quinta-feira, 8 de maio de 2008

Comédia Trágica Em Três Atos


Foto: investorwiz.com

Primeiro Ato: Ao Pranto O Que É De Pranto

Tudo bem, o bem venceu. Vou tirar o mal de mim. Prometo: quando o dia amanhecer, a dor de cabeça e o nó no peito serão bem menores do que o fim que se viu no frigir dos ovos. Afinal, a hora de pensar direito é a hora em que a porca torce o rabo. Eu juro que não encostei a arma em meu crânio de forma proposital. Foi tudo uma grande brincadeira. Não estou triste, nem sofro por meu pranto. Só o que eu temo é o desencanto. Desencantei-me com o que eu esperava de quase tudo, e vi a vaca ir pro brejo quando a onça bebeu água. Desencanei-me. Não adianta chorar só pelo pranto. O que vem para o bem não se amassa e joga fora. Nunca jogue fora os panfletos de rua sem antes saber para quê eles vieram. Alguns vêm para mudar a sua vida. Seus problemas acabaram. Os meus, só começaram.

Segundo Ato: Aneurisma Psíquico

É a dor que veio em besta bem no banco do metrô. No laranja, dos idosos, gestantes e crianças de colo. Era só o que restava. Logo, teria de levantar dali, já não tinha muito tempo. Já não tenho muito tempo. Hoje, senti tudo o que é caro esvair-se antes da hora. Desculpa, não deu pra segurar. Foi a minha vez de me evadir. Saí e entrei sozinho por portas e portões, ruas e esquinas, asfalto e pedras portuguesas. Com uma tremenda dor de cabeça, de um resto de gripe. E sem saber o que fazer. Com as mãos nos bolsos e a íris apontando para baixo, perambulei prantoso por minha solidão. Sem saber mais meu caminho, sem saber mais meu lugar.

Terceiro Ato: Sem Pranto Ao Que Não Tem

Tudo bem, o mal venceu. Vou lembrar do bem em mim. Prometo: quando a noite aparecer, a dor de cabeça e o nó no peito serão bem maiores do que o fim que se viu no frigir dos ovos. Afinal, a hora de pensar direito é a hora em que a porca torce o rabo. E qual hora que é? Sem saber pra onde ir, me esqueci do meu lugar. Me esqueci por cinco, dez segundos, do meu amor. Me esqueci de quem eu sou. Eu não sou o mal, o pranto, nem a derrota. Ainda. O mal não me venceu. O bem me deu poucas coisas, mas com as quais posso fazer meu pão e dormir meu sono. Quando relembrei o meu amor, que viu minhas costas virarem minutos atrás, me dei conta de que a hora em que a onça bebe água é a vitória nossa de cada dia. É o nosso pão. Por alguns minutos, naquela praça de metrô, me senti realizado: encontrei alguém que fez a vaca sair do brejo.

8 comentários:

Unknown disse...

...E só quem tem alguém, sabe como é. Nem preciso elogiar seu texto, seria mais do mesmo. o/

Anônimo disse...

Olha só quem reencontrei escrevendo aqui!!!!
O Grande Lucas Alvares!!!!
Tá pegando muito metrô hein!!!
Muito bom te ver escrevendo a alto nível, que aliás você sempre escreveu.
Continue assim hein!!!!
Um grande abraço do seu amigo de sempre!!!!

ANA FONSECA disse...

excelente, lucas alvares. excelente!

Isabela de Sousa disse...

Danooooou-se, agora também como diretor tetral! Nem preciso dizer que tá ótimo, né?!

Unknown disse...

"A vontade brota e o peito tem que abrir, se não o texto não sai" - Lucas Alvares.
É assim que este tão precioso escritor, que já sabia escrever aos três anos, define o que é uma preparação para produzir uma obra com tanto potencial.
Quando pergunto o que ele achou desse texto, ele:
"Interessante".
Meu amor, isso é mais que interessante, suas palavras expressam o seu talento, que você sabe que tem. E eu sou sua fã incondicional, sempre. Uma fã admirada e orgulhosa de ti ter do meu lado(isso é eterno). Eu te amo mais que tudo. Sim? Sim? Meu bituquinho! Como diria a nossa Carmen Miranda.

Blog do Mario disse...

Rapaz , tomei um susto quando li,,,rsrsrs , mas parabéns , o texto está excelente...só vc pra fazer um texto bom desses ...
excelente, lucas alvares. excelente![2]

Cah Rosa disse...

tudo isso por causa de uma tpm?

... disse...

Legal de vez em quando comer o pão que o diabo amassou com o rabo, né?