Te encontrei na estrada fria, sob as telhas do outrora, e fiz mulher teu sonho pálido de ser doce sem ser troça. Te perdi entre meus dedos, noite quente que apavora, onde tua voz foste devir de um futuro que vi esvair em meus pés sujos, em minha gola olímpica. E te reconquistei, num beijo profundo, que cravou meio mundo de sorver, de ensejo. Lá ficaram meses, menina, e a doce rotina das juras e curas fez-me estrada a quatro pés sem ter ponto de chegada.
Da partida, botei na maleta o teu primeiro "te amo", as lágrimas plácidas, nossos olhos abertos e, em frame, fechados. Apertados de eternidade. Preenchi meus bolsos com todos seus poros, que já conheço tão bem, e com sofreguidão beijei-os em mente. Oculto sob as lãs tricotadas em meu peito, amarrei com cordas pesadas o gostoso sofrer da saudade, que me tira a metade a cada passada a dois pés. E me faz, flanando a quatro, lembrar que sou fato e sou meia saudade: se de longe te mando mensagem, quando perto te escuto baixinho.
Na estrada fria do outrora, meu sonho, eu jurei que nunca mais te amava. Sem saber do teu nome, teus olhos, teus cabelos louros. Sem saber se te via na praça ou na praia. Sem saber se te via menina ou mulher. Pois eis que vieste, meu canto esperado, e fizeste rasgar estas juras perdidas na mudança que partiu na boleia. "Nunca mais amarei!", que pastiche. "Nunca mais jurarei!", que bobagem. Encontrei minha cara metade, teu nome, teus olhos, teus cabelos louros, nas partidas dos voos que um dia sonhei.
E, pleno, cravei teu nome em brasa aqui em casa, devorei teus dotes, me arvorei em teus predicados e, lá do alto, observei rapino que a estrada que prometi mandar fechar, ao tornar morosa minha decisão, permiti abrir de novo e transitar por todo o sempre. Porém, fixei pedágio desta vez: e de lá pra cá, a quatro pés, caminhei ao lado do cristal mais valioso e delicado que já conheci, tarifa mais do que justa. Prossegui, solene, por tuas mãos suadas com a certeza inseparável de que acertei no milhar ao descobrir que o amor da minha vida, tão inesperado, é o caminho que sempre esperei.
domingo, 17 de fevereiro de 2013
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