sexta-feira, 24 de abril de 2009

Sobre A Libertação

O português que por aqui aportou imaginava como mulher ideal a mourisca beleza das árabes, que por tantos anos dominaram as terras lusitanas e, por outros mais, travaram inúmeras batalhas contra a coroa portuguesa. Talvez venha daí a predileção brasileira pelas negras e morenas. As relações extra-conjugais subjugavam as normas matrimoniais da sagrada família de Lisboa quando esta se transpôs às terras tropicais do Rio de Janeiro, Salvador ou das Gerais. Deve ter sido o calor. O ardor das peles suadas e tostadas trouxe fervor pela alma feminina como o europeu jamais vivenciara. E o português descobriu que gostava de mulher. Por aqui, elas sempre tiveram papel muito mais importante do que em outras colônias. Levaram famílias no braço quando seus maridos, mortos de guerras ou de sonhos, não voltaram para casa. Foram prostitutas, militares travestidas de homens, imperatrizes, baronesas, amazias, cantoras, atrizes de rebolado, rainhas, princesas, infantas, herdeiras da fé e da dor de suas mães, que peregrinavam de véus negros pelas missas de domingo. As brasileiras, desde as origens, exibiram a predestinação para a ruptura. Se não lhes eram dadas as letras, tomavam a palavra e discursavam com o pouco que sabiam. Se as poucas letras não lhes bastavam, se tornaram protagonistas da luta pela universalização do acesso à alfabetização, ao entrarem em sala de aula como as nossas... professoras. Se lhes faltavam outras línguas, conviviam nas pensões e cortiços com as francesas fugidas de guerras e revoluções que aqui ganhavam a vida com diversões baratas como o canto, a dança e o sexo. Dividiam os varais também com as suas mães e avós portuguesas de tamancas, que em nada entendiam do apreço que nós, brasileiros, sempre tivemos pelo sexo oposto. Ah, as mulheres! Intrépidas e caudalosas, sempre curiosas, a sorrir por aí das conversas alheias. E tapam suas bocas com mãos, sorrindo com cuidado e atenção. Libertai-vos das amarras dos que jamais entenderam o seu papel de desnormatizar as normas. Afinal, regras para mulheres caíram muitas e outras cairão. Apenas o sorriso faceiro e dissimulado de todas elas permancerá impassível às mudanças trazidas pela pós-modernidade.

2 comentários:

Isabela Farias disse...

Acho que este texto partiu de uma "aula" que este que lhes escreve me deu um dia destes em minha casa. Ele discursou duas horas....um prodígio!!
O sopror para o nascimento deste texto foi a mistura desta "aula" com a sua experiência com as nossas futuras professoras brasileiras. Que estas encontrem o desenlace da liberdade para a produtividade da escolaridade e o ensino deste nosso Brasil.

beijos

Cah Rosa disse...

só estando apaixonada pra aguentar esse menino falando horas e horas...
o pássaro só voa longe quando sabe onde ir, espero que essas futuras educadoras estejam sendo bem preparadas.