sábado, 6 de dezembro de 2014

Desacordo

Não, eu não tenho fé que me ampare
Nem santo aqui, nem mesmo eu
Nem mesmo a prece que me desvale
E nem mesmo peço à sorte que me resvale

Hoje, não valho o caco, não valho a alma moída
Não peço, não passo, não lambo a ferida
Não clamo, no poço, não peço partida
Nem morrer eu quero mais

Hoje, sou o bater da casa de máquinas de um elevador
No último andar. Na cobertura de minha mente.
Sem ente que sustente, sem pavor ou destemor
Sem viver não quero mais

Sou metáfora do que já fui, rascunho de um orgulho bobo
Que não trouxe nada de novo
Sem classe, sem posse. Sem pestanejar.
Nem arder meu peito mais

E da massa disforme, calcinada, que minha vida virou
Tanto tempo faz, sem vergonha ou com pudor
Não me arrependo de meio passo que dei
Sem sofrer eu vivo mais

E do teu peito aberto me despeço
Com a prece de um ateu que tua vida te ilumine
Que cá, meu passo, segue em frente amedrontado.
Sem você, sem complemento.

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