quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Auto-Retrato














Perdidas nas folhas cáquis de três anos atrás, lembranças enfadonhas borbulham ilusões perdidas. Tal qual colarinho de chope, na superfície da taça ficaram os planos, mulheres e datas. Três anos dali, estaria bem longe daqui. Em um conjugado em Botafogo, vestindo um suéter no frio, comendo frango agridoce e esperando a hora da novela. Foi tudo gerúndio. O futuro falou errado. Falou "pobrema", "nós vemo" e "naicer". Pra alma de cá, o porvir escreveu tal qual Inácio escreveria uma autobiografia em francês. Tudo torto. É preciso tirar dois ou quatro dentes, ou vai apertar. Talvez, dente passe por cima d'outro. Vou abrir mão destes dois ou quatro. Quiçá, de todos. Quero o sorriso banguela das certezas no concreto, mais belo do que o sorriso amarelo das incertezas abstratas. Abstraí. Nas vielas da Lapa, sou dois ou três dias de esperança. No quarto, serei pregado na parede. Serei um quadro velho de quem poderia ser e não foi, uma visão turva de vinte anos atrás. Se o homícidio ortográfico permanecer em meus destinos, esperarei por uma definitiva reforma. No dentista, na aula de português ou no cemitério.

2 comentários:

ANA FONSECA disse...

achei esse uma graça, lucas! :)

Blog do Mario disse...

muito bom cara, genial !!