terça-feira, 1 de maio de 2012

Sobre ser leve e líqüido

Em suma, quero que suma com tuas frases tortas e dê um beijo na palma da minha mão. Ah, egoísmo! que pede em prece que a prole venha, que esmola amores do outrora, que esmurra a ponta da faca e escala, sem eira nem beira, as montanhas íngremes das mortes e das solas de sapato. Nesta tarde fria do dia que passou, veríamos um filme ruim na tela do cinema. Dividiríamos a pipoca, a fanta laranja e sonharíamos, brigosos, com o miojo e a carne moída do almoço de amanhã. Deitaríamos nas mesmas colchas de sempre e, ao nos amarmos, morreríamos de medo do próximo sábado. Desceu? que jamais tivesse descido. A descontinuidade da suprema felicidade, ao nos atordoar com a beligerância inefável da dor lancinante, é rotunda o suficiente para dizer em letras garrafais que tudo o que é bom acaba e não volta mais. Pois que a razão, danada de se ver, é adversa à luta dioturna, inquebrantável, pelo trazer de volta do nosso sonho em vida. É aí que razão e coração duelam: uma determina que me afaste, o outro que lute até o onipotente ácido sulfúrico da minha mágoa dissolver minha carne e meus ossos. E então, essência eterna, ai de quem disser, em nome do amor, que vivi inerte até o fim e que não lutei por tudo o que prometi. Que digam não fui teu cheiro, tua voz, tuas palavras, teu andar de boneca, teus sorrisos e preces. Que escarrem que não fui tuas mãos a me ensaboar, teus dedos a cortar minhas unhas, teus beijos, teus sonhos. E tão nossos eram os nossos disparates! eu te dei o céu e as estrelas, e tudo o que prometi é verdadeiro e eterno. Isso é ser incompleto. É viver com uma lista de encomendas feitas sob medida e não poder entregar a quem me fez o pedido.

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