terça-feira, 4 de agosto de 2015

Cadafalso

Há, em cada passo mal dado, a cicuta do bem-querer
Nos pés tortos, que apontam para o centro
No requebrar trôpego de quem não pisa com os calcanhares
Nos amores desvanecidos, desfalecidos, meus lugares

Nas minhas gavetas, há frases e juras, males e curas
Há sombras, traços e frases de amor
Há cartões perfumados, cores e promessas
Há despedidas, mortes e duras

Nos meus pés, sem pestanejar, há passos de malabarista
De quem caminha na navalha, que caia, que caia...
Há, já, marcas do tempo, calos e dores
Há a lembrança de cada passo que dei ao seu lado

Nos meus sentidos, tão sem sentido, há flores brancas
E uma visão tão asséptica de mundo que o rompante não cabe
Tenho vontade de me levantar e caminhar por ele.
E, das flores brancas, erguer montanhas e mares

Queria poder ter mais do que tenho e não ser quem eu sou
Mas queria, mais do que tudo, não tropeçar nos pés de apoio
Não ser, ao fim, joio, não viver das frases de gaveta
E, das sombras de cada pranto, redescobrir a sorte em prosa e não ser mais poesia.

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