domingo, 6 de setembro de 2009
Macarrão de Mentira
Molho preto e agridoce encarna na pele da pobre vítima: vou te empolar todo durante a madrugada. Refluxo vai, refluxo vem, a verve gástrica do pobre macarrão de mentira põe as manguinhas de fora e faz pedir ajuda médica. Quero regurgitar minha janta improvisada. Instantâneo em três minutos, um dos maiores crimes cometidos contra a Hermenêutica, provoca gases gástricos e incita estranho desejo de me livrar do digestório. Chame o escrivão. É hora de pôr o velho testamento em prática. Batido em uma Olivetti por meu avô, é só trocar a data de nascimento. O nome do avô era o mesmo do neto: Gervásio Carneiro Carvalho, nascido em Santo Amaro da Purificação, Bahia. A vítima do miojo assassino, um jovem judoca de 18 anos que veio ao Rio de Janeiro tentar a sorte como professor de uma academia para crianças. Sem um puto no bolso, pois ganha vinte reais por aula ministrada - umas cinco por semana - divide um conjugado na Avenida Copacabana com mais três amigos - todos nortistas - e janta miojo todas as noites. Nesta, o pedido foi um yakissoba de mentira, embalado em um plástico preto e preparado em três ou quatro minutos no microondas da casa. Gervásio, conhecido pela alcunha de Carneirão junto aos colegas de república, quer cursar Serviço Social. Ouviu de um crupiê de cassino clandestino que quem cumpre esta graduação pode escolher entre o jornalismo e a publicidade. Versado nas letras do ensino fundamental, e pouco mais do que isso, o jovem baiano escreveu o próprio nome com "J" até os doze anos de idade. Santo Amaro, setenta quilômetros da capital e cidade de IDH medíocre, é retrato na parede tal qual Itabira para Drummond. Aqui, em Copacabana, Gervásio é apenas mais um entre os tantos que trabalham de dia para jantar pipoca, trabalham de noite para beber água da bica e dormem nas horas vagas. Sim, dormem. Só assim, e com a necessidade de manter um endereço fixo advinda de tal, os cobradores, concessionárias e a Receita Federal poderão mandar suas contas mensais. E mais vinte reais. Quer saber? O yakissoba de mentira ficou caro. Melhor trocar pelo cachorro do vizinho.
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2 comentários:
cara, eu já ia acreditando na história de tão perfeita que ela ficou !!
fica a lição...nunca coma nada que fique pronto em três minutos. Especialmente o Yakissoba pirata e aquele Maldito Cup Noodles.
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