Meninos, eu vi
A flor que passava nua
A voz que clamava à rua
As preces do bem-te-vi
Meninos, eu vi
Pedaços de lata-prata
Sorrindo atrás da porta
Clamando um bom porvir
Meninos, eu vi
A lama na estrada morta
Encrava as rodas tortas
Escravo de quem não viu
Mas veja, menino amigo:
As preces que já te digo
São preces de um bom porém
As preces da bem amada
Que esperam na madrugada
As vozes que lhe acalantam
Pois ouve, a musa grega
Que amado é quem serpenteia
A espreita do que virá
E espera, tão conclamado
O beijo desabrochado
Que trouxe suas respostas
Meninos, eu vi
As preces, já atendidas
São mais que perfumarias
São reles eternidades
Contidas nas entrelinhas
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Λαΐς της Κορίνθου
Tenho um nome que é plural. Lóukas, em grego. Há tantos nomes terminados em "s" para nos lembrarmos de que somos descendentes, de alguma forma, de heróis e nereidas do berço da civilização que ao bebermos um gole d'água somos capazes de nos perder. Ulisses, Marcos, Nicholas... há tantos plurais que me cercam e me abarcam em seus planos e sonhos, me fazem sufragar que há algo de melhor em ter um nome "feminino plural" que, afinal, nunca teve um diminutivo apropriado. Fui "Luquinhas" para as redações, "Lu" para a minha avó e restou espaço para um descompromissado "Pi" da minha mãe. É que nem tudo o que termina com "s" é plural. Do alto da montanha, tento escrever linhas que traduzam com coloquialidade a singularidade dela. Quero, por uma noite, falar como ela fala, pensar como ela pensa, sonhar como ela sonha. E observar, com os olhos cor-de-caramelo, que também há algo de melhor em ser singular. Que é decidido não saber ao certo o que fazer, conservador ser liberal e crente ser descrente. Pois ela, que não é a Laís de Corinto, pois não tem "í" e sim um art noveau "y", tem a beleza da mais bela das gregas, sua homônima de milênios atrás, e a pluralidade singular que só os pós-modernos podem ter. E acorda, faz café, acorda a mãe, veste, sobe dois dedos de saia, faz trancinha, bota adereço, maquiagem, o anel novo, as sapatilhas, desce o morro, pega o engarrafamento, assiste a seis horas de aulas enfadonhas, é a melhor aluna, corre para o trabalho, acode a mãe, chora o pai, atende o sobrinho, faz a janta, corre, corre, pressa, dorme, dor de dente, o aparelho, as contas do mês...! é muito mais heroína do que a grega, pura e simples desejada. Tão sonhada quanto a musa dos poetas clássicos, ela é heroína da odisséia cotidiana de quem tem que trabalhar para sobreviver e conquistar um futuro melhor... ah, velho clichê! é ela, a bela adorada - musa de um poeta sem poesia - que simboliza, tão singular, que é possível ser heroína em um país de canalhas.
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