domingo, 24 de fevereiro de 2013
"Dorcentésimo" de minuto
A pá de cal na diversidade está, certo, nas vãs certezas que afundam assoalhos. Os pés que inundam lodaçais, que pisam seringais, que envergam mas não quebram nos engenhos são rachadas permutas entre a dor do que se foi e a incerta e desvalida convicção no que virá. Pois eis que a vida vem e muda tudo. E traz ao andarilho, ao seringueiro e ao escravo-branco ares de profundo saber e um respirar professoral. E dá nome a quem não tem, sapato a quem não calça, diploma a quem não lê e cabeça a quem não pensa. E faz nascer asa em cobra. E inverte patrão e operário, senhor e lacaio, empreendedor e colaborador. É tudo a mesma coisa. E faz correr pra lá e pra cá, reunir, debater, digitar, enviar, ouvir, escutar, ouvir, escutar, ouvir, ouvir, ouvir... e falar sem dizer. E, peça de engrenagem, faz morrer por dez horas o que há de mais sublime em cada ser. Me ressuscita, pra logo endormir. É tese, é verbo, é prole de ideias, é som que sussurra ordens e investe, em tese, em quem fala e não escuta. Me ouve. Me diz. Temos um ano, dez meses, quatro, Brasília mandou defender! É de enlouquecer. Me ressuscita que eu já vou dormir. É beijo, é fogo, é fome de espera, é cheiro que aflora sonhos e investe, em suma, em quem diz e não nega. Me acalma. Me esfrega. Temos, ao contrário do afã operário e do afã acadêmico uma vida inteira de fatos, proles, pés descalços, dizeres e agires, passos e poços que só o amor faz tampar. E veste, assim, a prece embebida de eternidade, que fere e que lembra talvez, sumidade, teu preço a ser pago, teu golpe de sorte. E pago, e pego. Devoro o futuro com os pés sobre as tábuas e os olhos abertos. Que dizem, que choram, que ouvem, que afagam. Que sentem teu gosto, que enxaguam tua alma. A cada refrega, te amo, te espero. E vivo a certeza de que o que é sisudo passará. E o sonho, mesmo quando sério, será sempre sorriso de realização e lágrima de felicidade.
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Os Pobres da Macedônia
Te encontrei na estrada fria, sob as telhas do outrora, e fiz mulher teu sonho pálido de ser doce sem ser troça. Te perdi entre meus dedos, noite quente que apavora, onde tua voz foste devir de um futuro que vi esvair em meus pés sujos, em minha gola olímpica. E te reconquistei, num beijo profundo, que cravou meio mundo de sorver, de ensejo. Lá ficaram meses, menina, e a doce rotina das juras e curas fez-me estrada a quatro pés sem ter ponto de chegada.
Da partida, botei na maleta o teu primeiro "te amo", as lágrimas plácidas, nossos olhos abertos e, em frame, fechados. Apertados de eternidade. Preenchi meus bolsos com todos seus poros, que já conheço tão bem, e com sofreguidão beijei-os em mente. Oculto sob as lãs tricotadas em meu peito, amarrei com cordas pesadas o gostoso sofrer da saudade, que me tira a metade a cada passada a dois pés. E me faz, flanando a quatro, lembrar que sou fato e sou meia saudade: se de longe te mando mensagem, quando perto te escuto baixinho.
Na estrada fria do outrora, meu sonho, eu jurei que nunca mais te amava. Sem saber do teu nome, teus olhos, teus cabelos louros. Sem saber se te via na praça ou na praia. Sem saber se te via menina ou mulher. Pois eis que vieste, meu canto esperado, e fizeste rasgar estas juras perdidas na mudança que partiu na boleia. "Nunca mais amarei!", que pastiche. "Nunca mais jurarei!", que bobagem. Encontrei minha cara metade, teu nome, teus olhos, teus cabelos louros, nas partidas dos voos que um dia sonhei.
E, pleno, cravei teu nome em brasa aqui em casa, devorei teus dotes, me arvorei em teus predicados e, lá do alto, observei rapino que a estrada que prometi mandar fechar, ao tornar morosa minha decisão, permiti abrir de novo e transitar por todo o sempre. Porém, fixei pedágio desta vez: e de lá pra cá, a quatro pés, caminhei ao lado do cristal mais valioso e delicado que já conheci, tarifa mais do que justa. Prossegui, solene, por tuas mãos suadas com a certeza inseparável de que acertei no milhar ao descobrir que o amor da minha vida, tão inesperado, é o caminho que sempre esperei.
Da partida, botei na maleta o teu primeiro "te amo", as lágrimas plácidas, nossos olhos abertos e, em frame, fechados. Apertados de eternidade. Preenchi meus bolsos com todos seus poros, que já conheço tão bem, e com sofreguidão beijei-os em mente. Oculto sob as lãs tricotadas em meu peito, amarrei com cordas pesadas o gostoso sofrer da saudade, que me tira a metade a cada passada a dois pés. E me faz, flanando a quatro, lembrar que sou fato e sou meia saudade: se de longe te mando mensagem, quando perto te escuto baixinho.
Na estrada fria do outrora, meu sonho, eu jurei que nunca mais te amava. Sem saber do teu nome, teus olhos, teus cabelos louros. Sem saber se te via na praça ou na praia. Sem saber se te via menina ou mulher. Pois eis que vieste, meu canto esperado, e fizeste rasgar estas juras perdidas na mudança que partiu na boleia. "Nunca mais amarei!", que pastiche. "Nunca mais jurarei!", que bobagem. Encontrei minha cara metade, teu nome, teus olhos, teus cabelos louros, nas partidas dos voos que um dia sonhei.
E, pleno, cravei teu nome em brasa aqui em casa, devorei teus dotes, me arvorei em teus predicados e, lá do alto, observei rapino que a estrada que prometi mandar fechar, ao tornar morosa minha decisão, permiti abrir de novo e transitar por todo o sempre. Porém, fixei pedágio desta vez: e de lá pra cá, a quatro pés, caminhei ao lado do cristal mais valioso e delicado que já conheci, tarifa mais do que justa. Prossegui, solene, por tuas mãos suadas com a certeza inseparável de que acertei no milhar ao descobrir que o amor da minha vida, tão inesperado, é o caminho que sempre esperei.
Assinar:
Postagens (Atom)