segunda-feira, 27 de julho de 2009
Cenna Commica
Burlescos pés sobre o tablado, doces passos de sopetão. Ao susto, abrem-se as cortinas e inicia-se a farsa. Na claque, rostos finos de dândis e mademoseilles encobrem os gritos de morte e de dor dos porões da senzala ou do quarto dos criados. Do outro lado da côrte, dormem inauditas crioulas, perfeitas engomadeiras, copeiras, cozinheiras e amas-secas. Dão leite em suas têtas-de-nêga aos filhos do casal de estirpe que freqüenta as bancadas do Theatro Lírico. Pensando bem, já não havia mais senzala. Tratavam-se de criados de casa, mucamas e cativos, todas peças destinadas a fazer da meretriz ao bobo-da-corte ao contento de seus senhores. É ali, nas palmas e gargalhadas despreocupadas dos camarotes e frisas que nasceu a triste sanha em rir de nossa própria desgraça. Enquanto brasileiros, rimos de nossas maiores vergonhas e fazemos pilhéria de indefinições e incorreções que, sobretudo, nos pertencem. Tudo o que está aí, a nós pertence. Desde os oligarcas do século XVI até os líderes sindicais que a modernidade trouxe ao caminho socialista. Há de se dar termo a estes ouvidos surdos e fazer desta comédia um bom ato épico. Com seriedade e compromisso com o próximo, poderemos fazer de nossa peça a apresentação solene de uma nova forma de se atuar no maior palco de todos: o Teatro Social.
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3 comentários:
É, bela foto, bela época. É nessa comédia que vivemos até hoje. Melhor rir do que chorar a realidade.
rir do outro é um mecanismo que nos impede olhar para nós mesmos...
o brasileiro é assim!
Uma das maiores virtudes do brasileiro é essa: rir, rir da vida, rir dos outros, rir de si mesmo.
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