segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A pele em que habito


Lápides diversas, espalhadas por ilustres mausoléus, descrevem, funestas, as dores pérfidas das vozes que se foram. Gargalhadas na ceia de natal, enterro dos ossos, faca a destrinchar um tender embebido em óleo. Meio guardanapo. Quatro mãos se foram.

É o fim. Desprovidos de sofreguidão, correram mundo em busca de sossego. E desapego. E passaram-se tardes, noites e manhãs - especialmente as tardes, hoje solitárias nas salas de cinema - sem que dessem conta de que foi melhor assim. E se livraram de uma boa! Desolados, foram voz e vez nas madrugadas, monólogas madrugadas, nas maratonas ciclotímicas do sofrer e da saudade, embevecidos pelos beijos de outrora, pelas juras que se foram, as verdades vãs e as mentiras, estas bem verdadeiras, que ouviram e têm de ouvir até hoje.

Mesma voz, vê bem: de hoje em diante, cada verso terá um código de barras. Exprimirá, junto às letras, seus sabores e sofreres. Correrá pelas calçadas chuvosas, ouvirá muitas festas de criança, falará pelos cotovelos. E também pelos joelhos, cabelos e nossos dentes de mentira. Que não quebrarão! não há milho que os façam quebrar. E não partiremos. Veremos por aí, nas casas abandonadas e nas preces mal-contadas, cada floco de falta imensa e de desabafo. E quantas frases diremos? todas! E só uma. Ao fim das contas, só uma interessa.

Vide a bula, afirmo e dou nome aos bois. A surpresa da vida é acertar no milhar. Em vistas ao sonho, revisito o que sempre fui e jamais deixei de ser. O último. E, sempre do fim da fila, observo consciente que a entrega nunca é demais, ainda que num púbere sorriso. Que ouça a voz e sinta a palavra, hoje e sempre.

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