sábado, 12 de novembro de 2011

Graf Zeppelin


A força desvairada do devaneio pula no encalço da saltadora faminta. Espalha por aí, entrementes, que o surdo é marcação de seus passos não cumpridos. É canto de morte no uníssono do atabaque fúnebre, etéreo, que realça em sua voz o que é sem ter sido e o que nunca foi, mesmo quando o foi. Vê, embriagado de paixão, as doces retinas por trás do cristal e apronta, para ontem, dois ou três versos de amor para quem não sabe que existe. Ela é musa sem saber.

Todos os dias, escova a relva negra com a pressa dos imperfeitos e o pranto dos destemidos. Prepara o café. Lê, aflita, as dores que passou e ressoa, impune, o que sempre quis ser. Ela é a voz na imensidão. A palavra, o cavalo alado, a armadura. A boina cubana. A unidade.Pensa no mundo, na dor dos outros e no almoço das crianças. Faz treino-apronto.

Ouve, só, na neve d'alma que o vazio do inanimado é pura conversa para boi dormir. E entulha paixões, deserta nomes e os esquece, solene, na névoa infame dos que se perderam. A musa nem viu, nem se encontrou. Longe do clamor que seu nome causa por aí, mal sabe a nereida do torpor que faz trazer e da saudade, mandada, que aperta a aorta do poeta e faz a solidão palpitar. Trôpego pelas vielas dos que não têm, o equilibrista sufoca de sonho a palavra viva que aponta no dicionário e o faz assumir seu desejo maior, tão insolente quanto puro, de sentir-lhe rasgarem a alma e lhe observarem o avesso.

Pela eternidade, e mesmo quando não estava, o pierrô atravessou a rua sozinho. Interno de seus próprios anseios, sevicia-se no flagelo que é procurar a mão amada, não conseguir lhe mostrar o que representa e pedir pelos cantos um segundo de sua voz de framboesa. Que marche o pobre soldado, cabeça de papel, e que a musa ouça com a alma quem motiva as suas letras.

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