sábado, 6 de setembro de 2008

Feijão com Arroz

Poucas coisas chamam tanto minha atenção quanto um pôster de evento que já passou. Ali, na parede da composição do metrô, o aviso de algo que já foi me lembra de que o tempo só fica parado quando alguém nos lembra disso. O ponto de encontro entre os que bateram os olhos naquele pedaço de papel colado no vidro é a vontade de descobrirem juntos, cada um por um caminho, um bom lugar para ir. Eu preferi o lugar-comum. E lugar-comum é segmento, pois! Assim como nos Estados Unidos há uma massa de tomate que é vendida em apenas um tamanho e sabor e os Ford Bigodes dos anos trinta eram sempre da mesma cor, escolhi o samba de uma nota só. A mesma cor, o mesmo tamanho, o mesmo cheiro, o mesmo sabor, o mesmo tom de voz, os mesmos olhos - menos quando bate o sol! - os mesmos cabelos - mais longos, mais curtos, repicados ou escovados - e, pasmem, o mesmo nome. Na cozinha industrial dos relacionamentos pós-modernos, fiz banquete de um ingrediente só. E não foram os temperos enumerados nas páginas da Capricho ou da Nova que me fizeram dar sabor adicional ao que sempre foi prato dos mais saborosos. É sabor que entra pela boca e circula por todo o meu sangue, contagia meu paladar e meu olfato com a sua textura e a sua fragância, invade todos os meus órgãos e ossos, exala de minha pele as notas musicais que encontram uníssono e repetem um mesmo nome, um mesmo chamado. Até meus olhos, tradicionalmente com as pupilas apontando para baixo e os cílios cerrados se abrem mais felizes com a luz que me alcança e faz as íris castanhas mudarem de cor e beirarem o mel. Me tornei usuário de um processo contínuo de otimização de meus sentidos acionado através de três palavras curtinhas que, sempre na mesma ordem, me despertam para as novas formas: "eu", "te" e "amo". Afinal, a melhor coisa do Mundo é degustar o prato mais simples das presenças desarmadas e das palavras curtas e simples: ativar o eterno através do simplório. Assim, cem anos de solidão desaparecem ao chamado de um segundo de encontro. E, por diante, um ano vivendo do mais simples e fascinante dos sentimentos equivale a incontáveis experiências com o que o ser humano tem de melhor - um prato que todos podem preparar, saborear e contar a receita. O meu, tenham certeza, será sempre servido no mesmo lugar e ao mesmo chamado.

8 comentários:

fernando disse...

A vida muitas vezes acaba nos oferecendo strogonoff's, escargots e outras frescuras que preenchem e satisfazem por momentos. O "arroz com feijão" a gente encontra poucas vezes. Depois que encontra, quer todo dia.

Parabéns pelo texto.

Unknown disse...

Nada como um arroz-e-feijão... o luxo, pode parecer tentador, mas não satisfaz como uma coisa simples.

Blog do Mario disse...

a vida é simples , meu caro , como o feijão com arroz . E é na simplicidade , sem "pedaladas" , que vc tem conseguido ter sucesso .Permaneça assim , step by step , sem rodeios . Sem firulas . Quando olhamos para as coisas mais simples da vida , ela se torna mais saborosa.

Isabela de Sousa disse...

Quase casamento!

Unknown disse...

O melhor da vida está nas coisas mais simples ;] parabéns cara

Cah Rosa disse...

comida boa não é a mais vistosa e nem a mais cheirosa, sim a que nos alimenta.
um ser humano bem alimentado é um ótimo realizador.
bom texto!

Leandro SC - Estácio 2008 disse...

É VERDADE, UM PRATO DE FEIJÃO COM ARROZ VALE MUITO MAIS QUE QUALQUER FAST-FOOD, INCLUINDO O MELHOR FAST FOOD...

Unknown disse...

Lido,
Passado para o papel,
Gravado por toda a vida,
Posto na porta do armário
e armazenado na alma.
Felicidade de ver nas letras
a expressão mais pura de se sentir.
Coração é porta voz do "eu" interior
e o amor é a comida que alimenta.
Pra quê complicar o complicado?
Deixa pulsar o incerto.
O racional perde tanta coisa por não querer encarar o erro ,
não descobrir depois o saciar de
desatar um nó.

eu te amo!!