terça-feira, 25 de março de 2008
Chuva D'Outono
Tantas lamúrias, queixumes, rebarbas dos cheios-de-dedos pelas mortes insidiosas, dolosas, em prosa, dos sonhos alheios. Em verso há o verbo da criação. Somos verbo de nossos sonhos, e predicativo de nossos entes queridos. Somos almas entrelaçadas, mentes enluaradas que sonham com algo mais do que dois mil na conta bancária e o expremer do bolso no fim do mês. Somos cheios-de-dedos. E nos queixamos quando tudo dá errado para a gente e certo para os outros. Dedos cerrados! Figa com as mãos!
E cruzamos os dedinhos em nossas costas com medo de jurar a sorte do alheio, para o bem ou para o mal. Juro nunca jurar o perjúrio, pra nunca pedir a injúria. O caso da dengue nos lembra o quão entornado está o olho fechado pros absurdos que viram a esquina. Só nos indignamos com nossa casa, ou com o canteiro fétido das obras que a Prefeitura está fazendo na rede de esgoto da nossa rua. Nas filas de cada posto, gente que sentiu dor-de-cabeça e tomou aspirina pensando que era gripe. Gente da segunda dengue, pondo sangue pela boca e pelo nariz, sem saber bem se vai durar.
É triste a vida de quem não inveja os outros por não ter contas pra pagar, e que não é assaltada no topo do morro por ter segurança quase particular. Essa gente mal tem com o que viver. É hora de olhar com mais apuro pelas filas doídas do Miguel Couto, de gente que desce nos pontos dos ônibus e anda ao lado dos gritos dos cobradores das vans. Gente que vive, e que não quer morrer.
Pede-se, a tempo, o fim do mosquito. Mosquito zebrado, "pêíbê", malhado. Que vê tornozelos e peitos de pés... Batatas-da-perna, canelas e coxas. E a testa do Nelson Ned. Seriedade com o mosquito e com seu alimento. O sangue do outro não é brincadeira. Abaixo às mortes por incompetência e às vidas de inapetência. Abaixo à repetência da insanidade pública. Que todos se olhem, se fiscalizem e se salvem.
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Um comentário:
O aedes está conseguindo socializar a população carioca, todos sem exceção sofrem com sua picadura.
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