quinta-feira, 26 de março de 2009
Com A Menor Beca Possível
Pelas ruas do Leblon às oito e quinze, ignorando sinais fechados, entrando nas ruas erradas, pisca-alerta para ultrapassar. Ultrapasso os limites do tempo nos trinta ou quarenta minutos que passei por ali, a espera do caminho certo para estacionar. Ano e pouco atrás, era a areia, a água salgada e os fogos lá em cima. Barulhentos, amedrontadores. Ela toda hora se assustava. Sobre a velha canga, juras de que aquele seria apenas o primeiro. E que só nós ultrapassaríamos o tempo. Por centenas de noites, a mesma despedida, pontual às oito e meia, mesma hora em que agora perpassava o triângulo Gávea-Lagoa-Leblon, ainda atrás de uma vaga. Lembro-me de que os sapatos estão um pouco empoeirados, e que talvez alguém repare. A camisa, sportish, é verde quadriculada. Cafonérrima, diria Clodovil. No som do carro, algo de Sinatra e de Nat, a trilha desde os dez de idade das noites pela Lagoa e pelos pontos bonitos da Zona Sul, onde sempre viveu e nunca de fato conheceu. Estas noites não são dele. Hoje, a noite é de quem a desdenhou. De quem a tratou como fato consumado, compromisso cumprido e contrato findo. A quem ria docemente de tudo, com a menor beca do Mundo, eram dados todos os vivas da festividade. E por onde passava, só ouvia os parabéns de quem aplaudia o companheirismo de quem nunca esteve só. É ela, que aperta a mão dele com apreensão e incerteza, a dona da mesa. Que tira a beca na frente do povo, que segue rindo para todos os vértices daquele salão. É ela a menorzinha, cheia de medos e preocupações menores. Afinal, a maior preocupação não nasceu aqui. Construir algo que siga incólume às esquinas do tempo foi decisão tomada ali na praia, que de tão barulhenta ninguém pôde ouvir: tratar para sempre a mesma pessoa por "meu amor".
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