domingo, 9 de maio de 2010
Como Num Traçado
Vejo tua alma exposta às carnes num painel de beijos dadivosos. Atirada à cova dos leões, brada aos céus contra a morte, a triste vida e a própria sorte a qual foi aprisionada ao nascer e ser posta ali. Era filha de maus pais, e muito mais, era filha de ninguém, era filha de um alguém que nunca soube lhe amar. Era Catarina a doce purga dos pecados por eles deixados muito antes dali, imersos na lama ressecada dos catadores de caranguejos. Catarina catou lixo, vendeu papelão e quinquilharia, pôs o burro no lombo e foi burro-sem-rabo. Amassou o diabo no pão e comeu tal sanduíche, escavou terrenos baldios, procurou a velha pedra verde do avô. Catarina foi mito e foi lenda, foi Afrodite nas terras brasileiras, foi peso e papel na pena dos que dela tiveram. E a tiveram. Muitas vezes, muitos homens a amaram. E não se acabrunharam. Catarina foi dó de todas as almas, envolta aos lençóis brancos dos motéis. De cheirosos, tais lençóis só têm o cheiro. Foi janela aberta no Palácio do Rei, mãos segurando o tampo da mesa enquanto os pés, bem branquinhos, escoravam-se em suas pontas. Menina perdeu-se solenemente na selva urbi, sem outras mãos ou beijos, dedos ou anéis que lhe emergissem. Banheiras de hidromassagem, cadeiras eróticas, saunas a vapor depois, Catarina foi princesa no mundo das noites: mariposa, pousou e posou muitas vezes para quem lhe viesse. É, Catarina... atire a primeira pedra!
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