domingo, 9 de agosto de 2015

Garrote vil

Há ilusões, nereidas, no fundo do mar
De uma tarde ensolarada, da brisa que vem
E escurece, soturna, ossos alquebrados
Para logo o vento virar, mudando com ele o destino

Um dia abracei o mundo, menino, e fiz dele temporal
Dilúvio de ideias e propósitos que me insuflavam
Delírios de palavras e reinos, sonhos sem igual
Alcovas e caminhos, cores e vinhos cheirosos

E tantos versos garbosos, tantas juras de amor
Tantas declarações e serenatas sem cor
Tantos propósitos óbvios e promessas a juros
Tantas vezes o teu nome, o teu perfume e a tua voz

Que quando pus a pensar em nós, o fiz solenemente
Abarrotado de proposições, ao somar concretudes
E fiz de uma vida de esquadros, teus dotes e curvas
Para te imprimir, com teu jeito, em minha carne e meu espírito

Acordado, penso aqui em acolá
E quando deito o travesseiro, sou razão de mim mesmo
De quem alvorece e quebra firme o riscado do chão
De quem anoitece e espanta mosquitos, vagalumes e incertezas

E lavo com a altivez de um trovão, suas roupas sujas de um dia
Como quem esfrega na própria alma a refrega de outrora
E marco, com a mansidão de um sol poente, tua fronte
E o que nela há e me guia, me vira a cabeça e me faz levantar

Nenhum comentário: