quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

A Hora da Virada

Brinda a taça
Enquanto o som disfarça
Já que os fogos espantam
Os olhos que eles mesmos encantam

Corta a faixa
É ano novo
E o resto encaixa
Ao plano outro

Doze badaladas...

Agüenta e senta
Outros trezentos e sessenta
De mil e tantos
Quiçá milhares...

Doze badaladas...

Ano que vem vai ser igual
O mesmo par, no mesmo canal
Na mesma hora, no mesmo lugar
Pro mesmo fim: se eternizar!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

De Mala e Cuia pra Vida

Quando eu vi o sol bater
Nos cristais de íris castanha
Vi que era a minha vez
Vi que a sorte era tamanha

Os cristais se emocionaram
Quando ouviram o pedido
Depois choraram num canto
Refletindo o acontecido

Minha vida agora é o dobro
E meus sonhos são a dois
E os cristais de íris castanha
Me acompanham onde eu vou

Mesmo quando não estou por perto
Os cristais olham pra mim
Pode haver amor mais certo?
Que do perto não precisa

Mas agora eu vi como é
Ter por longe meus cristais
Muitos dias sem te ver
Muitos dias sem ter paz

Minha hora é de esperar
Por dez dias, até mais
O encontro me abraçar
Pro meu sol me ensolarar

Até lá eu vou vivendo
Sem a metade de mim
Com só dois braços, duas pernas
E meu coração em disparada

Que espera ouvir na porta
O tocar da campainha
Meus cristais estão voltando
De mala e cuia pra vida

Tão louquinha da cabeça
Com histórias pra contar
Das agruras da cidade
No interior do Brasil

Minha espera não te alcança
E nem sei o que se faz
Da saudade faço dança
E te aguardo mais, e mais

Pois minha razão na vida
É por toda esperar
Meu encontro tão sonhado
Com os meus doces cristais

Por dez dias minha espera
A fitar pela janela
Todos carros vão passando
Até um fusca buzinar

É a volta do meu lado
Para sempre ocupado
É a volta dos teus olhos, que ao bater do sol
São mais claros que o pecado

E pecado não existe
Pra quem vive a esperar
O seu outro lado, e enfim encontra
Nos dois cristais a brilhar

Foi quando o amor eu encontrei
Por minha vida me apaixonei
Até a rotina elogiei
E das esperas não reclamei
Saí da fila e afirmei:
Me eternizei porque nunca parei

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Me Senti Sem Fio de Prumo

Tudo o que nos é importante é muito tênue. Explico: Antes de consolidarmos qualquer coisa que seja, pensamos inúmeras vezes em como e quando o elo se romperá. Quem não pensa no pior quando vê alguém querido padecer? Por não sabermos, por natureza, lidar com as perdas, nos acostumamos a prevê-las antes de virem, como uma forma de aliviar o sofrimento. Desde que tomamos grau adeqüado de consciência, pensamos no dia em que nos despediremos de nossos familiares, amigos e animais. Pais que não querem que seus filhos tenham cachorros em casa justificam a decisão com o tradicional 'Não. Depois o bicho morre e você fica aí chorando.'. Como podemos ver, embora tentemos lidar com as perdas, muitas vezes nos é negada até a tentativa. Para fugir do desencontro, resolvi rotular como eterno tudo o que me é querido. Jurei, como todos, amor eterno muitas vezes à muita gente. Tratei meus avós como imortais, e não quis lhes ver na despedida. Desde sempre, jurei amor eterno à minhas escolhas, dádivas e até aos meus fardos. Ao contrário, do que a razão afirma, amar nunca é demais: quando amamos, ao fim das contas, é porque escolhemos assim ou aderimos a isso. Logo, não é erro manter a coerência: 'Ame suas escolhas, mudar de idéia é coisa de quem se equivocou'. E sou de grande coerência com o que quero e sempre quis. Na medida em que caminhos foram surgindo à minha frente, optei por uma das curvas e nunca peguei um retorno. E puxei, dia após dia, o fio de meu destino com olhos de lince e tato de lagarto, com o maior esforço que poderia ter. Punha entre as mãos o fio das certezas com a habilidade que só os pretendentes à eternidades se propõem a ter. A cada afago em meu fio de prumo, sorria para minhas certezas e as reafirmava: eu nunca perderia coisa alguma que quisesse ter. Um dia, quando quis acariciar os meus fiapos, não os encontrei. Nenhum deles. Ainda que detestasse meus traços que não pude escolher, sempre reafirmei minhas escolhas. Movi então minhas mãos pelo vácuo à procura de minhas verdades, num estranho e inútil bailar. Fio a fio, todas as tênues garantias haviam se partido ou passado para outro plano. O eterno num segundo se quebrou, rendendo-se ao agora. E aí eu percebi que ninguém mais tem certezas tais quais eu sempre tive, e que o dever da dúvida é salutar para quem não quer se perder. Ainda que perdessemos todas as certezas, fios tênus não seriam artificialmente petrificados e transformados em verdades absolutas e resistentes ao tempo e à ventanias. Nesta noite só me resta uma última certeza: a de que não mais me entregarei ao imponderável, já que não sei mais o que o incerto fará de mim.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O Diário do Fim do Mundo

Auschwitz, O Testemunho de Um Médico, Dr. Miklos Nyiszli. Editora Record.
Uma estadia de doze meses nas cinzas fumegantes da destruição de milhões de vidas: um ano na caldeira do inferno. Miklos Nyiszli proporcionou, ao lançar sua obra em 1946, uma expressão boquiaberta a seus leitores. Seus relatos são impressionantes, e de tão cruéis parecem inverossímeis. Mais de sessenta anos depois, o discurso de 'higienização da raça humana' permanece presente em grupos de neo-nazistas ao redor do Mundo. Porém, dificilmente os portões para o apocalipse serão abertos como na II Guerra Mundial. Em pouco mais de duzentas páginas, o Dr. Miklos sintetiza o horror de milhões de almas que gritaram nas câmaras de gás ou na mira de um revólver, supliciadas por meses de torturas físicas e mentais. Nunca uma denúncia foi tão atual: aos que negam o holocausto, a resposta retumbante de quem viu o Mundo acabar para quatro milhões de pessoas em um mesmo ponto do planeta.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Isabela Na Cova dos Leões

Apenas mais um conto
Mais um ponto entre tantos
Ponto em tanto, tão pequeno
Tão nervoso e tão sereno
Ponto encontro e ligo o ponto




É que enfim cheguei ao ponto:
Pode tanto amor e encanto?
Pode enquanto o ponto é pranto
Pode enquanto o ponto é santo
Pode enquanto o ponto é riso

E se ao ponto há mais um pranto?
Se liga e se sente, se explica e se tenta
Dois pontos se unem e o pranto se enfrenta
O medo se espanta e até a morte se agüenta
Se acalma com o eterno e se passa o inverno

E se o ponto aumenta um tanto?
Se perde o controle, se faz a loucura
E faz do novo uma nova procura
Uma vida perdida no meio do ponto maior?
Perdida jamais, se a um ponto ligar

Ponto em bilhões, perdido, encontrado
Que de todos os pontos és o mais amado
Um ponto a mais lutando pelo achado
O achado maior, o ponto final:
Um feliz brado ao encontro
Um feliz brado ao eterno

domingo, 7 de dezembro de 2008

Tem Amor Infinito...

Foto: Celso Pupo - fimdejogo.com.br
Não vi o gol do Raúl. Fiquei sabendo que quem era pra estar ali era o Válber. Nasa e Luisinho bateram cabeça. Vítor virou avenida. Odvan, entre o pênalti e o gol, errou também o carrinho e ficou no caminho. Esse eu não vi, estava na aula. Quando Edmundo pôs a bola na marca do pênalti, Dida parecia ter três metros. Bola pra fora. Frustração. Sobrou pro Antônio Lopes, que errou ao colocar pra bater quem nunca soube. Tive uma crise nervosa com o gol do Petkovic, que justiçou a covardia de Joel Santana. Nos três casos, faltou determinação. E digo isso sem medo algum: naqueles três dias, se esqueceu do tamanho do Vasco. Noventa anos atrás, negros e operários suaram sangue para construir o primeiro time popular do Brasil. Mas bolas que entraram ou deixaram de entrar sempre foram menores do que a luta com que sempre se fizeram as coisas no Vasco. Sempre foi uma aporrinhação. Muita gente secando, essa raça chata de flamenguistas sempre à espreita, rotinas e hábitos que desde sempre só existiram no Vasco... A minha apresentação a este clube se deu no início de 1997. O Edmundo havia renovado o contrato e reestrearia em uma partida contra o Botafogo em São Januário. Perdemos. Mas para um torcedor de dez anos, deslumbrado com o time que escolheu, derrotas, vitórias ou empates trazem o mesmo fascínio. E tive o meu primeiro contato com o Edmundo no vestiário do estádio, levado por um parente membro da antiga diretoria. Ele dava entrevistas de cueca, e isso me chamou a atenção naquele momento. E, pelo o que falavam dele, senti medo de me aproximar. Só cheguei perto incentivado pelo zagueiro João Luiz e pelo Carlos Germano, grande figura humana e grande vascaíno. Ali começou uma relação de risos, lágrimas, gritos e emudecimentos. Já são 11 anos enfrentando filas, roendo as unhas na frente da TV, pegando trem pra Édson Passos e respondendo aos comentários jocosos de quem não sabe o que é o Vasco. Hoje, 110 anos da mais bonita das histórias caíram no chão com o peso de um livro de capa de couro, letras douradas e mais de uma dezena de milhões de leitores assíduos. Agora, meus amigos, o livro está no chão. Que dezesseis milhões de mãos e almas, que não têm divisão nem derrotas, honrem o que sempre fomos. Somos C.R VASCO DA GAMA, limpos e dignos desde o início - apesar dos equivocados que insistiram em tentar fazer de nosso clube propriedade privada - marcados pelo preto e pelo branco que simbolizam melhor do que qualquer outra coisa a nossa unidade. Que no longo deserto de 2009 sejamos peregrinos de um amor inifinito que é muito mais antigo e muito maior do que qualquer coisa passageira como um rebaixamento. E que o 111 seja o reencontro do Vasco com a vascainidade e com as vitórias.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A Ressureição do Castor

Foto: Colin Foster - Portal Sidney Rezende
Uma das lembranças que eu tenho do Bangu foi a do estardalhaço causado pela contratação de Renato Gaúcho para o Campeonato Estadual de 99. Renato estava sem clube desde o início de 98, quando foi dispensado do Flamengo, e já fizera algumas incursões como treinador interino do Fluminense. Ainda que prematuramente, aquela dava mesmo mostras de ser a última temporada de Renato no futebol. Ao lado de jogadores que marcaram época em um tempo de vacas magras em Moça Bonita, como o volante Marcão, o meia Renatinho e o atacante André Biquinho, Renato excursionou pelo interior do Brasil durante a pré-temporada. Acreditavam os dirigentes bangüenses naquela época que o gran finale das temporadas 1933 e 1966 se repetiria em 1999 com a equipe comandada por Alfredo Sampaio. Aquela foi a última vez em que o Bangu foi notícia. Para os que acompanham o futebol alternativo, os mulatinhos rosados marcariam presença no Módulo Amarelo do Brasileiro de 2000, onde fizeram uma boa campanha. Depois disso, campanhas cada vez piores no Estadual e parcerias mal amarradas com as empresas Gortin e Hability levaram o Bangu à Série B após uma péssima campanha no campeonato de 2004, coroada com uma goleada em casa para o rival América. Durante a disputa da segunda divisão em 2005, 2006 e 2007, não foram poucas as vezes em que Rubens Lopes, o todo-poderoso de Moça Bonita desde a morte de Castor de Andrade, apostou em parcerias com empresários e times da primeira divisão. Cabofriense, Madureira e Friburguense emprestavam compulsoriamente, e a troca sabe-se lá de quê, seus atletas para a tradicional equipe. O Bangu chegou a firmar um patrocínio com um famoso empresário do ramo dos bingos no Rio de Janeiro, que bancou do próprio bolso a contratação do artilheiro Sinval para a Série B de 2006. Nada disso deu certo. A péssima campanha do ano passado, onde o Bangu entrou em campo com os juniores e "reservas-dos-reservas" do Madureira, acendeu o sinal de alerta em Moça Bonita. Para 2008, já sob o mandato de Jorge Varela, o clube seguiu a receita de sucesso neste tipo de situação: investimentos ao tamanho do bolso e entrosamento. Antônio Carlos Roy, ótimo treinador, foi emprestado pelo Resende, assim como grande parte da equipe do alvinegro do sul-fluminense. A folha salarial era modesta, e os salários raramente ultrapassavam R$ 1.500. O zagueiro Anderson Luiz, vindo do Vasco, era um dos mais bem pagos e nem como titular ficou. O acesso do Bangu caiu nas mãos de garotos bons de bola como os atacantes Hiroshi e Bruno Luiz, a caminho do Botafogo, e do experiente goleiro Cléber Moura, que se tornou ídolo da torcida bangüense após caçar borboletas por anos no Madureira. E a maior vitória do Bangu: a volta de sua torcida. Não foram poucas as vezes em que Moça Bonita recebeu bons públicos. Na decisão contra a Aperibeense, o estádio estava praticamente lotado pelos vovôs de 66, os jovens coroas de 85 e a garotada de 2008. Parabéns pelo título, Bangu!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Aos 25 Sem Janete

No início, fazia-se rádio como se prepara uma mamadeira para um bebê. Os radialistas esquentavam a mistura, que provavam de cinco em cinco minutos para ver se era do agrado. Nunca descobriam a temperatura certa. Havia uma febre nacional por falar como César Ladeira, escrever como César Ladeira, lançar artistas como César Ladeira... depois, surgiu a necessidade de se aproveitar do caráter despertador do imaginário que o rádio começava a ganhar. Se antes se imaginava um rosto belo para o feio Ladeira, um público cada vez mais popular parava o que estivesse fazendo para ouvir histórias sem imagens, como se fossem índios em volta de uma fogueira. Alguns redatores adaptaram radionovelas estrangeiras com extrema competência. "O Direito de Nascer", por exemplo, fez o Brasil congelar seu pensamento na literatura cubana de Félix Caignet. Mesmo quando surgiram as primeiras tramas brasileiras, como "Jerônimo", de Moisés Weltman, a influência da temática e da estética do rádio estrangeiro foi predominante. Um verdadeiro contra-senso para o meio de comunicação que mais cantou a brasilidade. Ao contrário do jornal e das revistas - galicistas durante a sua popularização - e da televisão - filha das chanchadas, cópias mal feitas do que de pior havia em Holywood, com o que de bom havia no rádio - o meio radiofônico tornou-se essencialmente brasileiro tão logo se tornou popular. Faltavam as radionovelas. E Janete Clair, com habilidade ímpar, fez de anúncio no jornal um dos maiores sucessos da história do rádio no Brasil. "Vende-se um Véu de Noiva", texto recentemente comprado pelo SBT, foi um dos pioneiros na tentativa de se retratar a realidade e o pensamento do povo tupiniquim em um meio que a cada dia necessitava falar de forma mais íntima com seu povo. E foi assim, desta relação de intimidade, que a espantosa Janete teceu dezenas de tessituras. Novelou e desnovelou tramas, entrechos e centenas de personagens. Fez o país parar por muitos primeiros e últimos capítulos. E escreveu absurdamente. Janete era uma máquina de escrever. Ao nos deixar de forma ainda precoce, deixou um espaço que jamais foi preenchido: a de usineira de sonhos que falava a seu povo com a intimidade que só o rádio lhe ensinou, e com o domínio da estética da TV que somente uma boa telespectadora como ela poderia ter.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A Diferença Entre o Ser e o Não Ser

Qual é a diferença entre a saudade de uma noite estrelada ou a esperança de uma noite nublada? Simples: é o grau de certeza que temos naquilo que nos dá motivo. Tudo o que dá motivo ao continuar é válido quando acreditamos que dele depende a nossa felicidade. Observar e contar estrelas enquanto nos lembramos dos momentos felizes que não vivemos e das tristezas que não passaram pode ser apenas um pensamento chato em uma paisagem bonita. Ter certeza do que queremos - nas noites estreladas, nebulosas e até sob um dilúvio - é o fio de prumo na busca da felicidade. Ser eterno nos dias em que se busca o passageiro é ser constantemente apaixonado pelo o que nos dá motivo, seja lá como nos pintar o céu.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Chicago, Chicago...

Al Jolson, um russo radicado nos Estados Unidos, cantou a Chicago da Grande Depressão como poucos. Em um de seus maiores sucessos, bradou para que os microfones mecânicos pudessem captar que nenhuma cidade simbolizava o cotidiano do “crack” quanto ela. Na Chicago do início do século, nasceu o cartunista Walt Disney, acusado até hoje de ligação com grupos ultraconservadores, ao mesmo tempo em que suas empresas, oitenta anos depois, são vistas como instrumentos de erotização precoce. Chicago de Punky, a Levada da Breca, Chicago de Jordan, Pippen e Rodman – três negros – que encantaram o Mundo com o melhor time de basquete que viu jogar... Chicago da crise, do caos e de gente, muita gente. Gente por todos os lados, e muito calor. E nem faz tanto calor assim. Chicago é uma cidade abafada, com quase cinco mil habitantes por quilômetro quadrado. Foi na Chicago cantada pelo russo Jolson, pintado de negro para interpretar um cantor de jazz em Holywood, que surgiu para a política mundial um dos mais surpreendentes fenômenos eleitorais da história. Barack Obama, quarenta e sete anos, saiu do limbo político tradicionalmente reservado aos excluídos para a chefia da bandeira mais influente do planeta. Com mais de um milhão de moradores de Chicago sob os pés em um discurso histórico proferido em uma madrugada, Obama não é mais um branco de rosto pintado. Tampouco um filho das massas que busca no uísque, no golfe e nas bolsas de valores o carimbo da superioridade intelectual. Até agora, o novo presidente dos Estados Unidos é de coerência admirável. Pai de família correto, aparenta ser espirituoso e cortês com seus interlocutores. Tem em si mesmo uma fé que chama a atenção, e que foi capaz de derrotar os caciques democratas – todos eles por Hillary – nas convenções do meio do ano. Foi também de sorte incrível ao contar com a escolha da histriônica Sarah Palin, candidata a uma das mais folclóricas presenças políticas do milênio, responsável pelo tiro de misericórdia na campanha de John McCain. Sarah, o atraso de saias, “traiu” o eleitorado conservador ao permitir que uma de suas filhas se perdesse ao Mundo e engravidasse do namorado. E, pois, a musa-beata será avó de um filho de mãe solteira. McCain, veterano do Vietnã, representa o perfil de sempre. Ex-combatente, bem nascido, bem formado. Adepto indócil dos costumes “american way of life”. Excelente caráter, de acordo com seus conviveres. Porém, a representação republicana do que sempre foi feito. Feito e por anos eficaz. Porém, a depressão econômica que se avizinha, de efeitos tão imprevisíveis quanto Jolson e Disney imaginavam em 1929, pede um repensar quanto ao papel do Estado na economia. O personalismo político, fenômeno presente na eleição de Obama, volta com força total na medida em que se torna necessária a presença tentacular da máquina federal na busca de soluções para os problemas do cidadão comum, endividado e sem saber com que receita pagará suas contas no próximo mês. Em 32, o povo americano buscou no carismático Franklin Roosevelt, a personificação do capitalismo de Estado, uma forma de saciar o ronco do estômago. Hoje, quando bolsos, carteiras e contas amanhecem cada vez mais furados, o nome de Barack Obama parece ser o mais indicado para os desejos da classe-média norte-americana: um líder carismático que os guie à superação.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Ser Firme e Sólido

Foi durante algum tempo pensamento por aí que nos dias de hoje tudo é leve e líqüido. Me arrisco a dizer que quem afirma isto não pensa em outra coisa. É liqüidez pra cá, efemeridade pra lá, celebridades instantâneas, modas e manias que vêm e que voltam, desejo no lugar de sonho, paixão no lugar de amor... hoje ao invés de sempre. Cheguei neste ano que passou à conclusão de que a pós-modernidade não é bem assim. Há espaço para o firme e sólido quando o buscamos e fazemos dele algo inquebrantável como areia que não se move ao vento. E alguém já viu areia não voar com o vento? Só há um modo: se dois grãos se juntarem e se tornarem pesados demais para a ventania levar. Dois grãos de areia em uma praia, que se agarram um ao outro, ao solo e aos céus para não voarem como todos os outros. É possível ser eterno na era do efêmero. É só encontrar um jeito de não desgrudar.

sábado, 27 de setembro de 2008

Todo Dia... É Dia!

Ok. Vamos pensar com calma o quanto cabe em trezentos e sessenta e cinco dias. Cabe o Mundo inteiro? É, talvez caiba. Cabe um instante só? Não. Não há ano que dissolva um momento tão grande quanto aquele. E ainda que baixem um decreto para que fevereiro tenha vinte e nove dias todo ano e trinta de quatro em quatro anos, não vão conseguir fazer de um só ano grande o suficiente. Quem criou o tempo fomos nós, eu sei. No entanto, mais do que contar voltas do ponteiro, aprendemos desde os primeiros dias de nossas vidas que o tempo que vale mesmo é o que está dentro da gente. É o tempo da memória e das vontades. É este tempo-enxurrada, de verdade, que foge das mãos do tempo de mentira como um pássaro que desconhece perigos ou pudores. E aí o tempo de mentira vem nos lembrar de que nos restam setenta, sessenta, cinqüenta anos... E assustam ao nos lembrar que, cinqüenta anos atrás, éramos em essência o mesmo que somos hoje. Ao fim das contas, viemos pra cá com a condição de não ver tanta coisa assim. E crucificados nos ponteiros do relógio... No tempo dos outros, vivo há um ano o que de melhor poderia me vir. Encontrei na noite chuvosa de uma praça largada a companhia que com mais perspicácia compreende o meu tempo. Fizemos um pacto: nada de sessenta anos pela frente. Nada de cabelos brancos, filhos, netos e bisnetos. Nada de ver o tempo passar, de viver pelo que foi feito e de abraçar todos os dias lembranças diferentes. Nada de lembranças diferentes. Só me basta uma. Só me basta a lembrança de que ali, no dia vinte e oito de setembro do tempo dos outros, me encontrei com a minha essência embaixo de um guarda-chuva. E decidi não ter muito do que lembrar, ao posto que viveria todos os dias o mesmo encontro. Afinal, o que mais poderiar querer do que o encontro com o meu próprio sonho? Materializado, sonho que veio até mim e minha essência advinda de meu tempo deram as mãos e caminharam pelos passos da eternidade. Já não se fala mais em décadas e proles. Hoje, meu pedido é para que o tempo dos outros seja quebrado para nos deixar passar. E, que ao invés de viver mais sessenta anos com lembranças médias e moderadas como os que ainda não se encontraram, possa viver só mais um segundo. O segundo derradeiro em que selei meu destino e iniciei o meu percurso. Ali, naquele segundo, eu fui feliz pela vida inteira. E sei que, na vida inteira, eu viverei por uma só lembrança: aquele segundo.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Aos Que Enfrentam o Medo

Neste quase-ano que passou, encontrei no perfume que colou feito decalque em minhas mãos a resposta para o que tantos procuram: sim, ela está sempre comigo. E pode parecer piegas afirmar que não há dúvlda alguma sobre a legitimidade desta afirmação. Consigo estar sempre ao lado de alguém que - ainda - não posso tocar em todo o tempo. E se não há o toque, há ao menos a alma que pulsa ao mesmo tom e o perfume de um segundo que enfrenta o medo de ficar sozinho e se multiplica por todos os minutos que ainda haverão de vir.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Tudo, Tudo, Tudo...

Nada pode ser mais certo do que uma boa dose de erro naquilo que acertamos. Sim, explico. Nada pode dar tão certo sem que dê um pouco errado. E nem é a alma que erra não... Nem a mente, tampouco o coração. O erro vem por si só, como um pequeno buraco negro que surge e desaparece em contato com a atmosfera. Nesta noite quente e estrelada, desejo que dos erros nasçam flores - como sempre nascem. Erros que são tão pequenos perto do tudo que se tornam pequenos ao olho nu, mas palpáveis ao pensamento. E eu penso o quão importantes eles são para, daquilo donde deveria vir a dúvida, florescer a certeza. Certeza de que erros são tão pouco perto do tudo.

sábado, 6 de setembro de 2008

Feijão com Arroz

Poucas coisas chamam tanto minha atenção quanto um pôster de evento que já passou. Ali, na parede da composição do metrô, o aviso de algo que já foi me lembra de que o tempo só fica parado quando alguém nos lembra disso. O ponto de encontro entre os que bateram os olhos naquele pedaço de papel colado no vidro é a vontade de descobrirem juntos, cada um por um caminho, um bom lugar para ir. Eu preferi o lugar-comum. E lugar-comum é segmento, pois! Assim como nos Estados Unidos há uma massa de tomate que é vendida em apenas um tamanho e sabor e os Ford Bigodes dos anos trinta eram sempre da mesma cor, escolhi o samba de uma nota só. A mesma cor, o mesmo tamanho, o mesmo cheiro, o mesmo sabor, o mesmo tom de voz, os mesmos olhos - menos quando bate o sol! - os mesmos cabelos - mais longos, mais curtos, repicados ou escovados - e, pasmem, o mesmo nome. Na cozinha industrial dos relacionamentos pós-modernos, fiz banquete de um ingrediente só. E não foram os temperos enumerados nas páginas da Capricho ou da Nova que me fizeram dar sabor adicional ao que sempre foi prato dos mais saborosos. É sabor que entra pela boca e circula por todo o meu sangue, contagia meu paladar e meu olfato com a sua textura e a sua fragância, invade todos os meus órgãos e ossos, exala de minha pele as notas musicais que encontram uníssono e repetem um mesmo nome, um mesmo chamado. Até meus olhos, tradicionalmente com as pupilas apontando para baixo e os cílios cerrados se abrem mais felizes com a luz que me alcança e faz as íris castanhas mudarem de cor e beirarem o mel. Me tornei usuário de um processo contínuo de otimização de meus sentidos acionado através de três palavras curtinhas que, sempre na mesma ordem, me despertam para as novas formas: "eu", "te" e "amo". Afinal, a melhor coisa do Mundo é degustar o prato mais simples das presenças desarmadas e das palavras curtas e simples: ativar o eterno através do simplório. Assim, cem anos de solidão desaparecem ao chamado de um segundo de encontro. E, por diante, um ano vivendo do mais simples e fascinante dos sentimentos equivale a incontáveis experiências com o que o ser humano tem de melhor - um prato que todos podem preparar, saborear e contar a receita. O meu, tenham certeza, será sempre servido no mesmo lugar e ao mesmo chamado.

sábado, 19 de julho de 2008

Temos Todo o Tempo do Mundo

Cento e três anos atrás, nada era como antes, nada era como hoje. Era o Mundo recém saído da Era Vitoriana, com os bolsos ingleses e as bolsas francesas. Era o Mundo envolto na profunda neblina da guerra ideológica: anarquistas, comunistas, liberais? Foices, martelos e tiros, caíam monarquias, morriam presidentes e campeava a contestação: o que veio fazer o homem em Mundo de tão grande sofrer? Cento e três anos atrás, no interior do Brasil, o que valia a pena era de um bucolismo quase parnasiano, em uma vida de propaganda de produto de limpeza com aroma do campo. Serestas, mãos dadas, discos quase inaudíveis de gravação mechânica, pharmácias com seus boticários, W, Y e Z no alfabeto e quase todos os brasileiros entre os analfabetos. Nesta vida de poucas pretensões, o riso sincero que herdamos dos índios, a veia chula do português a malícia dos africanos com seus movimentos lascivos e malemolentes se juntaram para formar o imaginário do humor popular no princípio do século vinte. E os palavrões eram gravados e distribuídos para todo o Brasil, através da Casa Edison, a primeira gravadora e editora musical do país. Canções como "Bolseta da Vovó" e "Bolim-Bolacho, Bola Em Cima, Bola Em Baixo" eram com toda a certeza sucessos na boca da garotada de Santa Maria Madalena, no interior do antigo estado do Rio de Janeiro. Anos depois, uma das filhas desta terra batida coberta de mato justificaria o baixo calão dos filhos daqueles tempos com a predileção que os portugueses tinham por este tipo de linguajar, dito por eles com pureza quase infantil, afinal, muitos palavrões dos mais cabeludos para nós eram para os lusitanos singelos subjetivos. Cento e três anos atrás, alguém veio para cá. E ninguém sabia que veria o Mundo mudar. Tudo o que lá havia, cá não há mais. Nem mesmo seus palavrões, hoje adicionados aos aurélios como "instrumentos de comunicação popular" - logo, perdendo o caráter chulo. Não há mais a seresta, a mão dada, tampouco Madalena, que nem santa é mais, é só terra-com-mato. A alfaiataria de seu pai já fechou há décadas, seus irmãos já não vivem mais, e não há quem tenha cantado em roda o "Bolim-Bolacho" que ainda esteja por aqui. Mas havia, meus caros, até poucas horas atrás quem tenha vivido para ver. E ela contou para gerações o quanto vivera mais feliz e mais tranqüila do que vivemos hoje. E o quanto os questionamentos e embates daqueles tempos fazem falta na contemporaneidade, onde tudo é aceito sem palavrões. Agora, com o desaparecimento de quem fechou o livro de seu tempo por cá, a todos que especularam sobre a data do findar deste tempo resta o agradecimento a alguém que nos deu a honra de perceber o quanto se pode ser feliz em mais de um século vivendo muitas vidas e anotando muitos tempos com sua memória prodigiosa. A vida e o tempo permanecem onde estão, mas sem o testemunho de quem viveu tempos tão vividos, mas que já não são mais vívidos.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Ah, Meus Vinte Anos...

O ano da virada já virou
O ano da levada já levou
O ano da pegada já pegou
Pegada forte! Levada firme!

Os vinte foram bem mais que os dezenove
Muito mais que uma unidade
Muito mais do que trezentos e poucos
Foi o ano do encontro
Foi o ano da partilha

Foi o ano da matilha!
Foi o ano da balbúrdia!
Foi o ano da penumbra
Foi o ano do esquecer

Já nem sei o que fazer
Pra fazer mais do que fiz
Só em um ponto eu pensei:
Eu vou ser bem mais feliz!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A Corrida Do Ouro

Toda tarde as mesmas pernas percorriam as pedras portuguesas pra pegar o mesmo ônibus. Preta-e-branca, Preta-e-branca, Preta-e-branca. Eram pernas de estudante, de bermuda jeans e suor escorrendo pelos pêlos novos. Uns segundos de pique, o peito batendo como um soco inglês em uma caixa de papelão, a cachola latejando e o suor por toda a pele, por todo pêlo e por toda a carne. Todo dia é a mesma busca, a mesma mão que procura com esforço a carteira por dentro da mochila. Corre pro 473 não ir embora! O pique se dá pra se subir no coletivo ou não. Muitas vezes, ele passa mesmo. E nada há de mais doloroso do que tanto esforço para subir a tempo neste e, embarcado, ver outro igual chegando atrás. Pra quê um minuto a menos de viagem? É só o tempo do motorista e do cobrador tomarem o suco de caju (ou de maracujá) com o espetinho de gato preparados por mais um brasileiro dos quase dez por cento de desempregados. Pra estes, o ônibus nunca chega. O pique diário do estudante pra ganhar um minuto ou outro é tão significante quanto qualquer esforço precipitado que se toma para chegar na frente dos outros. Acima de tudo, é salutar que todos embarquem de alguma forma: sentados ou em pé, na janela ou no corredor, ou mesmo pendurados nas portas e surfando no teto. Nada de correr por besteira, a hora é de saber o melhor carro pra pegar.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O Tempo Pro Espaço

Quanto tempo o tempo tem? É vivo que é na pressa e na espera, na volúpia e na ansiedade, saciaz prazer de quem esperou tanto tempo pelo o que nunca teve. O tempo é tempero que faz a espera mudar de nome e virar "carícias preliminares". A dor tem gosto de carícia na alma. A perda tem voz de recomeço. Mesmo o fim, sendo assim, gosto tem de princípio. O tempo é o sábio projeto dos que esperam para ter o que querem. E quando já se teve, tanto melhor: saber o tempo a esperar é fundamental. Liguemos o microondas no tempo certo. Hoje, o tempo é tão caro quanto o petróleo, a água ou o amor. Seja o tempo que espera ou o tempo que apressa, é a ele que reverenciamos ao ver o passar dos anos e as transformações que só este ser pode fazer. O tempo cria espaço e cria matéria. O tempo traz novas vozes e novos mundos, novas faces e novos fundos, fundos-de-poço ou fundos de investimento. Saber viver o tempo é o que de mais sábio há entre os que esperam pelo melhor. Sem ele, nada seríamos além de uma fração de segundo condenada a desaparecer em corpo e memória.

sábado, 31 de maio de 2008

Comunicação Empresarial na Embrapa


A turma de "Empresarial" do curso de Comunicação Social da Estácio de Sá visitou na última terça-feira a Embrapa Solos, no bairro do Jardim Botânico. Os alunos assistiram a uma palestra ministrada por Elisângela dos Santos Graça, da equipe de assessoria de imprensa da Embrapa, com quase vinte anos de experiência na área. Elisângela ressaltou a importância da Comunicação Empresarial para o fortalecimento da marca e para a manutenção de um bom ambiente nas empresas.A assessora comemorou também o sucesso dos procedimentos tomados pela atual gestão para a divulgação da Embrapa na imprensa não-especializada, fazendo com que os números e vitórias da estatal deixem de ser pautas exclusivas da "Globo Rural" e ganhem a imprensa dos centros urbanos. A palestra durou cerca de uma hora, e ao fim do evento os alunos do professor Marcio Gonçalves saíram satisfeitos com mais uma mostra de que a Comunicação Empresarial é fundamental para o atual panorama do mercado de trabalho e para a gestão das organizações.

terça-feira, 20 de maio de 2008

O Porre De Fanta Laranja

Onde já se viu fazer do refrigerante de laranja um engodo à alma? Pois vi eu, pelas ruas da Tijuca, em fins da tarde de hoje. Fez-se a alegria onde aos outros é estupor. Um velho solitário bebendo o líqüido laranja que saía da garrafa velha, onde a tintura mal se via. Felicidade é o que era para o Epicuro, aquele filósofo grego: o cotidiano imperturbável das alegrias tão solenes quanto um prato de arroz e feijao ou uma garrafa de Fanta gelada. Felicidade é o manjar comido no bar da esquina, desde que não seja ruim o suficiente para trazer dor de barriga. Aos que buscam o sofisticado para a busca do sonhado, afirmo: não há especiaria que compre uma boa rotina. Não há tempero que salgue um "tá tudo bem, obrigado". Nada sacia mais do que ser feliz com o que nós temos. Só assim, percebemos que temos muito. Só assim, percebemos que temos tudo. Encontrei minha felicidade em uma tarde de sexta, quase oito meses atrás, quando nada demais realizava: fazia o mesmo que faço todos os fins de tarde e inícios de noite de sexta. Lá, abro em um estúdio de rádio a minha caixa de pensamentos e jogo as minhas cartas na mesa. Sempre as mesmas. As mesmas piadas, as mesmas vozes, as mesmas risadas. Mas o meu prato-feito encontrou quem quisesse. Foi então que do meu cotidiano se fez um momento eterno, diferente de todos os outros que vieram antes e igual a todos os que vieram depois: uma só voz, com suas sílabas metralhadas. Uma só risada, de quem está com dor de barriga de tanto rir e ri das próprias indecisões. Um só pensamento: o sonho que todos estão carecas de saber, e que persigo desde aquele dia. Naquela tarde de sexta, abri a última garrafa da minha vida. Nunca mais precisei de sabor doce demais ou deveras salgado para temperar meus anseios. Meu tempero está no que vivo e aprendo todos os dias com esta mesma voz em meus ouvidos e em meu pensamento: que o eterno é quando percebemos o que os outros não dão bola.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Rádio Livre: Nem "Escrava", nem "Pirata". Livre.


Trabalhei com rádio online por quatro anos e sei o quanto é fácil e barato se montar a estrutura necessária para se colocar uma rádio no ar nos dias de hoje. Os softwares mais simples – porém eficazes – são gratuitos e atuam “agregados” a programas comuns a qualquer computador, como o Windows Media Player e o Winamp. Uma boa programação musical pode ser construída de forma gratuita, através de softwares de compartilhamento de arquivos e servidores para download: milhares de faixas musicais, de todos os países e gêneros, podem ser selecionadas de acordo com o público que a rádio deseja atingir.
Um fenômeno marcante da última década, quando esta tecnologia se tornou popular, foi a proliferação das rádios livres, comunitárias e piratas por todos os cantos do Brasil: das periferias às grandes zonas centrais. Tal fenômeno pode ser sentido em uma viagem pela Dutra, onde percebemos o sinal das rádios locais sendo “cortado” por rádios piratas evangélicas ou de aspecto pseudo-comunitário. “Girando” o dial, notamos a presença de freqüências comunitárias e seu característico chiado, e das rádios livres, que se diferenciam das últimas por não possuírem concessão da Anatel para operar, embora não possam ser consideradas piratas, pois não utilizam a freqüência de outras emissoras.
O espectro do rádio é mal utilizado na grande maioria das cidades brasileiras. Apesar do número de concessões chegar aos milhares, os pequenos municípios ainda sofrem com a falta de informação voltada para a comunidade. Quase sempre, as concessões do governo caem nas mãos de autoridades locais ou grupos religiosos, com pouco ou nenhum comprometimento com a informação e a qualidade da programação. Grupos de trabalho, muitas vezes assessorados por ONG’s, se dedicam então à criação das rádios comunitárias, que passam por um processo de concessão mais simples do que o das comerciais, porém marcado pelo crivo do poder oficial.
Com esta realidade, há quem prefira não passar pelo beneplácito da Anatel, muitas vezes envolvido com barganhas políticas e interesses escusos. As rádios livres dão uma bela “banana” ao processo de concessão e entram no ar “mesmo assim”. Seus interesses não diferem, na maioria dos casos, do que propõem as rádios comunitárias: notícias voltadas para a comunidade e interatividade, no que tange à presença do ouvinte na escolha da programação musical e nos programas de opinião e debates. A Anatel, como não poderia deixar de ser, vem coibindo o funcionamento destas emissoras, e fechou dezenas delas nos primeiros meses deste ano. Também foram lacrados os transmissores de algumas emissoras comunitárias, que não estavam em dia com as obrigações legais e, obviamente, centenas de rádios piratas são fechadas todos os anos.
A produção comunitária é vital para a construção de um país onde a informação chegue de forma pura e democrática. Quando não há a influência dos interesses comerciais nem a subserviência aos grupos de mídia, a informação sem amarras pode construir uma nova realidade para a comunidade que por ela é banhada. Nesta nova realidade, todos podem produzir e se informar.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Comédia Trágica Em Três Atos


Foto: investorwiz.com

Primeiro Ato: Ao Pranto O Que É De Pranto

Tudo bem, o bem venceu. Vou tirar o mal de mim. Prometo: quando o dia amanhecer, a dor de cabeça e o nó no peito serão bem menores do que o fim que se viu no frigir dos ovos. Afinal, a hora de pensar direito é a hora em que a porca torce o rabo. Eu juro que não encostei a arma em meu crânio de forma proposital. Foi tudo uma grande brincadeira. Não estou triste, nem sofro por meu pranto. Só o que eu temo é o desencanto. Desencantei-me com o que eu esperava de quase tudo, e vi a vaca ir pro brejo quando a onça bebeu água. Desencanei-me. Não adianta chorar só pelo pranto. O que vem para o bem não se amassa e joga fora. Nunca jogue fora os panfletos de rua sem antes saber para quê eles vieram. Alguns vêm para mudar a sua vida. Seus problemas acabaram. Os meus, só começaram.

Segundo Ato: Aneurisma Psíquico

É a dor que veio em besta bem no banco do metrô. No laranja, dos idosos, gestantes e crianças de colo. Era só o que restava. Logo, teria de levantar dali, já não tinha muito tempo. Já não tenho muito tempo. Hoje, senti tudo o que é caro esvair-se antes da hora. Desculpa, não deu pra segurar. Foi a minha vez de me evadir. Saí e entrei sozinho por portas e portões, ruas e esquinas, asfalto e pedras portuguesas. Com uma tremenda dor de cabeça, de um resto de gripe. E sem saber o que fazer. Com as mãos nos bolsos e a íris apontando para baixo, perambulei prantoso por minha solidão. Sem saber mais meu caminho, sem saber mais meu lugar.

Terceiro Ato: Sem Pranto Ao Que Não Tem

Tudo bem, o mal venceu. Vou lembrar do bem em mim. Prometo: quando a noite aparecer, a dor de cabeça e o nó no peito serão bem maiores do que o fim que se viu no frigir dos ovos. Afinal, a hora de pensar direito é a hora em que a porca torce o rabo. E qual hora que é? Sem saber pra onde ir, me esqueci do meu lugar. Me esqueci por cinco, dez segundos, do meu amor. Me esqueci de quem eu sou. Eu não sou o mal, o pranto, nem a derrota. Ainda. O mal não me venceu. O bem me deu poucas coisas, mas com as quais posso fazer meu pão e dormir meu sono. Quando relembrei o meu amor, que viu minhas costas virarem minutos atrás, me dei conta de que a hora em que a onça bebe água é a vitória nossa de cada dia. É o nosso pão. Por alguns minutos, naquela praça de metrô, me senti realizado: encontrei alguém que fez a vaca sair do brejo.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

TVS Não Morreu



Silvio Santos era quase um R.R Soares dos Domingos. No Rio, era visto nos canais 6 (Tupi), 9 (Corcovado) e 11 (TVS). Em São Paulo, na Tupi e na Record. Tudo ao mesmo tempo, tudo a mesma coisa. Os mesmos quadros, que ganharam cor quando o ex-camelô deixou mais de dez anos de Globo para trás para firmar um estranho acordo de co-produção com a Tupi e se tornar sócio da Record, que quase levou ao túmulo, e colocar no nome do sobrinho o problemático canal 9 do Rio. Fez Silvio o certo ao se aproveitar dos contratos de trabalho da TV Tupi. Entrou no ar com uma equipe pronta e bem azeitada. Bons redatores, apresentadores e jornalistas. Muitos estão lá até hoje. Hoje, Silvio vê seu SBT naufragar. As vistas ao primeiro lugar ficaram na poeira de 2001. Hoje, o segundo lugar parece nas mãos da não menos brega Record - que Silvio vendeu "a preço de banana" ao Edir Macedo - e o terceiro a cada vez mais ameaçado por Bandeirantes e Rede TV!. Tudo de muito baixo nível. A última idéia de Silvio Santos é como esses queijos franceses: são uma delícia, mas feitos com mofo e bolor. Achei excelente a iniciativa de reprisar, na íntegra, clássicos do SBT - com sua linguagem e estética peculiares - nos Sábados a tarde. O horário é morto, e merece algo que saia da tumba. E que venham os velhos programas do Silvio, da Hebe, e da Praça é Nossa, com tanta gente que já se foi. Ao menos, o bolor é saboroso.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

A Mídia Manipula?

Durante o século passado, um dos principais argumentos dos estudiosos da Comunicação foi o da influência onipotente, onipresente e imbatível dos produtos midiáticos – chame-se como chamar – sobre a sociedade. Disfunção Narcotizante, poderio da Indústria Cultural, manipulação, alienação e quarto poder. Muito se ouviu falar nestas palavras que relatavam uma relação inquebrantável entre mídia, poder e modelo econômico e a interação destes para a manutenção do poder vigente.
Antes de tudo, é necessário lembrar que o ideário da manipulação midiática tinha como base o velho e hoje arcaico conceito de “Massa”, que reagia de forma uniforme aos estímulos recebidos das instituições formais e dos meios de comunicação. Tal argumento é hoje facilmente derrotado com a simples observação de que os graus de absorção da mensagem variam de forma determinante de acordo com diversos fatores, como a influência familiar, as associações institucionais e as relações sociais do indivíduo.
É evidente que este grau de absorção não pode ser desconsiderado. A mídia é capaz, sim, de levantar bandeiras de forma explícita e convencer, através de técnicas discursivas, o receptor. Mas é bom ressaltar que não há convencimento sem concordância. A cada dia podemos observar de forma mais freqüente a influência do receptor sobre o emissor, ao contrário do que antes se pensava. Qualquer produto midiático tem como primeira etapa de sua elaboração a escolha de um público alvo, e o direcionamento da sua produção àquele público consumidor.
Não é errado lembrar também dos efeitos que o sensacionalismo com que a mídia trata determinados temas pode levar a um relato deturpado dela sobre estes. Porém, a tendência Mundial é por assumir esta postura e vestir a camisa do “popularesco” ou do “sensacional”. Na Europa, o jornalismo impresso já é declaradamente opinativo, e a tendência em outros países é por produtos que sirvam a um público cada vez mais segmentado, de acordo com a forma de vida e as opiniões de quem os consome.
Em suma, dizer que a mídia manipula por si só é um equívoco escorado na “bengala” do ultrapassado conceito de “Massa” e de luta de classes. Como diversos estudos científicos vêm comprovando nos últimos anos, é correto sim dizer que os produtos midiáticos influenciam – através do convencimento – o receptor. Mas tal influência não é total, tampouco irrevogável.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Salete Lemos na CNT

A polêmica jornalista Salete Lemos, que deixou a TV Cultura no segundo semestre do ano passado, é o novo reforço da CNT. A emissora, que pretende voltar a investir em programação própria neste ano, contratou Salete para apresentar o novo CNT Jornal, que será gerado - provavelmente - no Rio de Janeiro. Além de Salete, foi confirmada a compra de um pacote de filmes clássicos que serão exibidos no horário das dez da noite, na nova "Sessão das Dez". Resta saber se Salete vai sobreviver à coceira que a família Martinez tem em vender horários da programação da CNT, e se a qualidade do novo CNT Jornal será superior ao bom nível apresentado por Carlos Chagas e companhia até o fim de 2006.

terça-feira, 25 de março de 2008

Chuva D'Outono



Tantas lamúrias, queixumes, rebarbas dos cheios-de-dedos pelas mortes insidiosas, dolosas, em prosa, dos sonhos alheios. Em verso há o verbo da criação. Somos verbo de nossos sonhos, e predicativo de nossos entes queridos. Somos almas entrelaçadas, mentes enluaradas que sonham com algo mais do que dois mil na conta bancária e o expremer do bolso no fim do mês. Somos cheios-de-dedos. E nos queixamos quando tudo dá errado para a gente e certo para os outros. Dedos cerrados! Figa com as mãos!
E cruzamos os dedinhos em nossas costas com medo de jurar a sorte do alheio, para o bem ou para o mal. Juro nunca jurar o perjúrio, pra nunca pedir a injúria. O caso da dengue nos lembra o quão entornado está o olho fechado pros absurdos que viram a esquina. Só nos indignamos com nossa casa, ou com o canteiro fétido das obras que a Prefeitura está fazendo na rede de esgoto da nossa rua. Nas filas de cada posto, gente que sentiu dor-de-cabeça e tomou aspirina pensando que era gripe. Gente da segunda dengue, pondo sangue pela boca e pelo nariz, sem saber bem se vai durar.
É triste a vida de quem não inveja os outros por não ter contas pra pagar, e que não é assaltada no topo do morro por ter segurança quase particular. Essa gente mal tem com o que viver. É hora de olhar com mais apuro pelas filas doídas do Miguel Couto, de gente que desce nos pontos dos ônibus e anda ao lado dos gritos dos cobradores das vans. Gente que vive, e que não quer morrer.
Pede-se, a tempo, o fim do mosquito. Mosquito zebrado, "pêíbê", malhado. Que vê tornozelos e peitos de pés... Batatas-da-perna, canelas e coxas. E a testa do Nelson Ned. Seriedade com o mosquito e com seu alimento. O sangue do outro não é brincadeira. Abaixo às mortes por incompetência e às vidas de inapetência. Abaixo à repetência da insanidade pública. Que todos se olhem, se fiscalizem e se salvem.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Palpites da Loteca: Concurso 303



Inicio aqui os meus palpites para os confrontos da Loteria Esportiva, que vão ser publicados semanalmente aqui no Sobretudo e Meia. Aí vão:

Jogo 1: Atlético/MG x Cruzeiro

Com previsão de mais de sessenta mil pessoas no Mineirão, esse jogo tem tudo para ser o melhor do fim de semana. Os dois times vem bem. No Atlético, apesar da falta de um meia organizador - Souza pode fazer essa função mais tarde, se estiver em boa forma - alguns jovens valores como Leandro Almeida, Renan e Danilinho vêm muito bem. No entanto, a equipe não vai contar com a segurança do experiente Marques, um ponto de equilíbrio no ataque do time e responsável por diversas assistências. O Cruzeiro jogou no meio da semana pela Libertadores da América, e pode ter dificuldades com o cansaço. A equipe parece mais segura e consistente que a do Atlético, e tem uma excelente média de gols marcados. Vou fugir do clichê de apostar em coluna do meio nos clássicos, meu palpite é coluna 2

Jogo 2: Corinthians x Guaratinguetá

O Corinthians joga no Morumbi a classificação contra um adversário direto, o Guaratinguetá. Apesar de ter perdido o elo entre o meio campo e o ataque - o meia Jorge Henrique, negociado com o Santa Cruz - o Guaratinguetá continua uma equipe perigosa, rápida e muito boa nas bolas paradas. O Corinthians tem um bom sistema defensivo, e pode contar com a volta do goleiro Felipe. É uma boa oportunidade para o meia Diogo Rincón - contratado a peso de ouro - mostrar serviço com a camisa corinthiana, e ser o meia que faltava para municiar Dentinho, Acosta e Finazzi - que não joga. Como o jogo é na capital e a Fiel deve comparecer, aposto em uma vitória apertada do Corinthians. Mas o Guaratinguetá deve mesmo se classificar para a fase final do Paulista. Coluna 1.

Jogo 3: Flamengo x Americano

O Americano fez contratações interessantes para a Taça Rio, como o volante Leandro Matera, ex-Vila Nova de Goiás e que estava no Volta Redonda. A equipe é muito dependente da bola parada com o bom lateral-esquerdo Rondinelli, e dos lampejos do veterano atacante Romualdo. Apesar de ter trocado o treinador - Sérgio Alexandre deu lugar ao competente Válter Ferreira - continua muito fraca. O mistão do Flamengo deve vencer o jogo. Coluna 1.

Jogo 4: Ceará x Fortaleza

O Ceará perdeu meio time, graças aos constantes atrasos nos salários dos jogadores. Entre os que deixaram a Ilha das Cobras estão os veteranos Mazinho Lima e Sérgio Manoel. A contratação do atacante Dejair, do São Caetano, foi interessante. Do lado do Leão da Pici, vejo um time muito "velho" do meio para a frente. Paulo Isidoro, Lúcio, Taílson, Alex Alves... Nem todos são titulares, mas a equipe pode ter problemas se o Ceará marcar em cima. Coluna do Meio.

Jogo 5: Novo Hamburgo x Grêmio

O time do Novo Hamburgo não é tão bom quanto o das temporadas passadas, e o Grêmio vem subindo de produção nos últimos jogos. Róger, Perea e Soares vêm jogando muito bem e embalaram o time. Coluna 2.

Jogo 6: Internacional x Brasil

O Brasil de Pelotas, do mítico atacante uruguaio Claudio Millar, ex-Botafogo, não deve ser páreo para o Internacional. Alex vem jogando muito, e a previsão é de uma vitória fácil no Beira-Rio. Coluna 1.

Jogo 7: Mineiros x Goiás

Me preocupa o elenco "na conta do chá" do Goiás, que praticamente não tem jogadores reservas do meio pra trás. A zaga é jovem e ainda pouco segura. O ataque, com Alex Dias, Alex Terra, Schwenk e Rinaldo - seja qual dos quatro entrar em campo - tem bom poder de fogo. O Mineiros, por onde o zagueiro Odvan andou desfilando o seu "talento", joga em casa e pode surpreender, apesar da pouca necessidade da vitória - a campanha é tranqüila com relação ao rebaixamento, mas o time não deve se classificar para a fase final. Coluna do Meio.

Jogo 8: Juazeiro x Vitória

O time do Vitória não é bom, mas o Juazeiro - time da terra de Ivete - não deve dar muito trabalho. A equipe é a vice-lanterna do Campeonato Baiano, e está longe das boas campanhas que obteve nos anos noventa, quando importunou a dupla Ba-Vi por diversas vezes. Coluna Dois.

Jogo 9: Iraty x Atlético/PR

O Iraty é um dos oito mil clubes de empresário do futebol paranaense. O Atlético/PR perdeu jogadores importantes e vem em queda livre, que culminou com a vexatória eliminação da Copa do Brasil para o Corinthians, de Alagoas. Mesmo assim, a equipe está invicta na temporada. Deve dar Atlético, mas é bom lembrar que Coritiba e Paraná Clube vêm subindo de produção e podem tirar a taça da Arena da Baixada. Coluna Dois.

Jogo 10: Fluminense x Friburguense

O Fluminense vem muito bem, e o Friburguense perdeu dois de seus pilares nesta semana: o experiente lateral Sérgio Gomes e o volante Bidu. Os dois foram para o Brasiliense. O time é um pouco melhor que o das temporadas anteriores, mas não deve ser páreo para o tricolor, que parece finalmente ter se acertado. Coluna Um.

Jogo 11: Botafogo x Volta Redonda

O Volta Redonda trocou de treinador para a Taça Rio. Alexandre Gama é competente e consegue fazer com que os jogadores subam de produção. O Botafogo fez uma má estréia contra o América, e ainda parece abalado com a perda da Taça Guanabara. O Volta Redonda pode aprontar e conseguir um empate, mas o mais provável é Coluna Um.

Jogo 12: Santos x Noroeste

O time do Santos é fraco, e deve perder o bom volante Rodrigo Souto para o futebol europeu. O Noroeste não deve contar com o artilheiro Otacílio Neto, mas tem uma boa equipe. Como o Santos anda dando mole na Vila Belmiro, aposto em Coluna do Meio.

Jogo 13: Bragantino x Palmeiras

Um jogo difícil para o Palmeiras. Esse time do Bragantino sabe amarrar um jogo como poucos, e tem bons marcadores. Vanderlei Luxemburgo, prevendo que terá de pressionar, pretende escalar Diego Souza como segundo volante. Jogo complicado, e que envolve diretamente a disputa pela vaga para a segunda fase. Coluna do Meio.

Jogo 14: Portuguesa x São Paulo

O Canindé continua em obras, e a partida vai ser realizada no campo neutro do Botafogo, em Ribeirão Preto. Portuguesa e São Paulo têm times para jogar muito mais do que vêm jogando. A Lusa joga as suas últimas fichas para tentar a classificação e o São Paulo, exausto pelo jogo complicado que teve na Libertadores, tenta se manter entre os quatro primeiros. Mais uma vez, meu palpite é Coluna do Meio.

Pegou Fogo na Taba



Me acostumei com aquele esquadrão do Guarani dos anos noventa, que deu o que falar no Campeonato Paulista e no Brasileiro. Um time que contava com Djalminha, Amoroso, Aílton, Luizão e com a exótica presença do goleiro-gigante Hiran, de quase dois metros. É muito triste para todo mundo que gosta de futebol e que curtia o Brasileirão dos anos noventa e os times que nele figuraram e que nunca mais conseguiram voltar - Bahia, Guarani, União São João, Desportiva, Ceará, Remo, Bragantino, Botafogo de Ribeirão Preto e muitos outros que estão há anos nas divisões de acesso - ver o Guarani muito próximo de um novo rebaixamento para a obscura Série A2 do Campeonato Paulista, onde o público de um jogo raramente ultrapassa o de duas mil pessoas. Preocupa também a degradação patrimonial do Bugre, em vias de vender o estádio Brinco de Ouro em uma desesperada tentativa de sanear as finanças do clube. O time desse ano é inferior ao que retornou para a A1 e foi eliminado na segunda fase da Série C do Brasileiro do ano passado. Diversos jogadores presos a empresários e investidores, mas de técnica razoável, deixaram o Guarani rumo a clubes de pouca ou nenhuma expressão. O volante Macaé, capitão durante a temporada passada - por exemplo - está atuando no futebol sul-matogrossense. Assim como o já citado caso do América, os problemas do Guarani aumentaram com a escolha equivocada do comando técnico. Wilson Coimbra, o homem forte do futebol bugrino na temporada passada, deixou o clube no início do ano rumo ao Atlético Sorocaba. Com ele, foram para o mesmo time jogadores importantes como o bom goleiro Buzetto - ídolo bugrino - e o experiente volante Umberto, que era um dos remanescentes do rebaixamento para a Série C em 2006 e que fez boas temporadas pelo Paulista de Jundiaí, formando dupla com Amaral, hoje no Vasco da Gama. Recentemente, o famigerado vice de futebol, José Carlos Hernandes, também deixou o Guarani. Em meio a um processo eleitoral e a um suposto envolvimento do ex-treinador José Luiz Carbone com a chapa de oposição ao atual presidente, o experiente técnico acabou trocando o Brinco de Ouro pelo Moisés Lucarelli, e é o atual coordenador do futebol da rival Ponte Preta. Em campo, as escolhas não foram nada boas. O zagueiro Danilo Silva, que fez um razoável final de Brasileiro pelo São Paulo foi repatriado, e o reforço de maior expressão foi o atacante Fábio Pinto, que surgiu muito bem no Internacional e nas seleções de base, mas que não consegue jogar por menos do que dois times por temporada. Ademais, a fanática torcida do Bugre - provavelmente revoltada com as más administrações - vem comparecendo em baixo número ao Brinco de Ouro, muito abaixo dos jogos da Série A2, onde chegou a levar cerca de quinze mil pessoas, ou mesmo da Série B de 2005, onde o Guarani quase conseguiu o acesso e o Brinco de Ouro lotou várias vezes. Falta ao time, especialmente, uma boa dupla de meio campo. Marcinho, ex-Ituano e Paulo Santos, com passagem por diversos clubes do interior paulista, definitivamente não vêm dando conta do recado. Jogadores das categorias de base, como os atacantes Thales e Éder - este último negociado com o Flamengo a preço de banana - deixam o clube a toda hora, e quase sempre sem qualquer retorno financeiro. A má campanha do Guarani no Paulista e a eliminação precoce na Copa do Brasil - pela Chapecoense, de Santa Catarina - são as provas do péssimo planejamento em relação ao time. Resta torcer para que a tradicional camisa bugrina traga disposição aos jogadores para que ao menos tentem apagar parte do vexame evitando o rebaixamento, e a próxima partida, o "Derby Campineiro", contra a Ponte Preta, é uma boa oportunidade para ganhar novo ânimo no campeonato e superar as limitações técnicas.

terça-feira, 4 de março de 2008

Monique Lafond, Gimenez e o Desemprego

Monique Lafond (esq) e Lúcia Veríssimo, em mais uma cena tórrida do cinema nacional. Foto: Divulgação

Neuza Borges, Mário Cardoso, Gretchen, Nahim e Roberta Close; Narjara Turetta, Cida Marques, Gel e Mara Maravilha; Ovelha e Cid Guerreiro. A seleção de ilustres personalidades dos oitenta, há muito abandonadas pela grande mídia, foi reforçada nesta semana pela deprimente aparição da atriz Monique Lafond, que se notabilizou por sua atuação em pornochanchadas e nos filmes dos Trapalhões. Monique e seus pouco mais de cinqüenta anos marcaram presença no Superpop, da inefável Luciana Gimenez. Além das curiosidades reveladas após as indiscretas perguntas de um júri de convidados, Monique aproveitou a deixa para pedir um emprego. Declarou estar fora da televisão desde que atuou como convidada especial do inexplicável programa "A Turma do Didi", onde recebeu como "homenagem" - segundo as palavras da própria - um cachê de 2 mil reais. Sem saber fazer mais nada da vida e com muito pouco do que foi acumulado ao longo de 30 anos de carreira, Monique engrossa a lista de atores, cantores e ex-jogadores de futebol que têm recorrido aos programas populares, como o já citado Superpop e o "A Tarde é Sua", de Sônia Abrão, em busca de novas oportunidades na televisão, palcos e gramados. De sua geração, que por anos abrilhantou as madrugadas da TV Manchete com as hilariantes produções da indústria pornô nacional, Monique Lafond é a única a chegar às raias do desespero. Matilde Mastrangi, sua grande "rival", vive há muitos anos com o ator Oscar Magrini, e parece mesmo ter deixado as câmeras de lado para se dedicar à uma pacata vida como "do lar", nos bastidores do marido famoso - e tão bom ator quanto ela. Roberta Índio do Brasil, outra musa das transmissões de bailes de carnaval e dos desfiles da Sapucaí no tempo em que Castor mandava, vive de pequenas pontas em novelas da TV Globo, e de cachê em cachê vai levando a vida. Melhor sorte teve Lúcia Veríssimo, uma das únicas "ex-porno-atrizes" a ter emplacado uma carreira na dramaturgia "séria" dos autores intelectuais. Benedito Ruy Barbosa a adora. Monique é a prova do desespero em um país em que 90 candidatos disputam uma vaga de dois mil reais em um concurso público a ser realizado nos próximos dias. É a comprovação de que dinheiro, fama e beleza são comidos, tal qual o deus Chronos come o tempo desde os tempos da antiga Grécia. O tempo de Monique foi comido. A ela, e aos outros remanescentes desta "Terra Paralela" das antigas identidades culturais, só resta o apego à imagem "cult" e o aparecimento em formas de mídia que exploram este tipo de identidade. Afinal, se seu tempo foi comido, sua vida ainda não.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Claudia a Jato



Foto: Página Noite de Maceió

E Claudia deixou o Babado esfriar... Após as "antológicas" apresentações no Festival de Verão e nos trios do carnaval de Salvador, Claudia resolveu entoar seu "Exttravaza" com grife própria. Explica-se: a separação do conjunto de axé abre mesmo novos horizontes para a cantora. A possibilidade de gravar músicas melhores do que os "Sullivan & Massadas" que tem gravado nos últimos anos e alguns admiradores a mais, aqueles que repelem de todas as formas os "baiano-nagôs" é animadora para uma jovem de 27 anos, quase dez a menos do que a "rival" Ivete Sangalo, e que deixou o ostracismo de histriônica estudante de comunicação e freqüentadora das micaretas de Salvador para atingir o posto de vocalista do maior grupo de axé do Brasil. Claudinha é bonita, carismática e tem boas idéias. Gosta de dar opiniões, ainda que na maioria das vezes lhe falte conhecimento da causa. Quando pega boas composições, dá um tom carismático e marcante. Só lhe falta um ítem. O principal para uma cantora: preparo vocal. Ao se esganiçar durante duas horas em cima do trio, Claudia perde a voz e o tom. Só não perde o rebolado. Não sei muito bem aonde a carreira solo irá levar "a princesa do axé". A iniciativa de manter os músicos do antigo Babado Novo é positiva, e destoa do individualismo de outras estrelas do gênero, comprovando o tão comentado "gênio fácil" da loura, outro aspecto importante para uma grande estrela em sua comunicação com um público formado de jovens micareteiras da classe média aos gritos histéricos das vozes mais pobres. Claudia sabe viver, escrever e cantar para seu povo.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A Crise do América



Foto: Tribuna da Bola

Na foto acima, os veteranos Jorge Vieira, técnico campeão carioca de 1960 - quando tinha vinte e poucos anos - e Amarildo Silveira, "O Possesso", campeão do Mundo em 1962 pela seleção do Brasil. Unidos pelo "vencerás" do hino rubro, os sessentões atenderam ao chamado do ex-todo poderoso do futebol do América, Waldir Zagaglia, demitido nesta semana junto com Amarildo, o gerente de futebol Zé Carlos - ex-goleiro do Flamengo - e que se juntaram à comissão técnica de Ademir Fonseca, responsável pela preparação do time para o Campeonato Estadual desde o fim do ano passado, e que deixou o clube após o acachapante 4x2 aplicado pelo Duque de Caxias na estréia do campeonato. Muitos são os motivos que levaram o simpático clube tijucano às quatro derrotas seguidas e à incrível marca de 3 treinadores em 4 jogos - Ademir, Jorge Vieira e Amarildo. A média de público das partidas, que gira há anos na casa dos 800, 1000 pagantes, se manteve estável desde a boa campanha da última Série C, onde a equipe vinha bem até os já tradicionais atropelos causados pela desorganização e a falta de compromisso ético de dirigentes profissionais e amadores. Financeiramente, a situação não é fácil. Nos anos 90, o América vendeu o lendário Estádio do Andaraí, demolido para a construção de um shopping center. No acordo, estava previsto determinado repasse dos lucros do comprador pelo prazo de 15 anos. Pouco tempo depois de firmado o contrato, o clube vendeu a participação nos lucros por preço irrisório a um grupo de participações. Estava assinada com a saída do Andaraí, para muitos, a morte do simpático time. Foi esta uma situação que agravou, é bem verdade, as crises provocadas por decisões estapafúrdias da CBF que rebaixaram o América "na caneta" para a segunda divisão do campeonato brasileiro nos anos 80, e que transformaram o futebol do América no centro de convenções de empresários e dirigentes ligados a outros clubes da cidade, que pouco conseguiram fazer para evitar a insolvência financeira e a decadência técnica. É bom lembrar que grande parte das receitas do estadual deste ano, em sua maioria vindas de direitos de transmissão para a televisão, foram adiantadas em 2006, e utilizadas na campanha da Série C, em uma aposta arriscada que tentava a volta dos diabos rubros ao cenário nacional. Aposta arriscada, mas compreensível. A disputa da Série B traria um aumento substancial nos direitos de transmissão, e a possibilidade de manter um time em campo ao longo de todo o ano, evitando os tradicionais desmanches pós-estadual. Para muitos sócios e conselheiros, só há uma solução: a venda da centenária sede de Campos Salles, localizada em uma zona privilegiada da Tijuca, zona norte do Rio. As negociações, inclusive, já teriam começado para a construção de mais um shopping da região. Para outros, a mudança definitiva do América para o município de Mesquita, na Baixada Fluminense - onde fica o estádio de Édson Passos, inaugurado em 2000 - significaria a separação definitiva entre um clube e sua alma, sua gente e seu jeito de torcer. Nesta semana, o bom técnico Gaúcho - zagueiro do Vasco nos anos 70, e que já passou por clubes como América Mineiro, Madureira e o próprio América - foi anunciado como o quarto comandante da equipe em apenas cinco jogos. Provavelmente, um recorde nacional. Um título para um clube que há muito não dá à sua apaixonada torcida a correspondência necessária a qualquer amor.