo pêlo e por toda a carne. Todo dia é a mesma busca, a mesma mão que procura com esforço a carteira por dentro da mochila. Corre pro 473 não ir embora! O pique se dá pra se subir no coletivo ou não. Muitas vezes, ele passa mesmo. E nada há de mais doloroso do que tanto esforço para subir a tempo neste e, embarcado, ver outro igual chegando atrás. Pra quê um minuto a menos de viagem? É só o tempo do motorista e do cobrador tomarem o suco de caju (ou de maracujá) com o espetinho de gato preparados por mais um brasileiro dos quase dez por cento de desempregados. Pra estes, o ônibus nunca chega. O pique diário do estudante pra ganhar um minuto ou outro é tão significante quanto qualquer esforço precipitado que se toma para chegar na frente dos outros. Acima de tudo, é salutar que todos embarquem de alguma forma: sentados ou em pé, na janela ou no corredor, ou mesmo pendurados nas portas e surfando no teto. Nada de correr por besteira, a hora é de saber o melhor carro pra pegar.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
O Tempo Pro Espaço
Quanto tempo o tempo tem? É vivo que é na pressa e na espera, na volúpia e na ansiedade, saciaz prazer de quem esperou tanto tempo pelo o que nunca teve. O tempo é tempero que faz a espera mudar de nome e virar "carícias preliminares". A dor tem gosto de carícia na alma. A perda tem voz de recomeço. Mesmo o fim, sendo assim, gosto tem de princípio. O tempo é o sábio projeto dos que esperam para ter o que querem. E quando já se teve, tanto melhor: saber o tempo a esperar é fundamental. Liguemos o microondas no tempo certo. Hoje, o tempo é tão caro quanto o petróleo, a água ou o amor. Seja o tempo que espera ou o tempo que apressa, é a ele que reverenciamos ao ver o passar dos anos e as transformações que só este ser pode fazer. O tempo cria espaço e cria matéria. O tempo traz novas vozes e novos mundos, novas faces e novos fundos, fundos-de-poço ou fundos de investimento. Saber viver o tempo é o que de mais sábio há entre os que esperam pelo melhor. Sem ele, nada seríamos além de uma fração de segundo condenada a desaparecer em corpo e memória.
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