Não comi o sofrimento de colherada ao nascer
E nem colhi suas vestes, negras de luto e pavor
Fui amamentado com os dotes da segurança e da persistência
De quem esperou sem saber se chegaria
O encontrei, pela primeira vez, em uma carta sem resposta
Rabiscada em caneta roxa numa folha pautada
E tive a dor martelada com seus espinhos nas palmas das mãos
Encravada, tão vizinha e soberana
Vivi interregnos de felicidade, tréguas comigo mesmo
Tempos de ardor e amor, eras de sobrepeso
Onde carregava a delícia e o fardo de querer tanto
De quem arrisca as pedras na sorte da roleta
Destronado, fui poeta e pintor, saltimbanco e boxer
A questionar onde deixei cair minhas preces
Encantado com a morte perfeita que a vida reservara
Ao lado de quem amava, tantos anos, tantas caras!
Hoje, sou todo lembrança e coração, amarrado na cama
A bater teclas e espiar livros, na esperança vã do tempo passar
Gostaria de dormir hoje e acordar velho
Mas sei que, amanhã, vou gostar de ver o tempo chegar
Minha alma está morrendo comigo vivo, em chamas
Mas não peço ao amigo sofrimento sua dose errada
Quero me recompor, ressarcir o meu amor por mim mesmo
E perseguir, feito doido, a plena felicidade que nunca virá
domingo, 16 de agosto de 2015
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
A Cruz
A dor de cada peito é medida por uma balança muito pessoal. Meticulosa como a granulagem de um papel-cartão, a dor e a delícia de viver, com suas nuances de efemeridades e pequenas promessas de eternidades só pode ser mensurada, de fato, por quem fez e ficou pra contar. Tenho, com meus amigos, a experiência-irmã de dividir perdas e ganhos que se sucedem, como pesos em uma balança, no decorrer de anos e anos, mudando-se apenas os nomes dos personagens relatados. Por sorte, embebido em amor e cuidado, posso contar o meu lado e ouvir o perdão, em nome da humanidade, daqueles que compreendem meus tropeços. Eles são meu verdadeiro apreço.
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
A Dama de Ferro
Acordei e percebi minha alma torta
E teu retrato na parede, redivivo
Ajeitei a alma e acarinhei a película que te protege
Em um ato prolongado e massivo, quase herege
E me pus a vasculhar suas lembranças, te procurar nos escaninhos
Tão sozinho que a saudade já nem cabe
Pus sapatos que me apertaram, paletós que me folgaram
E me sinto até agora sem tamanho, como se algo quisesse explodir em meu peito
Me faltam palavras, rimas e verbos, estou com defeito.
Espero, então, pelos milagres de uma não-concretude
Que vê beleza nos erros e dissimulado perfeccionismo nos acertos
Pois nessa falsa dicotomia entre o preto e o branco, sou teu tom cinza
Regresso ao tempo em que éramos suspeição
Flores de plástico, chegadas e partidas apressadas
Desconfiados pelas dores, nos entregamos ao que havia de ser
E redescobrimos, juntos, os prazeres do ter
Desfizemos passos conjuntos de uma firmeza tremenda
E reunimos os nossos, pés grandes, em um caminhar infinito
Com olhos postos no horizonte, num olhar tranquilo e perdido
De quem sabe o que quer, mas não como virá
Te dei minhas mãos, meu pensamento e meu futuro
Mas hoje, calado, é que te dou em dobro:
Sem ter poesia em minha vida nem para criar uma rima, não consigo traduzir
Em mim, só a emoção e a saudade, emudecidas, versejam
Estou abarrotado de amor
E teu retrato na parede, redivivo
Ajeitei a alma e acarinhei a película que te protege
Em um ato prolongado e massivo, quase herege
E me pus a vasculhar suas lembranças, te procurar nos escaninhos
Tão sozinho que a saudade já nem cabe
Pus sapatos que me apertaram, paletós que me folgaram
E me sinto até agora sem tamanho, como se algo quisesse explodir em meu peito
Me faltam palavras, rimas e verbos, estou com defeito.
Espero, então, pelos milagres de uma não-concretude
Que vê beleza nos erros e dissimulado perfeccionismo nos acertos
Pois nessa falsa dicotomia entre o preto e o branco, sou teu tom cinza
Regresso ao tempo em que éramos suspeição
Flores de plástico, chegadas e partidas apressadas
Desconfiados pelas dores, nos entregamos ao que havia de ser
E redescobrimos, juntos, os prazeres do ter
Desfizemos passos conjuntos de uma firmeza tremenda
E reunimos os nossos, pés grandes, em um caminhar infinito
Com olhos postos no horizonte, num olhar tranquilo e perdido
De quem sabe o que quer, mas não como virá
Te dei minhas mãos, meu pensamento e meu futuro
Mas hoje, calado, é que te dou em dobro:
Sem ter poesia em minha vida nem para criar uma rima, não consigo traduzir
Em mim, só a emoção e a saudade, emudecidas, versejam
Estou abarrotado de amor
terça-feira, 11 de agosto de 2015
Fogueira
Na noite quente de agosto, o breu transbordou
E fez enxergar, sem nada ver, o lume da alma
Dois palmos a frente, a alegria e a calma
Quatro palmos do chão, o sorver da serpente
Há curare em cada medo, em cada passo atrás
E a cura das sofreguidões do temor está no fato.
No espalhafato das virtudes e paixões, no ato
Em cada verso teu que, esguio, explano e cato
No par de velas à mesa branca, vi bailar os teus sinais
E me entreguei, em parafina, às brasas e metais
Aço de vontade e destemor, cera derretida de meus medos
Já não faço mais segredos, e juro em prosa aos seus iguais
No apagar das luzes, vi minha alma em carne viva
E abrasei, inteiro, meu couro e meu coração
A lesma, no conforto do caracol, não vê o sol
É momento de ascender a ele e acender meu cais:
Meu porto seguro, meu fogo-fátuo no escuro
E fez enxergar, sem nada ver, o lume da alma
Dois palmos a frente, a alegria e a calma
Quatro palmos do chão, o sorver da serpente
Há curare em cada medo, em cada passo atrás
E a cura das sofreguidões do temor está no fato.
No espalhafato das virtudes e paixões, no ato
Em cada verso teu que, esguio, explano e cato
No par de velas à mesa branca, vi bailar os teus sinais
E me entreguei, em parafina, às brasas e metais
Aço de vontade e destemor, cera derretida de meus medos
Já não faço mais segredos, e juro em prosa aos seus iguais
No apagar das luzes, vi minha alma em carne viva
E abrasei, inteiro, meu couro e meu coração
A lesma, no conforto do caracol, não vê o sol
É momento de ascender a ele e acender meu cais:
Meu porto seguro, meu fogo-fátuo no escuro
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
Eletric chair
Os sulcos na pele antiga traduzem tantas perdas...
E explodem, convulsos, a desembaralhar dores recentes
O velho, sorridente, expunha humildade e ardor
De quem sente o peito arder de angústia e amor
De mãos ao volante, se pôs ao rosário
E enumerou quem se foi e quem ainda ficou
Na carona, meio século atrás, a sorte de quem não tem
De quem não se prendeu e ainda não fez
Pois sorte, ambígua como humor, tem cara e coroa
E faz ouvir os dramas de quem vive e morre um pouco a cada dia
Não se recusa cavalo encilhado. Não se nega um beijo ardente.
Nas flores que brotam no âmago, sobrevive uma estrela cadente.
Todos caminhamos, feito horda, ao mesmo destino
E embalamos, na pele que esfria, tudo o que fomos e tivemos
Quero ter o amanhã bem hoje, pois temo seu poente
Para poder desfolhar meu buquê de perdas e ganhos...
E quero uma coleção bem composta, um amor sem tamanho
Que reúna em minhas mãos tudo o que mais quero:
Três caras de criança, um rosto redondo e outro afilado
Ter o que perder, o que viver, a quem sonhar ao meu lado
E explodem, convulsos, a desembaralhar dores recentes
O velho, sorridente, expunha humildade e ardor
De quem sente o peito arder de angústia e amor
De mãos ao volante, se pôs ao rosário
E enumerou quem se foi e quem ainda ficou
Na carona, meio século atrás, a sorte de quem não tem
De quem não se prendeu e ainda não fez
Pois sorte, ambígua como humor, tem cara e coroa
E faz ouvir os dramas de quem vive e morre um pouco a cada dia
Não se recusa cavalo encilhado. Não se nega um beijo ardente.
Nas flores que brotam no âmago, sobrevive uma estrela cadente.
Todos caminhamos, feito horda, ao mesmo destino
E embalamos, na pele que esfria, tudo o que fomos e tivemos
Quero ter o amanhã bem hoje, pois temo seu poente
Para poder desfolhar meu buquê de perdas e ganhos...
E quero uma coleção bem composta, um amor sem tamanho
Que reúna em minhas mãos tudo o que mais quero:
Três caras de criança, um rosto redondo e outro afilado
Ter o que perder, o que viver, a quem sonhar ao meu lado
domingo, 9 de agosto de 2015
Garrote vil
Há ilusões, nereidas, no fundo do mar
De uma tarde ensolarada, da brisa que vem
E escurece, soturna, ossos alquebrados
Para logo o vento virar, mudando com ele o destino
Um dia abracei o mundo, menino, e fiz dele temporal
Dilúvio de ideias e propósitos que me insuflavam
Delírios de palavras e reinos, sonhos sem igual
Alcovas e caminhos, cores e vinhos cheirosos
E tantos versos garbosos, tantas juras de amor
Tantas declarações e serenatas sem cor
Tantos propósitos óbvios e promessas a juros
Tantas vezes o teu nome, o teu perfume e a tua voz
Que quando pus a pensar em nós, o fiz solenemente
Abarrotado de proposições, ao somar concretudes
E fiz de uma vida de esquadros, teus dotes e curvas
Para te imprimir, com teu jeito, em minha carne e meu espírito
Acordado, penso aqui em acolá
E quando deito o travesseiro, sou razão de mim mesmo
De quem alvorece e quebra firme o riscado do chão
De quem anoitece e espanta mosquitos, vagalumes e incertezas
E lavo com a altivez de um trovão, suas roupas sujas de um dia
Como quem esfrega na própria alma a refrega de outrora
E marco, com a mansidão de um sol poente, tua fronte
E o que nela há e me guia, me vira a cabeça e me faz levantar
De uma tarde ensolarada, da brisa que vem
E escurece, soturna, ossos alquebrados
Para logo o vento virar, mudando com ele o destino
Um dia abracei o mundo, menino, e fiz dele temporal
Dilúvio de ideias e propósitos que me insuflavam
Delírios de palavras e reinos, sonhos sem igual
Alcovas e caminhos, cores e vinhos cheirosos
E tantos versos garbosos, tantas juras de amor
Tantas declarações e serenatas sem cor
Tantos propósitos óbvios e promessas a juros
Tantas vezes o teu nome, o teu perfume e a tua voz
Que quando pus a pensar em nós, o fiz solenemente
Abarrotado de proposições, ao somar concretudes
E fiz de uma vida de esquadros, teus dotes e curvas
Para te imprimir, com teu jeito, em minha carne e meu espírito
Acordado, penso aqui em acolá
E quando deito o travesseiro, sou razão de mim mesmo
De quem alvorece e quebra firme o riscado do chão
De quem anoitece e espanta mosquitos, vagalumes e incertezas
E lavo com a altivez de um trovão, suas roupas sujas de um dia
Como quem esfrega na própria alma a refrega de outrora
E marco, com a mansidão de um sol poente, tua fronte
E o que nela há e me guia, me vira a cabeça e me faz levantar
sexta-feira, 7 de agosto de 2015
Guilhotina
A caixa de pandora dos amores profundos apavora
E esgota, exaure a alma que espera a dose
Sua pitada de eternidade é a pétala de rosa
Que murcha, desbota e morre
Suas preces, mãos postas, são encostas de um grande morro
De um outeiro de barro de inquietudes e devastações
Todas as dores do mundo dele desaguam, irriquietas
E deslizam, serenas, pelas vozes do outrora
Quantas mãos senti me alisarem a alma!
Quantos nomes balbuciei, quantas vidas vivenciei
Quantos caldos entornei pra te encontrar agora?
E no morrote, minúsculo, das dores sofridas, te agigantei
E fiz bailarina, poeta e artesã
De mãos hábeis e voz serena, tão plena
Que ergueu meus sonhos do cadafalso:
Quando esperava o céu, encontrei a forca
E agora, agouro a agonia e te espero em romaria
Em uma procissão de uma nota só, descalço
De pés trovejados e mãos ensolaradas
De frases opostas ao que tenho sentido
Quero abrigo.
E esgota, exaure a alma que espera a dose
Sua pitada de eternidade é a pétala de rosa
Que murcha, desbota e morre
Suas preces, mãos postas, são encostas de um grande morro
De um outeiro de barro de inquietudes e devastações
Todas as dores do mundo dele desaguam, irriquietas
E deslizam, serenas, pelas vozes do outrora
Quantas mãos senti me alisarem a alma!
Quantos nomes balbuciei, quantas vidas vivenciei
Quantos caldos entornei pra te encontrar agora?
E no morrote, minúsculo, das dores sofridas, te agigantei
E fiz bailarina, poeta e artesã
De mãos hábeis e voz serena, tão plena
Que ergueu meus sonhos do cadafalso:
Quando esperava o céu, encontrei a forca
E agora, agouro a agonia e te espero em romaria
Em uma procissão de uma nota só, descalço
De pés trovejados e mãos ensolaradas
De frases opostas ao que tenho sentido
Quero abrigo.
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Caldeirinha
Epifania de vozes cabe dentro em meu peito meio perdido
E te embala, três noites a fio, pra voltar ao passado
A ferro, te trago marcada em azeite
Na testa menina, um batismo de fogo
Em festa, fiz palpitar o além ao te encontrar
E quebrei elos eternos, infernos e urras
Na noite empoeirada das esquinas encardidas, te fiz meu lugar
E lacrei minha alma de destemor
Em cada noite perdida, querida, fui ato consumado
De quem erra ao teu lado, sem ele deixar
De quem corre depressa pra não tropeçar
De quem foge da raia sem nunca querer
E fiz versos ao luar, letras que nunca mostrei
Saudades e histórias que pus a contar
Percalços tão falsos, tão torpes, tão vis
E contos inquebrantáveis de amor imortal
Vago por aí com teu nome aqui dentro
Beleza plena de um errante sonhador
Que erra, que cala, que morre de dor
Que espalha, que falha, que traz teu calor
E verso, saudoso, perdido, amargoso
Teus dotes, tão fortes, tua luz, meu olhar
Que gritam comigo, que são meu abrigo
Que trazem descanso pra me alimentar
Quero poder dormir de novo
E deitar meu pranto em pratos limpos
Quero abraçar sua gente, afagar sua mente
Visitar teus braços, teu colo e tua força
E peço, despeço, a cálida sorte de quem acompanha
Que esfarela as dores e desfaz os quebrantos
Que encanta meus traços e caminha em meus passos
Que age, que berra, que grita de horror
Que clama e que instala o tranquilo amor
E te embala, três noites a fio, pra voltar ao passado
A ferro, te trago marcada em azeite
Na testa menina, um batismo de fogo
Em festa, fiz palpitar o além ao te encontrar
E quebrei elos eternos, infernos e urras
Na noite empoeirada das esquinas encardidas, te fiz meu lugar
E lacrei minha alma de destemor
Em cada noite perdida, querida, fui ato consumado
De quem erra ao teu lado, sem ele deixar
De quem corre depressa pra não tropeçar
De quem foge da raia sem nunca querer
E fiz versos ao luar, letras que nunca mostrei
Saudades e histórias que pus a contar
Percalços tão falsos, tão torpes, tão vis
E contos inquebrantáveis de amor imortal
Vago por aí com teu nome aqui dentro
Beleza plena de um errante sonhador
Que erra, que cala, que morre de dor
Que espalha, que falha, que traz teu calor
E verso, saudoso, perdido, amargoso
Teus dotes, tão fortes, tua luz, meu olhar
Que gritam comigo, que são meu abrigo
Que trazem descanso pra me alimentar
Quero poder dormir de novo
E deitar meu pranto em pratos limpos
Quero abraçar sua gente, afagar sua mente
Visitar teus braços, teu colo e tua força
E peço, despeço, a cálida sorte de quem acompanha
Que esfarela as dores e desfaz os quebrantos
Que encanta meus traços e caminha em meus passos
Que age, que berra, que grita de horror
Que clama e que instala o tranquilo amor
quarta-feira, 5 de agosto de 2015
Calabouço
Um dia, menino, saudei o destino e bradei:
Cá, pedregulho, erguerei lá no alto o meu orgulho!
E avistei, no alto da pedra, um grisalho gavião
Que caçava, esguio e impávido, bravatas pelo chão
A primeira bravata, o nó de gravata, comprei no saldão
A segunda bravata, a prosa barata, ganhei de um irmão
A terceira bravata: ninguém me escapa. Sou forte e sou são!
Quão ingênuo, gavião! A sorte em prata, dessorte, não é o meu forte.
E contei moedas por aí, desafiado pela velha rapina a erguer castelos de areia
A espreitar como em um jogo de tênis as oportunidades
Procurei a sina das eternidades, a vocação para as permanências...
E só encontrei perenes e vãs maledicências
Descobri a felicidade bem longe da velha montanha
Com o gavião empalhado na sala de estar
Do outro lado do meu mundo, fecundo, alentei prosas e versos
E, em um cotidiano ao revés, pérfidos retrocessos
Não é mole viver quebrando pratos
Sem bravatas, sem promessas vãs
Sem a arte falastrã das eternidades de botequim
Com pressa, com fome, com ardor de amor
E hoje, crescido, saúdo o destino sem ter o que bradar.
Amo o que fiz, o que faço e o que hei de fazer
Mas amo, sobretudo, o insistente dar errado dos maiores sonhos
Sonhos que vão, sem duvidar. E, se ainda fizerem sentido, voltarão.
Brados de poesia e ilusão, de iluminar o meu porão, de lume e clarão
Cá, pedregulho, erguerei lá no alto o meu orgulho!
E avistei, no alto da pedra, um grisalho gavião
Que caçava, esguio e impávido, bravatas pelo chão
A primeira bravata, o nó de gravata, comprei no saldão
A segunda bravata, a prosa barata, ganhei de um irmão
A terceira bravata: ninguém me escapa. Sou forte e sou são!
Quão ingênuo, gavião! A sorte em prata, dessorte, não é o meu forte.
E contei moedas por aí, desafiado pela velha rapina a erguer castelos de areia
A espreitar como em um jogo de tênis as oportunidades
Procurei a sina das eternidades, a vocação para as permanências...
E só encontrei perenes e vãs maledicências
Descobri a felicidade bem longe da velha montanha
Com o gavião empalhado na sala de estar
Do outro lado do meu mundo, fecundo, alentei prosas e versos
E, em um cotidiano ao revés, pérfidos retrocessos
Não é mole viver quebrando pratos
Sem bravatas, sem promessas vãs
Sem a arte falastrã das eternidades de botequim
Com pressa, com fome, com ardor de amor
E hoje, crescido, saúdo o destino sem ter o que bradar.
Amo o que fiz, o que faço e o que hei de fazer
Mas amo, sobretudo, o insistente dar errado dos maiores sonhos
Sonhos que vão, sem duvidar. E, se ainda fizerem sentido, voltarão.
Brados de poesia e ilusão, de iluminar o meu porão, de lume e clarão
terça-feira, 4 de agosto de 2015
Cadafalso
Há, em cada passo mal dado, a cicuta do bem-querer
Nos pés tortos, que apontam para o centro
No requebrar trôpego de quem não pisa com os calcanhares
Nos amores desvanecidos, desfalecidos, meus lugares
Nas minhas gavetas, há frases e juras, males e curas
Há sombras, traços e frases de amor
Há cartões perfumados, cores e promessas
Há despedidas, mortes e duras
Nos meus pés, sem pestanejar, há passos de malabarista
De quem caminha na navalha, que caia, que caia...
Há, já, marcas do tempo, calos e dores
Há a lembrança de cada passo que dei ao seu lado
Nos meus sentidos, tão sem sentido, há flores brancas
E uma visão tão asséptica de mundo que o rompante não cabe
Tenho vontade de me levantar e caminhar por ele.
E, das flores brancas, erguer montanhas e mares
Queria poder ter mais do que tenho e não ser quem eu sou
Mas queria, mais do que tudo, não tropeçar nos pés de apoio
Não ser, ao fim, joio, não viver das frases de gaveta
E, das sombras de cada pranto, redescobrir a sorte em prosa e não ser mais poesia.
Nos pés tortos, que apontam para o centro
No requebrar trôpego de quem não pisa com os calcanhares
Nos amores desvanecidos, desfalecidos, meus lugares
Nas minhas gavetas, há frases e juras, males e curas
Há sombras, traços e frases de amor
Há cartões perfumados, cores e promessas
Há despedidas, mortes e duras
Nos meus pés, sem pestanejar, há passos de malabarista
De quem caminha na navalha, que caia, que caia...
Há, já, marcas do tempo, calos e dores
Há a lembrança de cada passo que dei ao seu lado
Nos meus sentidos, tão sem sentido, há flores brancas
E uma visão tão asséptica de mundo que o rompante não cabe
Tenho vontade de me levantar e caminhar por ele.
E, das flores brancas, erguer montanhas e mares
Queria poder ter mais do que tenho e não ser quem eu sou
Mas queria, mais do que tudo, não tropeçar nos pés de apoio
Não ser, ao fim, joio, não viver das frases de gaveta
E, das sombras de cada pranto, redescobrir a sorte em prosa e não ser mais poesia.
Assinar:
Postagens (Atom)