segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Preservativo

Ingresso de um show do Belchior em 1986. Entrada para um América x São Paulo do mesmo ano, Maracanã. Fitas de vídeo mofadas, nas quais só um fino rastro de imagens pontilhadas pode ser visto. Uma lata verde antiga de refrigerante, que encontrei certa vez durante uma escavação no quintal do meu avô. As revistas de mulher da minha avó. Corte e costura, prendas e dotes. No que é velho dou os botes. Vivo de colecionar quinquilharias, pedaços de papel, metal e pano daqui e dali. Nos últimos tempos, aderi à moda retrô dos clubes de futebol. Comprei todas. A mais bonita é a do Olaria campeão da Taça de Bronze de 1981. É a camisa 10 do craque Revélis, o "Anjo da Bariri". Vivo de abocanhar inutilidades. Porém, é com amor que assumo a posse de um mimo raro: uma película partida de reportagem da TV Continental, extinta no início dos anos 60. Deve ser a única no Brasil. Coleciono besteiras. Vivo das películas partidas, das camisas do Olaria e das latas enterradas por um cão qualquer. Coleciono borboletas mortas em 1880, jornais rasgados dos anos 40 e livros proibidos do século XVIII. Talvez um bom soneto do Bocage. Gosto das pedras quentes das saunas e de seu cheiro característico. Talvez, só elas, as pedras, me lembrem do presente. Logo as pedras! Tão antigas em sua imobilidade! Cada partícula é irmã mais velha de todas as invenções do mundo! Vivo agora de colecionar pedras. Afinal, antigas por antigas, são elas campeãs. Século que vem, eu prometo! Colecionarei as águas profundas dos oceanos com seus peixes grotescos e luminosos. Quem sabe eu monte um aquário de inutilidades, voltado especialmente para a preservação da memória animal. Será o Museu da Memória Animal. Ali, as tartarugas e papagaios oferecerão depoimentos de valor inquestionável. Que se tombem as pedras, as águas velhas e as tartarugas! Presevação do patrimônio natural já!

2 comentários:

Leandro SC - Estácio 2008 disse...

Não são besteiras os objetos antigos que colecionamos, para mim, são parte de nossos trabalhos, no meu caso, em particular, vivo pesquisando sobre antiguidades e meus personagens criados por mim no futebol e no jornalismo tem que ter conhecimento sobre história e o passado glorioso dos temas que trabalho não podem ser chamados de besteiras e sim de orgulho e satisfação que confesso ser saudosista, principalmente saudosista dos anos 80 e 90 de um programa jornalístico de uma emissora carioca que vai ao ar aos domingos á noite, principalmente dos anos que eu tinha medo de assistir este programa, perdi o medo em 1994, depois explico mais sobre isso.

Pedro Beja disse...

Olá. Sou um "blogueiro" sonhador e incansável a procura de um texto bom. Ababei conhecendo seu blog por uma amiga. Achei interessante o título já.
Rascunho textos sobre diversos assuntos. Gostaria que você desse uma olhada no meu blog, até porque a sua profissão será a minha mais tarde.
Dê dicas e comente.
pedrobeja.blogspot.com