segunda-feira, 12 de abril de 2010
Pancadas num Quarto Escuro
Basta! Besta de quem vê além o mal que se tem cá mesmo. Vê assim, meu jasmim, o quão ressentido é o amor que se perdeu no córner do tempo. Passou tal qual poeira a dobrar a esquina, a procura de um ralo para rodopiar ao lado dos cabelos perdidos de alguém. Redemoinhos de pavor. Afoguei-me em caldo de dor, narinas tampadas, boca a urrar um grito abafado pela força da água: tirem-me daqui! Quero voar sozinho sobre as lagoas sujas, pousar nas hóstias dos padres e mentir ao palavrório desconexo das vozes dissonantes. Basta! Veja bem, meu jardim suspenso foi cancelado: obra de mil anos, parou nos primeiros cem, quiçá um pouco menos, nem sei ao certo. Nosso reino verde das samambaias de salão se perdeu com um fusível queimado três horas atrás. Apagou-nos a luz. Prometeu dar-lhe de novo, acaso o caso valer. Valei-me! Vê cá bem, meu jardim de jasmim, não dá para ser cerejeira em flor sem que tu creias em meus queixumes. Sinto saudades de teus perfumes, de todos, e de tuas bossas alegres. Desejo teus olhos verdes com o ardor dos sapatinhos de cristal. Ou seja, sem ardor algum. Que sejas retrato na porta do meu armário. Amém.
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