quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Me Senti Sem Fio de Prumo

Tudo o que nos é importante é muito tênue. Explico: Antes de consolidarmos qualquer coisa que seja, pensamos inúmeras vezes em como e quando o elo se romperá. Quem não pensa no pior quando vê alguém querido padecer? Por não sabermos, por natureza, lidar com as perdas, nos acostumamos a prevê-las antes de virem, como uma forma de aliviar o sofrimento. Desde que tomamos grau adeqüado de consciência, pensamos no dia em que nos despediremos de nossos familiares, amigos e animais. Pais que não querem que seus filhos tenham cachorros em casa justificam a decisão com o tradicional 'Não. Depois o bicho morre e você fica aí chorando.'. Como podemos ver, embora tentemos lidar com as perdas, muitas vezes nos é negada até a tentativa. Para fugir do desencontro, resolvi rotular como eterno tudo o que me é querido. Jurei, como todos, amor eterno muitas vezes à muita gente. Tratei meus avós como imortais, e não quis lhes ver na despedida. Desde sempre, jurei amor eterno à minhas escolhas, dádivas e até aos meus fardos. Ao contrário, do que a razão afirma, amar nunca é demais: quando amamos, ao fim das contas, é porque escolhemos assim ou aderimos a isso. Logo, não é erro manter a coerência: 'Ame suas escolhas, mudar de idéia é coisa de quem se equivocou'. E sou de grande coerência com o que quero e sempre quis. Na medida em que caminhos foram surgindo à minha frente, optei por uma das curvas e nunca peguei um retorno. E puxei, dia após dia, o fio de meu destino com olhos de lince e tato de lagarto, com o maior esforço que poderia ter. Punha entre as mãos o fio das certezas com a habilidade que só os pretendentes à eternidades se propõem a ter. A cada afago em meu fio de prumo, sorria para minhas certezas e as reafirmava: eu nunca perderia coisa alguma que quisesse ter. Um dia, quando quis acariciar os meus fiapos, não os encontrei. Nenhum deles. Ainda que detestasse meus traços que não pude escolher, sempre reafirmei minhas escolhas. Movi então minhas mãos pelo vácuo à procura de minhas verdades, num estranho e inútil bailar. Fio a fio, todas as tênues garantias haviam se partido ou passado para outro plano. O eterno num segundo se quebrou, rendendo-se ao agora. E aí eu percebi que ninguém mais tem certezas tais quais eu sempre tive, e que o dever da dúvida é salutar para quem não quer se perder. Ainda que perdessemos todas as certezas, fios tênus não seriam artificialmente petrificados e transformados em verdades absolutas e resistentes ao tempo e à ventanias. Nesta noite só me resta uma última certeza: a de que não mais me entregarei ao imponderável, já que não sei mais o que o incerto fará de mim.

Um comentário:

Unknown disse...

Como seria bom se tivéssemos um oráculo que nos dissesse qualquer coisa sobre o nosso destino, ou que pelo menos sorrisse diante de nós para significar que nossa vida será bela - Muitos pensam assim.
A verdade é que não suportamos o peso de uma mudança ou de uma dúvida, como pedras no meio do nosso caminho.
Mas venha cá, reflita comigo! Poderíamos sonhar e ter o saboroso gosto dos planos do viver com tanta certeza? Não. CERTEZA. Não gosto desta palavra. Ela me passa uma sensação de algo lacônico, mecânico e sem graça.
A vida pode parecer mais prazerosa quando acertamos em cheio, quando não erramos na medida. Mas como assim? Eu quero poder SONHAR e isto só é possível com um combustível vital: a atitude de se arriscar! E mais uma coisa, certeza pra mim não é um ponto final e sim uma sensação que mais parece a minha sombra, pois todos os dias está comigo e não precisa de provas para ser justificada.
É só isso.