sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Pé-de-Pano














Quero a máscara de face, pintada de preto e amarelo, tal qual Benjamin de Oliveira. Cá atrás, novecentistas, traço tintas e passo letras de armar e desmontar. Letras de sons, cheiros e imagens. Letras sórdidas de saudosas memórias. Letras pérfidas de caudalosas tormentas. Cá atrás, cem anos mais, sigo além nos perdidos caminhos da solidão. Me amafanho e me masso com as dores esofágicas causadas, quem sabe, por um copo de cerveja ou uma xicará de café. Bebo nem um, nem outro. Quero pra perto de mim os olhos castanho-escuros e a pele morena de boneca, o abraço malvado de quem aperta a mão e puxa as orelhas. Não quero mais minhas orelhas, e nem o meu nariz. Quero meu cabelo de volta. Quero a feijoada com o rabo do porco, o nariz do porco e o joelho do porco. Só assim é que vale. Quero os restos do que sobrar, migalhas por onde passar e, quem sabe, um pouco do olhar mais perdido que já vi. Quero amassar, amarrar, embebedar e embevecer de alegria e tristeza que, irmãs, surgem aflitas e eufóricas das estranhas d'alma humana. Quero a máscara que chora e a máscara que ri, ao menos uma vez ao mesmo tempo: quero um mau sorriso, e quem sabe uma boa lágrima.

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