sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Antrophofales paternae

E o medo da vida, temos tanto por quê? E o que há de se temer quando, esquina cruzada, as visões são sempre as mesmas? Mesmo quando interpelados por interjeições grosseiras de alguém, seguimos em frente com os mesmos problemas e os mesmos objetivos de todos. Agora mesmo: já é mais de meia-noite de uma sexta para um sábado, e eu estou com um copo d'água na mão e um par de chinelões que era do meu avô nos pés. O mesmo par que meu pai usa quando esquece os dele por aí. As tiras de couro, a sola enrijecida, porém confortável, o couro... cheiro de couro velho! Daqueles que os antigos usavam nos pés, nos punhos, nas cinturas e até nos cintos de castidade. Desde os tempos clássicos! Quiçá, desde os tempos imemoriais! As sandálias de couro, tal qual essa moda grega que ainda por aí nas vitrines das lojas femininas, se tornaram um símbolo de que tudo é sempre a mesma coisa. A Vera Fischer atrás de 'homens interessantes' nas novelas das oito, o José Alencar internado, o Paulo Maluf se lançando candidato, o Túlio fazendo gols e o meu pai reclamando. De tudo. Do Lula, do Sérgio Cabral, do Brasil e do Mundo. Já sobrou para o Obama. Meu sogro, é outro. Sempre as mesmas queixas. E sempre as mesmas sandálias de couro nos pés. Quer saber? Sandálias de couro atraem comportamento ranzinza. Entra ano, sai ano, as queixas e o couro são sempre os mesmos. A diferença é uma só: quanto mais o ano passa, mais sem cor e mais fedorento fica o couro... Até que a lata do lixo nos separe! E sou suspeito para falar: adoro sandálias e coisas de couro. Reforçam o ar mais velho que eu sempre tive. De uns tempos pra cá, chegam a me passar um verniz de aposentado. Aos vinte e um. Sou o único rapaz de vinte e um, ao menos que eu conheça, que usa sandálias de couro. É o meu passaporte para ser tão igual quanto todos os que vieram antes de mim o foram, e graças a Deus! Ser igual ao que se fez com correção é sempre o mais adeqüado. Ainda que muitas vezes me digam que sou um velho em uma carcaça jovem, retruco com decisão: é melhor ser o sapato velho de sempre do que a moda de cada dia. E, definitivamente, ser o mesmo sempre é - ao menos, e se serve de consolo - garantia de bom caráter e coerência com nossos propósitos.

2 comentários:

fernando disse...

Nada mais carnal que couro. O contato com o animal faz o bicho querer ser mais bicho.

Unknown disse...

O homem que não tem uma pitada que seja de velhice não tem a plena força
para enfrentar a vida.

te amo!