domingo, 29 de novembro de 2015

Reviravolta

Concreto, o afeto é marca e névoa que clareia a alma, lívida, onde antes, impávida, doía fundo a amargura e ecoava a dor de amor. Ciclicamente, amar, desamar e amar para sempre, e de uma vez por todas, é lema de quem se entrega a cada passo e se aperta, guloso, no passo empertigado para te encontrar e te beijar uma vez mais.

Em brasa, marquei em prosa o que antes era verso, e fui mais prosa sem deixar de ser poesia, em uma reviravolta concreta de quem, agora, finalmente enxerga a felicidade na palma da mão, o passo encantado, torto como o meu, que manca e me manda seguir adiante, amado e amante, como quem vê o futuro ali na esquina.

Primavera, azul devaneio, quina sem rima, teus lábios grossos e as mãos tão finas, os dotes de fada e, é foda, o calor de mulher que me abrasa e me abraça toda vez que meu corpo encosta o seu. Barco sem vela, deriva boa, rumo sem horizonte e com todo o infinito do mundo: amei tantas vezes e fiz tantas juras de papel que, na reviravolta das concretudes, uni minhas fossas às suas para fazer eternidade.

Parágrafo final: amo a escova, o perfume e o pó. O pó que passo no rosto, que alivia lividamente o branco-azedo e me traz você a cada banho, tua lembrança e teu cuidado, o seu sono velado, a jaqueta jeans e o sonho, tão puro, que vê leveza no calor uterino de quem não tem útero mas ama, das entranhas, quem veio pra cá e tomou conta de tudo.

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