quinta-feira, 15 de maio de 2014

O urro-sussurro

Daqui, do escuro que não vê palmo
Fez-se voz no peito calado, nas cordas caladas, na boca cerrada
Das preces de quem não crê, da alma de quem não vê
Cego, cerrado, despedaçado pelo outrora

Correu avenida, tropeçou sem guia
Esquálido, trêmulo, mortificado
Pois via a dor do peito estraçalhado, sem eira e nem beira
Em sua cegueira, se viu com razão

E pôs-se a pensar nas dores, em vão
- Onde estará o meu lugar?
E muitas outras frases repetidas

A enxergava em cada breu, e por ela era avistado:
Era só cegueira. Era só devassidão.
Ouvia sua voz infantil. Sentia suas promessas de castelos de areia.
Perseguia seus passos em busca de si.

Da dor, fez-se além. E descobriu, num sussurro:
Mesmo sem ser imortal. Mesmo sem ser moribundo.
Quer viver o tempo que lhe resta tateando quem lhe faz bem.
E abraça, tão longe, outra alma sofrida.

Caminhar é perseguir palavras.
Mais do que sonhos, catar poesias no peito.
Ouvir o inesperado desabrochar é sinfonia.
Deixá-lo urrar, de dor ou de felicidade, é o verdadeiro amor.


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