segunda-feira, 20 de abril de 2009

O Susto Assusto

Pérfidas rotinas são as que reservam uma boa dose de parati em pleno café-da-manhã. A embriaguez matinal das trágicas lembranças faz da sebosa missão de aguardar um momento melhor uma espera interminável. É nestes aguardos que descobrimos o quão são importantes as boas companhias nos pontos de ônibus, filas do banco ou do cinema. O exercício perspicaz e lúcido da paciência traz um importante método de observação de nosso próprio cotidiano, como forma de construir alternativas mais eficazes e elaboradas, tornando assim cada espera um ato de proveitoso ócio criativo. É aí que me assusto com a necessidade de, o tempo todo, buscar mil possibilidades simultaneamente. A cada dia, nossas mentes funcionam como processadores. E, os informáticos sabem, processadores dobram de capacidade a cada seis meses. Assim como a tecnologia do processamento de dados atingiu o ápice da velocidade da transferência de informações, nossos corpos, mentes e almas já não mais podem suportar o peso hercúleo das obrigações pós-modernas. A embriaguez está aí. O torpor causado pela incessante demanda de compromissos colabora para a desconstrução do pensamento cotidiano, uma vez que o cotidiano inexiste com a necessidade de se agir diferente a cada segundo. Não há mais rotina. Quando pensamos de forma egocêntrica no ato alpinista de ser pós-moderno, estamos assinando o nosso atestado de liqüidez e efemeridade. Que não sejamos sempre seres embriagados. Um dia, a necessidade de viver em consonância com nossos princípios fará desnecessário o uso de máscaras e outros falseamentos. Neste dia, meus amigos, seremos devemos ser: nós por todo o tempo.

2 comentários:

Blog do Mario disse...

Durante séculos o homem pensou e projetou maneiras de facilitar o seu bem estar e das gerações futuras. Só que o problema foi que, os mesmos que pensaram e planejaram o futuro, esqueceram de pensar neles mesmos...

Unknown disse...

A faceta do ditado:"Viva cada dia como se fosse o último" é dúbia.
Nós, homens pós-modernos, desta vida esquizofrênica na qual vivemos diríamos:"Preciso fazer isso, resolver aquilo....ir acolá rapidamente".
Mal sabemos que se esta sentença fosse o nosso ultimato, deveríamos andar a passos de tartaruga.

te amo