segunda-feira, 9 de junho de 2008

A Corrida Do Ouro

Toda tarde as mesmas pernas percorriam as pedras portuguesas pra pegar o mesmo ônibus. Preta-e-branca, Preta-e-branca, Preta-e-branca. Eram pernas de estudante, de bermuda jeans e suor escorrendo pelos pêlos novos. Uns segundos de pique, o peito batendo como um soco inglês em uma caixa de papelão, a cachola latejando e o suor por toda a pele, por todo pêlo e por toda a carne. Todo dia é a mesma busca, a mesma mão que procura com esforço a carteira por dentro da mochila. Corre pro 473 não ir embora! O pique se dá pra se subir no coletivo ou não. Muitas vezes, ele passa mesmo. E nada há de mais doloroso do que tanto esforço para subir a tempo neste e, embarcado, ver outro igual chegando atrás. Pra quê um minuto a menos de viagem? É só o tempo do motorista e do cobrador tomarem o suco de caju (ou de maracujá) com o espetinho de gato preparados por mais um brasileiro dos quase dez por cento de desempregados. Pra estes, o ônibus nunca chega. O pique diário do estudante pra ganhar um minuto ou outro é tão significante quanto qualquer esforço precipitado que se toma para chegar na frente dos outros. Acima de tudo, é salutar que todos embarquem de alguma forma: sentados ou em pé, na janela ou no corredor, ou mesmo pendurados nas portas e surfando no teto. Nada de correr por besteira, a hora é de saber o melhor carro pra pegar.

Um comentário:

Blog do Mario disse...

carteira na mochila ...hahahahahhaa

brincadeira

muito bom o texto , vc é um bom escritor de metáforas sim...



ps : sugiro que vc compre um Rio Card.