sábado, 13 de junho de 2015

Poesia concreta

Envelhecer é a cálida passagem de turno
Caudalosa na forma, bravia no conteúdo
Desatadora de nós, besbravadora de Nós
Desaguadora de um rio turbulento e calmo

É sentir os riscos que se abrem em cada palmo
É sorver a dor de cada porta que se fecha
É jurar amor às novas formas de se amar
É perder a dor em cada esquina pra depois reencontrar

Envelhecer não é só morrer todos os dias
É perder escolhas pra logo recomeçar
Perdidas na dor sorvida, porta fechada, voz encerrada
Encontrei e nem pude cumprimentar!

É a concretude da finitude, de todas as passagens
A obviedade das escolhas sem poréns
Das certezas que vêm do peito, das miragens
Da saudade que brota aflita nas reticências da vida

Eu, concreto ao me esvair, declaro:
Se não desvanecer antes que o sol se ponha
Tenho certezas de jequitibá
Convicções de quem, desbotado, aprendeu a amar

E grito, soturno, trancado no quarto
A quem ama e me quer amar
Do fundo da alma de um tempo que passa
Não há tempo a perder. Não passa. Não passa...

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