Não comi o sofrimento de colherada ao nascer
E nem colhi suas vestes, negras de luto e pavor
Fui amamentado com os dotes da segurança e da persistência
De quem esperou sem saber se chegaria
O encontrei, pela primeira vez, em uma carta sem resposta
Rabiscada em caneta roxa numa folha pautada
E tive a dor martelada com seus espinhos nas palmas das mãos
Encravada, tão vizinha e soberana
Vivi interregnos de felicidade, tréguas comigo mesmo
Tempos de ardor e amor, eras de sobrepeso
Onde carregava a delícia e o fardo de querer tanto
De quem arrisca as pedras na sorte da roleta
Destronado, fui poeta e pintor, saltimbanco e boxer
A questionar onde deixei cair minhas preces
Encantado com a morte perfeita que a vida reservara
Ao lado de quem amava, tantos anos, tantas caras!
Hoje, sou todo lembrança e coração, amarrado na cama
A bater teclas e espiar livros, na esperança vã do tempo passar
Gostaria de dormir hoje e acordar velho
Mas sei que, amanhã, vou gostar de ver o tempo chegar
Minha alma está morrendo comigo vivo, em chamas
Mas não peço ao amigo sofrimento sua dose errada
Quero me recompor, ressarcir o meu amor por mim mesmo
E perseguir, feito doido, a plena felicidade que nunca virá
domingo, 16 de agosto de 2015
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