quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Carmen, Branco, Preto.
Minha avó costumava contar sobre as ocasiões em que, acompanhada pelas amiguinhas, ia bater à porta da casa da família de Carmen Miranda, na Urca, Zona Sul do Rio de Janeiro, atrás de um autógrafo ou um pouco de atenção da estrela. Todas as vezes em que iam até lá, eram atendidas com um carinho incompatível com os tempos atuais, onde astros cultivam o mau-humor como uma paradoxal tática de marketing. Em todas as ocasiões, eram servidos copos de Coca-Cola às meninas, que sempre voltavam com fotos autografadas nas mãos e boas histórias para contar. E que, certo estou, contaram pelo resto das vidas. Não havia como reagir de outra forma a tal carisma. O magnetismo da "pequena" - não só pela estatura, mas pela menina que jamais deixou de ser - arrebatou em um planeta inteiro as vontades e comentários de todos os que tivessem o mínimo acesso à Sétima Arte. Não havia uma sala de cinema que nunca houvesse exibido uma de suas "Rositas", estereótipos de mulher latina forte e turrona, em contraponto com a mulher norte-americana, ainda submissa em um modelo notadamente patriarcal. Esta não é a questão. A Carmen de Holywood, largamente explorada pela Indústria Cultural antes e depois da morte da atriz, era a amplificação de uma personalidade por si só encantadora e entusiástica. E falo como crítico, dos que não apreciam a maior parte do repertório de Carmen, não a consideram a melhor voz de seu tempo e tampouco costumam assistir aos seus filmes. Falo como um apaixonado pela mulher Carmen Miranda. Pela brasileira Carmen Miranda. Pela filha Carmen Miranda. Um exemplo de amabilidade para qualquer ser-humano. É a esta Carmen, em branco-e-preto, versão em minueto da Carmen multicolorida do Technicolor, que eu presto as minhas eternas homenagens. À Ditadora Risonha do Samba, mais cem anos de aplausos!
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Assalto ao Tempo
O passar de novo ao doze me causou surpresa:
Como pode o tempo nos driblar com tal destreza?
Como pode o assento nos tomar com tamanha agilidade?
E eu respondo que esperar o tempo é pura imbecilidade
O tempo está aí, desde que o mundo é mundo
A espera de um passatempo propício e fecundo
A espera de um perder tempo por qualquer lugar
A espera de uma boa intenção para tirar o lugar
Esse é o tempo, o maior fura-fila que há
Que só quer do cinema o melhor lugar
Que só quer da arquibancada o melhor lugar
Que só quer no ônibus o melhor lugar...
Sempre que queremos o melhor, vem o tempo e nos leva
Enfrenta a nossa ineficiência e enseja
Um jeito de fazer o fim da fila perdurar
Pode o tempo por minuto perdoar?
Vejo que o tempo só é bom para a criança
Quando passa um dia em cinco, um mês em ano
Dá tamanho de gigante a um pequeno desengano
Dá espaço de elefante a qualquer trapo, qualquer pano
Vêm os doze, treze anos...
E o tempo então começa a nos enfrentar
De espada na mão, de escudo na outra
Há qualquer jeito de nosso maior inimigo enfrentar?
Somos todos Dom Quixotes de nossa própria finitude
Na eterna espera de um algo a mais depois do fim
Como as raspas do pote de sorvete, como as lascas da barra de chocolate
Somos sempre espera pelo o que o tempo não levou
E pode vir mais tempo que eu agüento
E se vierem mais cem anos, eu enfrento
Enfrento o fim, enfrento o sim, enfrento o certo
Pois o tempo é soturno e ágil, discreto e esperto
Não há bote que nos bote no eterno
Só há perto que nos traga do concreto
Só há jeito de nos vermos mais além
E pode o tempo perdoar também?
O tempo perdoa aos que o ignoram
Aos que vivem cem anos como um bloco só
Aos que desafiam todo o tempo todo nó:
Fazem o tempo mais a frente virar pó
Como pode o tempo nos driblar com tal destreza?
Como pode o assento nos tomar com tamanha agilidade?
E eu respondo que esperar o tempo é pura imbecilidade
O tempo está aí, desde que o mundo é mundo
A espera de um passatempo propício e fecundo
A espera de um perder tempo por qualquer lugar
A espera de uma boa intenção para tirar o lugar
Esse é o tempo, o maior fura-fila que há
Que só quer do cinema o melhor lugar
Que só quer da arquibancada o melhor lugar
Que só quer no ônibus o melhor lugar...
Sempre que queremos o melhor, vem o tempo e nos leva
Enfrenta a nossa ineficiência e enseja
Um jeito de fazer o fim da fila perdurar
Pode o tempo por minuto perdoar?
Vejo que o tempo só é bom para a criança
Quando passa um dia em cinco, um mês em ano
Dá tamanho de gigante a um pequeno desengano
Dá espaço de elefante a qualquer trapo, qualquer pano
Vêm os doze, treze anos...
E o tempo então começa a nos enfrentar
De espada na mão, de escudo na outra
Há qualquer jeito de nosso maior inimigo enfrentar?
Somos todos Dom Quixotes de nossa própria finitude
Na eterna espera de um algo a mais depois do fim
Como as raspas do pote de sorvete, como as lascas da barra de chocolate
Somos sempre espera pelo o que o tempo não levou
E pode vir mais tempo que eu agüento
E se vierem mais cem anos, eu enfrento
Enfrento o fim, enfrento o sim, enfrento o certo
Pois o tempo é soturno e ágil, discreto e esperto
Não há bote que nos bote no eterno
Só há perto que nos traga do concreto
Só há jeito de nos vermos mais além
E pode o tempo perdoar também?
O tempo perdoa aos que o ignoram
Aos que vivem cem anos como um bloco só
Aos que desafiam todo o tempo todo nó:
Fazem o tempo mais a frente virar pó
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Amor Químico
Agora, o outro lado da moeda: como encontrar o outro lado em trajetórias tão distintas? Pois, afirmo que o outro lado está bem aqui a meu lado. Do outro lado da linha, do outro lado do monitor, do outro lado da cidade, do outro lado da década de oitenta, do outro lado da estrada e do outro lado do sonho. Do outro lado o tempo todo, enquanto o tempo todo ao meu lado está. Meu lado... meu lado... melado! meloso! melindroso! É com rubor que admito nunca ter me ladeado de forma tão constante e tão íntima a alguém. Do outro lado do túnel há a certeza absoluta de que vinte e poucos centímetros de altura, meia hora de carro e quase mil dias a mais são muito pouco distantes para mais de quinhentos dias do mesmo grude. E é grude daqueles que os sapateiros antigos usavam, que nada faz soltar. É reação química de efeito conhecido por poucos e reconhecidos por todos os que observam tão estranha ação. É o eterno entrando em ação. É o que nunca espero, pois sempre está ao meu lado. É o certo. É o perto. É a espontaneidade de um só coração.
Humor Ácido
Ácido, Irônico, Mordaz, Sacana, Nefasto, Nefando, Marcando à navalha. Tácito, Máximo, Sérvulo Servil. Alcalino. Básico ao afirmar que a essência do personal é o tônus da moralidade. Debochada moralidade! Moral que ri dos imorais, que aponta aos que pisam fora da amarelinha, que gargalha como hiena dos fúteis e dos covardes. Encaro a acidez de meus comentários com um doce azedume: riso fiel a meus amigos, riso febril a meus amores, riso fabril, quase brejeiro, para meus inimigos. Sorriso de metal enferrujado, pronto para infestar de tétano alguém. Porém, aos meus, o gesto é gentil e sincero: o riso ácido dos comentários sacanas sobre os pontos positivos e os doces lamentos sobre os defeitos e tropeços. Quer saber? Em muitos momentos, prefiro ser um bom anti-ácido. Destes que respondem à própria acidez com a doçura advinda da lucidez.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Bahiano, O Primeiro Cantor do Brasil
Todos sabem que "Pelo Telefone" foi o primeiro samba a ser gravado no Brasil. Porém, alguém aí sabe quem foi Manuel Pedro dos Santos? Nascido em 1887 na pequena Santo Amaro da Purificação, no interior da Bahia, ele foi o primeiro cantor de disco do Brasil. Mais de noventa anos depois de gravar "Pelo Telefon", o artista conhecido como Bahiano foi completamente esquecido pelo grande público, e até mesmo por muitos pesquisadores da história da MPB. Vamos relembrar então dois momentos interessantes da carreira deste pioneiro da música popular: Em 1917, Bahiano gravou o samba "Pelo Telefone", do compositor Donga. Na verdade, não foi o primeiro samba a ser composto, e sim um dos primeiros a aparecerem em um disco assumindo este então novo ritmo. E, Bahiano, acompanhado pela orquestra da Casa Edison do Rio de Janeiro, cantou assim o primeiro samba:
"O Chefe da Folia pelo telefone manda me avisar...
Que lá na Cinelândia tem uma roleta para se jogar..."
Não foram necessárias tantas décadas para que o nosso pioneiro caísse no esquecimento. Ainda no início do século passado, Bahiano se queixava do pouco valor que lhe davam, mas agradecia aos tostões pagos pela gravadora, que lhe traziam alguma renda à sua carreira semi-profissional. Durante a gravação da auto-biográfica "Quem eu sou?", o cantor confidencia que sente a hora da morte cada vez mais próxima, mas comemora ter uma carreira de tantos anos. Seria a canção-bisavó de "Força Estranha"?
Com mais de duzentas músicas gravadas em mais de uma centena de discos, Bahiano foi um dos principais cantores do Brasil até meados dos anos vinte. Superado por artistas de maior potência vocal, como Francisco Alves e Vicente Celestino, ele caiu na poeira do esquecimento até os dias de hoje. Nem na morte, no já longínqüo ano de 1944, mereceu mais do que algumas notas de jornais. Mas aqui, Bahiano será sempre lembrado como a primeira voz brasileira a fazer sucesso nas gravadoras.
"O Chefe da Folia pelo telefone manda me avisar...
Que lá na Cinelândia tem uma roleta para se jogar..."
Não foram necessárias tantas décadas para que o nosso pioneiro caísse no esquecimento. Ainda no início do século passado, Bahiano se queixava do pouco valor que lhe davam, mas agradecia aos tostões pagos pela gravadora, que lhe traziam alguma renda à sua carreira semi-profissional. Durante a gravação da auto-biográfica "Quem eu sou?", o cantor confidencia que sente a hora da morte cada vez mais próxima, mas comemora ter uma carreira de tantos anos. Seria a canção-bisavó de "Força Estranha"?
Com mais de duzentas músicas gravadas em mais de uma centena de discos, Bahiano foi um dos principais cantores do Brasil até meados dos anos vinte. Superado por artistas de maior potência vocal, como Francisco Alves e Vicente Celestino, ele caiu na poeira do esquecimento até os dias de hoje. Nem na morte, no já longínqüo ano de 1944, mereceu mais do que algumas notas de jornais. Mas aqui, Bahiano será sempre lembrado como a primeira voz brasileira a fazer sucesso nas gravadoras.
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