sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Quem sabe a morte, angústia de quem vive...



























Lê, serena, a contracapa da dor eterna. Parágrafo morto, em prosa de bôto a encantar, sirena, o estraçalhar de ossos dos náufragos perdidos. O filho é do bôto. Dor de amor não tem mãe nem pai, é criação colaborativa. Grude nos seus caquinhos, durepox nos meus, juntamos juntinhos os pequenos flocos de eternidade que se espalharam pelo chão da velha praça - mais uma - enquanto buscávamos, solenes, o acalentar de um novo tempo. Defesas solenes, velhos bôtos, mortes-vivas. Mostro ao monstro, pequena, que minha dor é bem maior que meu pudor. Não cabe disfarçar nem negar a solidão, a dor eterna do fim de mundo ao qual o amor me condenou. Só sente doer quem pode amar. E vive, e sonha, e chora, e clama: espero o meu viver, espero o teu cantar. Não caí no conto, mesmo tonto, e pus no coração cada pedaço de aflição. Suicídio? Nada. Bom sofrer. Só ao morrer de amor se descobre a dimensão do ente amado. Em cada velho pedaço de vidro, um beijo, um decreto, um sonho bom. Juras de amor eterno. Pérfidas flores em forma de palavra, que enganam e praguejam a dor lancinante da reta de chegada. A saudade boa virá, como todas as outras. O sofrer que prende pés a bolas de ferro e mãos a velhas algemas, que amordaça os urros e os sussurros. As pequenas mortes de cada dia, as boas sortes e as boas horas. Os filhos que não tivemos. As saudades do que não vivemos. Em cada sorriso haverá o teu brilho, em cada voz a tua frase, terna e cálida: você é a minha vida. E ela hei de viver, morte em vida, vida após a morte ou o que o valha. Em único tomo de minha breve existência, em cada caco partido de nossa velha taça de cristal. Que assim seja, coração perdido. Leva a tua dona a ser o que sempre foi, a única alma que te fez bater.

Um comentário:

Isabela Farias disse...

"Bom sofrer. Só ao morrer de amor se descobre a dimensão do ente amado."
Destaque para a frase mais acalentadora de toda essa obra-de-arte. De coração ferido,sufocado,busco a preservação de tudo do meu viver, do nosso viver. Esquecer? Nunca. Como? Se é pelo amor que sinto que pulsa a vontade de continuar na luta da existência.
Calma, força,amor, paz. São os poucos elementos que peço para juntar os meus cacos.
Estou aqui, te amo, meu amor.