sexta-feira, 29 de julho de 2011

Decisão da Riotur pode extinguir escolas de samba dos grupos inferiores.

No carnaval de 1997, apenas uma Grande Sociedade apareceu para desfilar na Avenida Rio Branco. Era o momento final de uma tradição de 150 anos que se encerrava em uma melancólica procissão de algumas dezenas de foliões com fantasias do ano anterior, préstitos mal cuidados e uma tosca bandinha a entoar sucessos do passado. Perguntados sobre as razões para a decadência e extinção das Grandes Sociedades Carnavalescas, seus remanescentes respondem em uníssono: o abandono por parte da Riotur. Relegadas a subvenções insuficientes para manter viva a tradição do carnaval carioca e sem receberem intermediação do órgão municipal para apoios e patrocínios, as manifestações centenárias viveram seus últimos dias no mais completo esquecimento.

Após 14 anos, é a vez de nova decisão da Riotur colocar em risco a continuidade de verdadeiras instituições sagradas do carnaval carioca. A proposta apresentada à Associação das Escolas de Samba de reduzir as escolas dos grupos C, D e E, atualmente quarta, quinta e sexta divisões até 2014 levará ao fechamento compulsório de escolas tradicionalíssimas do carnaval carioca, responsáveis por sambas históricos e desfiles memoráveis. Atualmente, há 72 escolas de samba em atividade no Rio de Janeiro. A determinação da Riotur é que em apenas três carnavais este número seja reduzido para enxutas 60. Se considerarmos que o atual Grupo E tem 12 escolas, isto significa extinguir uma divisão inteira. Atualmente, desfilam pelo último grupo nas terças gordas da Intendente Magalhães, em Madureira, escolas do quilate da Unidos de Lucas, União de Vaz Lobo e Canários de Laranjeiras, todas muito tradicionais e que representam suas comunidades há décadas.

A alegação da Riotur é distribuir com maior justiça as subvenções, hoje insuficientes para colocar uma escola de samba na rua. Mantendo-se o valor e reduzindo-se o número de escolas, a matemática pura prevê um valor maior a cada uma. Ao estimular a competição excessiva entre estas agremiações, não é de se espantar que logo todas elas sejam financiadas diretamente pelo capital ilícito para passar pelo "corte" e conseguir sobreviver. Reduzidas as outras pelo neoliberalismo do samba a duas alternativas: a extinção ou transformação em blocos de enredo, transformam-se em cinzas fora da quarta-feira suas tradições e legados, tal qual a prefeitura deixou acontecer com as Grandes Sociedades.

domingo, 24 de julho de 2011

O que há de vir


A torpeza dos maus verbos transborda da calha de teu peito: pisa, chuta e escarra nas dores perdidas e causas vencidas. O que se foi, não há de ser mais. Havemos de amar o que sempre fomos, lânguidos versos de lábios que somos em uníssono a entoar o que há de vir. Amo-te, incrédulo que as mais pérfidas cores sejam tanto para satisfazer nosso matiz de sonhos e tempestades, unidos que estamos em vida e sorte além da porta do grande sítio. Vivemos, pequena, em troça de nós mesmos, a espalhar nossa pilhéria a cada alma que cruzar nosso caminho. Ri de tuas flores. Somos muito vivos em nossos sabores, amados e amantes, fatalistas e amargos. Amo-te com o fígado. Para cada nova dor, uma bela resposta. Não te perco e nem te acho, pois não te abandono e nem morto aprecio o sofrer. Trata-se, apenas, de adorar o que és, meu anjo, a sonhar embevecida com cada mindinho entrelaçado e cada beijo estalado, cada vez mais espaçados e destinados à eternidade.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Demissões em massa na FACHA entregam mais uma faculdade aos "valores do mercado"

Desde a última sexta-feira (1), uma das mais tradicionais faculdades de Comunicação Social do Rio de Janeiro passa por uma das maiores crises de seus 40 anos de história. As Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), sob controle do grupo Comatrix, promoveram demissões em massa entre seus professores e coordenadores. De acordo com uma lista que circula entre os alunos da instituição, deixaram a FACHA 14 professores e os coordenadores de ensino, pesquisa e extensão, Dráuzio Gonzaga, e de publicidade e propaganda, Aluízio Pires, além do assessor pedagógico Naílton Maia. Justificados como parte de um processo de reestruturação da empresa "de fins filantrópicos", os desligamentos indignaram alunos e professores, que ameaçam deixar de pagar as mensalidades se não forem apresentados os devidos esclarecimentos.

A Comatrix, contratada por instituições privadas para serviços de "gestão empresarial", é conhecida pelas "reestruturações" que promove após a assinatura de seus contratos, em especial com instituições de ensino. Nas passagens anteriores pela universidades Estácio de Sá e UniCarioca, legou um rastro de cortes de pessoal e arrochos salariais. Especializada em gestão à brasileira, demonstra ver na redução de custos a missão do empresário na Terra, e no aumento das receitas um cume inatingível, afinal os impostos e o Estado são sempre os culpados.

Revoltados, os estudantes da FACHA realizam ao longo desta semana uma série de debates e encontros para discutir a crise na instituição. Em um deles, receberam um representante da empresa gestora, e este confirmou que "houveram algumas demissões". Posteriormente, em assembléias com dirigentes da faculdade, tiveram negados os rumores de que os profissionais demitidos seriam substituídos pelas indefectíveis "aulas semi-presenciais" - à moda da Estácio - e que haveriam novos cortes ainda neste semestre. São comuns as queixas de formandos que perderam seus orientadores e, em especial, contra a atitude de incluir uma antropóloga de 81 anos de idade, mais de 30 na casa, entre os demitidos. E o fim da picada: a proposta feita pela gestora a ela e aos colegas - parcelar o recebimento dos direitos trabalhistas em dez vezes ou ter de recorrer à justiça, em uma atitude amoral.

A entrega da gestão da Hélio Alonso, um dos últimos bastiões do ensino de qualidade e do jornalista-pensador no Brasil, a um grupo que apresenta larga experiência na transformação de instituições de ensino tradicionais em corporações à brasileira, representa muito mais do que os empregos perdidos por 17 chefes de família que culpa alguma têm das intempéries pelas quais passa uma empresa. Representa o triste retrato da submissão de nossas instituições de ensino aos mais obscuros interesses do mercado financeiro e de seus valores e condutas. Ao desrespeitar um trabalhador, no afã de parcelar 30 anos de dedicação em dez vezes - como as prestações de um sofá - os gestores abraçam o que há de mais imoral na relação entre o capital e o trabalho: o total desinteresse, ou mesmo repulsa, de um pelo outro.