terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O Que Será?

Um dia qualquer, luas minguantes atrás, duas doces vozes se abriram e, metálicas, ressaltaram o que eram: duas preces de amor eterno embebidas na acalentada esperança de um amanhã comum, infinito e intrépido. Os dois amantes, cansados das despedidas nas escadarias do metrô, foram mãos dadas por aí e noites passadas na rede, sob o russo da névoa gelada de algum lugar. Edredons beges, estampas de ursinhos, Mickey Mouse. No pé da boneca Marina, um "eu te amo". Até as tranças louras da boneca já sabiam: eram saborosos uníssonos as tardes de amor e dor no asfalto quente da Tijuca. Enclausurados em risadas e ventiladores, os dois contavam nomes de filhos e expiavam, em cada suspiro final, os pecados de outrora no mais puro e impávido dos sonhos. E foram quatro anos. Muitas luas, muitas mortes, muitos partos. E até os que não vieram. Beberam do azedume do tempo, marcaram a ferro em brasa suas iniciais, afagaram o peito um do outro com um acalento de sorte e de encontro. E bastava o silêncio. A mão pequena e seus três anéis, um em cada dedo, acariciavam o peito do amado e, sob um olhar sério nas íris castanhas, você prometia o seu amanhã. Só assim pra não sorrir. Se apertaram em carros, levaram vasos de flores pra lá e pra cá, arrumaram camas - muitas vezes! - e dedicaram um boa noite sereno, seja aqui ou acolá, para esperar em pranto a manhã seguinte em uma ensolarada Afonso Pena ou nas amendoeiras do Rebouças. E foram sorvetes, jujubas e doses de champanha. Nos tempos idos, de contar centavos, dividiram um saco de amendoins e uma lata de Coca-Cola. Ah, o teu sorriso! as revistas impudicas abertas em público, os teus palavrões, a tua falta de decoro. As minhas corridas contra o relógio. Os nossos beijos, os nossos planos, os nossos cantos... onde estarão os teus? E vi, noites atrás, as lágrimas descerem descontroladas e molharem as blusas na praça, mais uma, que testemunhou nossa dor maior. E a súplica, e a volta, e o triste fim. O teu ardil. As palavras dosadas, as mentiras contadas, meticulosamente contadas, os disfarces e impropérios. A minha morte em vida. Você me amou pavão. O afogou. Me abandonou pombo moribundo. E o despachou. Isso é detalhe no seu caderno carimbado. Ao me amar demais e não me ensinar a te esquecer, me fez calopsita aprisionada em uma gaiola de aço saudosa dos melhores dias que já vivi.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Niilismo

Volto a tentar, nunca cessei, acredito e espero. Em passo bêbado, acalmo as feras e peço além: raio de sol, verdade absoluta, felicidade inculta. Amar novamente. Amar pela primeira vez. Crer no impossível e no insensível. Ver o toque. Me embebedar no teu perfume. Ler, dizer, cantar. Gargalhar. Denúncia forte de sonho eterno, dorme menino. Acorda rapaz. Morre o que sempre foi: apaixonado. Vive em ode a um nome de novo. Atravessa as ruas. Corre. Pára. Pede um só minuto. Implora, interpela, enclausura. Bebe mais um gole do que viu. E é. Pede a voz. Acrescenta, multiplica, destrona e volta a entregar o cetro e a coroa. Miss Brasil. Em ode niílica ao amor de agora, escarnece. Ele é o grito de amor na praia de Copacabana. É a declaração. É o primeiro da fila. Aplaude de pé. Reverencia. Pede para amar.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Never More, Lenore


Desceu, perplexo, os degraus de outrora
Olhou, atento, o perpassar da hora
Vibrou, em tempo, a voz que ouviu lá fora
Achou, jumento, o som frio do ir embora

E viu, moribundo, que a morte já morreu
Pois fez, rotundo, um canto aqui no meu
Mostrou, no fundo, a voz que já chegou
Cresceu, imenso, o carrossel do afã

E fez, em vão, a prece de quem crê
Sonhou, então, com os olhos de quem vê
E ouviu, lá atrás, chamar quem sempre esperou
E abriu, lilás, a porta entrar o amor

Pois faz, e bem, quem ama sem pedir além
E diz, assim, que a flor nasceu em meu jardim
Mas traz, por trás, o canto de um trovador
Que mais que um ás, é jura de ser sonhador

Pois quem faz bem é vida pro amor também
Mas fiz, porém, as dores que vivi tão bem
Em voz, assaz, te digo como portador:
Me faz nascer, e sempre além acreditar

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A pele em que habito


Lápides diversas, espalhadas por ilustres mausoléus, descrevem, funestas, as dores pérfidas das vozes que se foram. Gargalhadas na ceia de natal, enterro dos ossos, faca a destrinchar um tender embebido em óleo. Meio guardanapo. Quatro mãos se foram.

É o fim. Desprovidos de sofreguidão, correram mundo em busca de sossego. E desapego. E passaram-se tardes, noites e manhãs - especialmente as tardes, hoje solitárias nas salas de cinema - sem que dessem conta de que foi melhor assim. E se livraram de uma boa! Desolados, foram voz e vez nas madrugadas, monólogas madrugadas, nas maratonas ciclotímicas do sofrer e da saudade, embevecidos pelos beijos de outrora, pelas juras que se foram, as verdades vãs e as mentiras, estas bem verdadeiras, que ouviram e têm de ouvir até hoje.

Mesma voz, vê bem: de hoje em diante, cada verso terá um código de barras. Exprimirá, junto às letras, seus sabores e sofreres. Correrá pelas calçadas chuvosas, ouvirá muitas festas de criança, falará pelos cotovelos. E também pelos joelhos, cabelos e nossos dentes de mentira. Que não quebrarão! não há milho que os façam quebrar. E não partiremos. Veremos por aí, nas casas abandonadas e nas preces mal-contadas, cada floco de falta imensa e de desabafo. E quantas frases diremos? todas! E só uma. Ao fim das contas, só uma interessa.

Vide a bula, afirmo e dou nome aos bois. A surpresa da vida é acertar no milhar. Em vistas ao sonho, revisito o que sempre fui e jamais deixei de ser. O último. E, sempre do fim da fila, observo consciente que a entrega nunca é demais, ainda que num púbere sorriso. Que ouça a voz e sinta a palavra, hoje e sempre.

sábado, 12 de novembro de 2011

Graf Zeppelin


A força desvairada do devaneio pula no encalço da saltadora faminta. Espalha por aí, entrementes, que o surdo é marcação de seus passos não cumpridos. É canto de morte no uníssono do atabaque fúnebre, etéreo, que realça em sua voz o que é sem ter sido e o que nunca foi, mesmo quando o foi. Vê, embriagado de paixão, as doces retinas por trás do cristal e apronta, para ontem, dois ou três versos de amor para quem não sabe que existe. Ela é musa sem saber.

Todos os dias, escova a relva negra com a pressa dos imperfeitos e o pranto dos destemidos. Prepara o café. Lê, aflita, as dores que passou e ressoa, impune, o que sempre quis ser. Ela é a voz na imensidão. A palavra, o cavalo alado, a armadura. A boina cubana. A unidade.Pensa no mundo, na dor dos outros e no almoço das crianças. Faz treino-apronto.

Ouve, só, na neve d'alma que o vazio do inanimado é pura conversa para boi dormir. E entulha paixões, deserta nomes e os esquece, solene, na névoa infame dos que se perderam. A musa nem viu, nem se encontrou. Longe do clamor que seu nome causa por aí, mal sabe a nereida do torpor que faz trazer e da saudade, mandada, que aperta a aorta do poeta e faz a solidão palpitar. Trôpego pelas vielas dos que não têm, o equilibrista sufoca de sonho a palavra viva que aponta no dicionário e o faz assumir seu desejo maior, tão insolente quanto puro, de sentir-lhe rasgarem a alma e lhe observarem o avesso.

Pela eternidade, e mesmo quando não estava, o pierrô atravessou a rua sozinho. Interno de seus próprios anseios, sevicia-se no flagelo que é procurar a mão amada, não conseguir lhe mostrar o que representa e pedir pelos cantos um segundo de sua voz de framboesa. Que marche o pobre soldado, cabeça de papel, e que a musa ouça com a alma quem motiva as suas letras.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Mascarada

Desnuda a farsa, encantada. Se esvai em lágrimas e pensa em prole, por instante, em torpor de riso na face, olhos que brilham e voz que escorre, tão menina, pelo canto da mente. E crê, poente, que a máscara negra de outrora é pôster em branco e preto do carnaval que se foi. "Eu sou aquele pierrô que te abraçou, que te beijou, meu amor..." a velha imagem de sempre. O bobo apaixonado, em sua côrte, corteja e goteja seus pingos de sonhos e porventuras. Insone, se escalda, se esbalda, se deleita de pêssegos em calda. E afirma, solene: há de amar só mais uma vez. Só mais uma. Que seja a última máscara a tirar e a última face a beijar.

sábado, 5 de novembro de 2011

Pater Noster


John Do abriu o guarda-chuva londrino, amarrou os sapatos, anotou o horário, abriu a janela e pulou do décimo oitavo andar. Nevava em Swindon, Wiltshire. Jorge Henrique bradou aos ventos, vendou os olhos, pediu perdão e saltou. Morto, foi coberto por um velho jornal no campus da UERJ. Marina cortou os pulsos. Renata, os calmantes. Rita Hayworth, como Doña Sol em "Sangue e Areia", arrancou os dois olhos e pôs em uma jarra de suco de tamarindo. Lucas morreu. É, morreu. Só, sem drama, sem vela. E foi carregado, em uma noite de setembro, por oito dragões da independência, quatro de cada lado. Espadas na cintura, crinas engraçadas nos capacetes. Cavalos, banda marcial. Tiros para o alto. Estava enterrado o amor. Seus amigos o velaram, lágrimas nos olhos, com recato e compaixão. "Ela fez a maior besteira da vida dela", comentavam os emplumadores de pavão. Ele, também. Ao se entregar à morte em vida pelo amor de quem se foi, se fez rufião. Sim, rufião. Castrado. Todos os dias, ia até Duque de Caxias ou à esquina comprar pão com os olhos no chão e os pés, já naturalmente tortos, em uma humilde posição de convergência. Ambos apontavam para o centro. Foi o dia em que sentiu as batidas em seu caixão andante. Roxo, escaveirado e com a cabeça raspada, ouviu palavras de alento, sentiu pegarem-lhe as mãos e uma pontada qualquer de ânimo e renascimento. E se fez presente. De cada verso, insolente, mandou cartão-postal. Escondeu, retraiu, refletiu... e encontrou. Andarilho, quebrou as amarras de pinho que o prendiam ao além no alvorecer da vida. Fez manhã de sol, tarde de praia, noite de verbo. E cantou nas madrugadas quando, insone, repensou seu bem-viver. "Passa a viver por tua causa, ergue os braços e levanta essa cabeça, anda!", ordenou a voz amiga. E se tornou saltimbanco do amor para dar, passo trôpego de estupor e saudade, âmago de amizade e, eunuco que esteve, paixão seleta e proibida. Hoje, redivivo em suas posições e renascido em seus sentimentos, é brado bem diferente do de Jorge Henrique. É crença, espera e sonho. É certeza por aí. É chance, é pranto... mas, vivo está. E, em vida, será o que sempre foi: o cavaleiro errante que bate de porta em porta a procura do amor eterno e pranteia pelo som da chave desta vez.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Utopia



























Passo a passo na calçada, perpasso cada esquina no afã de me encontrar. Dádiva sofrida carrego e espero, atento, o teu retorno ou o teu pudor. Vejo com carinho e com saudade seus pés brancos, peço e despeço de tuas raras reinações. Trago, amofinado, tua dose de veneno. O teu dedo em riste, tua prova, tua causa. Tua utopia! Vê, serena, o quanto se ama por aí. Ralos tragos de paixão, juras falsas e descrenças. E cá, seleto, vejo a lágrima das íris castanhas escorrerem e pedirem por um novo amor... favor? Pede a quem te guia e escala solene e fria: sou menino ao teu lado com tua voz e utopia. Dá de cada mão uma prece, em cada gota de suor estremece, e cai de vez na tua cura. Me faz renascer. Afinal, sob o sol escaldante, uma linda história se passou. Dois mortos secos no deserto. Duas almas. Mesma crença.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Acredite se Quiser

Caiu do cavalo, doce cereja do bolo. Espartano, acordava todo dia com os galos. Estufava o peito, batia com o punho cerrado do lado esquerdo e comemorava um gol: é minha, é minha, é minha. Ia ao tanque do carro, pegava uma caneca e bebia um gole de gasolina. Espirrava furacão. Quando todos acordavam, já ditava ordens ao quartel. E era juiz, bedel, vigário e carrasco. Só lhe adoçava a boca quem lhe atiçava o corpo. E beijava, cazaque, os dedos russos da amada. Mordia, sugava, roía as unhas e tirava o esmalte. E chorava, com o lóbulo da mulher entre os dentes, a sorte dos bem-aventurados. Tinha tudo o sargentão. Agora, traído, é fina flor da peleja perdida e vaga trôpego pelo meio-fio da Conde de Bonfim. Cabeça baixa, olhos marejados. Queixo caído. Matuzalém mandava no seu cercado. Cem anos além, com as portas e janelas cerradas, é pose amarelada em um negativo de vidro. Deus o tenha em bom lugar.

domingo, 30 de outubro de 2011

Eu não vi. Mas...

Acossado nos garranchos do papel, o dito amor se espreme e exprime o que foi e nunca deixou de ser. É peça de museu, estopa encardida, letra de Noel. É dor lancinante, febre incessante, estupor dilacerado. Em cada laceração, uma nota sua: e de zero a dez, que nota eu dou? As lágrimas perdidas do pierrô molham o antigo caderno que reúne as tuas bravatas, tão tuas! as juras, as peças, as curas. É perfeita a solidão. Não vê, colombina, que a voz desnuda do poeta é grito de morte? Os decibéis do pobre palhaço, com tanto estardalhaço, marcam a ferro a prole que não vem. Ah, deu cria! Até parece! ride, palhaço! Ri do que foste. Desembaraço nas mãos de quem te humilhou, rascunho em fá de uma pauta triste... e olha, sereno, o maciço d'água pelas pedras do Arpoador. As carnes em exposição não são mais tuas. Nem vozes, nem juras, nem nunca mais. És mão a procura d'outra, tão solene, a fazer a máquina girar de novo e o começar de... uma outra ilusão? Bem-vindo a teu novo número, pierrô! e vê se toca a lira direito desta vez!

sábado, 15 de outubro de 2011

Lucas Alvares na Cova dos Leões

Escava, escrava, a dor profana de tua clava forte. Impávida, ergue os braços e conclama: cai, incompatível! rasteja por teu sonho, vá de retro, desempana! Empanzina de furor, oh meu amor, teus dedos melados de merengue e dá cá, morangos, tua taça de champanhe. Pera lá! E vê, voz aflita, o quanto descartar foi descartável. Encalacra tuas escolhas na engrenagem da soberba e até lacra, se quiser, o pote de ouro atrás do arco-íris. Eu não acredito em duendes. Mas tua voz, perene, ecoa a gaguejar pela mente do poeta e ressoa nas paredes das grutas e cavernas: não dá, não dá, não dá. Ao desistir da felicidade, o ente somente descarta seus melhores dias no afã de um pouco a mais. E como haverá de ser? Pois quem amou de verdade, colosso de suas vontades, bateu no topo do termômetro. E eu creio, esquartejado, nas verdades insondáveis. Me entreguei em nome do que havia de mais sábio, profano e humano. E alberguei tua alma na minha por quatro longos anos. Agora adormecida, tua voz adocicada é recado no bolso do meu paletó, nome gravado no celular e fotografia arquivada no porta-treco... "Lembrança de Miguel Pereira". Perdeu-se, divina. Em ode ao que sempre fui, digo a todos que vão saber: me arrastarei de amores aos pés de quem se importar e não descartar. Pois amar, ao fim das contas, é bater o pé. Descanse em paz.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Brisa Salgada

Fui voz do teu violão, luar do sertão, som da madrugada. Fui beijo de cinema nas pedras do Arpoador, doce amargor. Fui chama que clama, velho que ama, morte sem dor. Fui vida severina nas juras de eternidade, estupor, torpor e estufa. Fui sufoco, fui sorte vã. Trocado na esquina pelos tostões de quem não jura nada, fui perjúrio do eterno, desci ao inverno e me deflagrei. Fui verão, primavera e outono. Fui você, cada dia, devastado, encantado, destinado a morrer de amor e viver por um só nome. Fui sono a teu lado, sonho em tua cama, seleto dom de palavrear. Fui quem sempre quis, em ode ao que vivi. E o que resta ao que sou? Um triste retrato na carteira. Os dois amores, uma cara de criança. Não dá mais. Não tem jeito. É o que eu digo a respeito. Quer saber? Eu não fui coisa nenhuma. Da borracha da melancolia, nasceu a triste certeza. Eu sempre serei a voz a te acalentar e a peleja por te ter nos braços. Parabéns, voz perdida.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Amigo da Madrugada


Mão na fita, pano rápido. O velho colega virou estátua ao lado do "dedo-duro" da Rádio MEC. "Se vocês querem saber quem eu sou... eu sou a tal mineira...". Versos fortes, antigos brados. "Olha ela aí", disparei com um sorriso constrangido. O enamorado, com quem trocara duas ou três palavras até ali, embevecido, enxugou as lágrimas sobre as bolsas do tempo, retornou o sorriso, fez ar de quem concordava e apontou para o céu. Ela o deixara, muitos anos atrás. Procurou um amor de esquina, não menos brilhante, e com ele passou o resto de seus dias. Mas, no coração apaixonado, o olhar perdido de quem foi embora era retumbante o suficiente para arrancar cada lágrima. Ficamos ali, abraçados, a ouvir a voz da amada como dois amigos de longa data. E é possível resistir?

Sabiá, que falta faz sua alegria
Sem você, meu canto agora é só melancolia...
Canta, meu sabiá, voa meu sabiá
Adeus, meu sabiá... até um dia!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Estribilho

Quero que saibas que a clava funda
Amarga, esfrega, refrega a luta
Esboça, estraga, desgraça a fuga
Me mostra, enlaça, desbraga a turba

E cala os dedos tolos, de vozes vãs
Escala a flor perdida, doce hortelã
Esmaga o teu sumo, sai do teu prumo
Vê tua voz desfalecer

E crê, finada, que perdeu teu rumo
Pois sente a dor do ressoar profundo
Profana o corpo, devasta o teu futuro
E mostra, insana: tão bela quanto amei

Exala o som do teu bem mais puro
E traga a gota do teu fel mais duro
Pois é triste o que se tornou
Se é viva, se te canta, como não é mais meu amor?

E afirmo: a bela que amei não mais respira
E a morte, sagrada, a minha dor inspira
Morte em vida, que escarnece
E em brasa, faz questionar:
Onde encontrarei o meu lugar?

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Debandada?



Dedicado a quem amou nos escorregões e nos contratempos, nas graças e desgraças, na morte em vida e no renascer. Dedicado a quem sofreu por amor e renasceu da vida eterna... eterna? Pois que vivamos o que sempre fomos e sejamos o que somos, step by step, na busca intermitente pela felicidade - entre cada gole d'água, lágrima de saudade ou nó na garganta, um passo adiante. A quem se entregou em nome do que há de mais sublime, tudo o que há de bom na vida a oferecer!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Por um bom tempero...

Em cima da hora, impero a meus embolorados dotes de poeta: vem cá, solidão. Faz de cada dose cianurética de sofrer um pouco mais de sorver. Sorve a minha vida, otimismo! A cada beijo de um grande amor, eterno em me perder, acho-me apaixonado e enlutado por tantos dias, horas e minutos de distância e frieza. Como é ensolarado o meu amor! Ensaboado por doces mãos, juro a eternidade e sonho à vontade com o bem que está no porvir. Unha e carne, sumo e casca, saborosa tangerina. Somos vida que bate no compasso de uma alegre feijoada. Somos reunião, vozes entrelaçadas, dedos sintonizados, lábios amargurados... somos furor e dor de amor, cotovelos, peitos e calcanhares de aquiles. Sempre fomos os melhores, amor... com o sonho realizado, bem melhores, vi na pequena seu verdadeiro ardor: de ser meu tempero, meu encanto e meu pranto... meu pranto, graças a Deus!

domingo, 14 de agosto de 2011

O silêncio dos inocentes


















De tudo o que se disse - e além - só faço um porém: quem ama desesperadamente não consegue silenciar o seu amor. A ode ao junto, em louvor à companhia e ao encontro, será sempre mais portentosa e soberana. É possível afastar dois amores. Deixá-los cada qual em um pólo do planeta, emburrados e desgostosos do futuro é tarefa para quem vê na solidão uma boa arma para a reflexão. Entretanto, só quem ama vê no desejo de amar, de tocar as profundezas da alma amada, o melhor de todos os remédios. A reflexão e a penitência são nossas hoje, amor. Durante todo o dia. Espero amanhã voltarmos a ser companhia e sonhos bons.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Quem sabe a morte, angústia de quem vive...



























Lê, serena, a contracapa da dor eterna. Parágrafo morto, em prosa de bôto a encantar, sirena, o estraçalhar de ossos dos náufragos perdidos. O filho é do bôto. Dor de amor não tem mãe nem pai, é criação colaborativa. Grude nos seus caquinhos, durepox nos meus, juntamos juntinhos os pequenos flocos de eternidade que se espalharam pelo chão da velha praça - mais uma - enquanto buscávamos, solenes, o acalentar de um novo tempo. Defesas solenes, velhos bôtos, mortes-vivas. Mostro ao monstro, pequena, que minha dor é bem maior que meu pudor. Não cabe disfarçar nem negar a solidão, a dor eterna do fim de mundo ao qual o amor me condenou. Só sente doer quem pode amar. E vive, e sonha, e chora, e clama: espero o meu viver, espero o teu cantar. Não caí no conto, mesmo tonto, e pus no coração cada pedaço de aflição. Suicídio? Nada. Bom sofrer. Só ao morrer de amor se descobre a dimensão do ente amado. Em cada velho pedaço de vidro, um beijo, um decreto, um sonho bom. Juras de amor eterno. Pérfidas flores em forma de palavra, que enganam e praguejam a dor lancinante da reta de chegada. A saudade boa virá, como todas as outras. O sofrer que prende pés a bolas de ferro e mãos a velhas algemas, que amordaça os urros e os sussurros. As pequenas mortes de cada dia, as boas sortes e as boas horas. Os filhos que não tivemos. As saudades do que não vivemos. Em cada sorriso haverá o teu brilho, em cada voz a tua frase, terna e cálida: você é a minha vida. E ela hei de viver, morte em vida, vida após a morte ou o que o valha. Em único tomo de minha breve existência, em cada caco partido de nossa velha taça de cristal. Que assim seja, coração perdido. Leva a tua dona a ser o que sempre foi, a única alma que te fez bater.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Decisão da Riotur pode extinguir escolas de samba dos grupos inferiores.

No carnaval de 1997, apenas uma Grande Sociedade apareceu para desfilar na Avenida Rio Branco. Era o momento final de uma tradição de 150 anos que se encerrava em uma melancólica procissão de algumas dezenas de foliões com fantasias do ano anterior, préstitos mal cuidados e uma tosca bandinha a entoar sucessos do passado. Perguntados sobre as razões para a decadência e extinção das Grandes Sociedades Carnavalescas, seus remanescentes respondem em uníssono: o abandono por parte da Riotur. Relegadas a subvenções insuficientes para manter viva a tradição do carnaval carioca e sem receberem intermediação do órgão municipal para apoios e patrocínios, as manifestações centenárias viveram seus últimos dias no mais completo esquecimento.

Após 14 anos, é a vez de nova decisão da Riotur colocar em risco a continuidade de verdadeiras instituições sagradas do carnaval carioca. A proposta apresentada à Associação das Escolas de Samba de reduzir as escolas dos grupos C, D e E, atualmente quarta, quinta e sexta divisões até 2014 levará ao fechamento compulsório de escolas tradicionalíssimas do carnaval carioca, responsáveis por sambas históricos e desfiles memoráveis. Atualmente, há 72 escolas de samba em atividade no Rio de Janeiro. A determinação da Riotur é que em apenas três carnavais este número seja reduzido para enxutas 60. Se considerarmos que o atual Grupo E tem 12 escolas, isto significa extinguir uma divisão inteira. Atualmente, desfilam pelo último grupo nas terças gordas da Intendente Magalhães, em Madureira, escolas do quilate da Unidos de Lucas, União de Vaz Lobo e Canários de Laranjeiras, todas muito tradicionais e que representam suas comunidades há décadas.

A alegação da Riotur é distribuir com maior justiça as subvenções, hoje insuficientes para colocar uma escola de samba na rua. Mantendo-se o valor e reduzindo-se o número de escolas, a matemática pura prevê um valor maior a cada uma. Ao estimular a competição excessiva entre estas agremiações, não é de se espantar que logo todas elas sejam financiadas diretamente pelo capital ilícito para passar pelo "corte" e conseguir sobreviver. Reduzidas as outras pelo neoliberalismo do samba a duas alternativas: a extinção ou transformação em blocos de enredo, transformam-se em cinzas fora da quarta-feira suas tradições e legados, tal qual a prefeitura deixou acontecer com as Grandes Sociedades.

domingo, 24 de julho de 2011

O que há de vir


A torpeza dos maus verbos transborda da calha de teu peito: pisa, chuta e escarra nas dores perdidas e causas vencidas. O que se foi, não há de ser mais. Havemos de amar o que sempre fomos, lânguidos versos de lábios que somos em uníssono a entoar o que há de vir. Amo-te, incrédulo que as mais pérfidas cores sejam tanto para satisfazer nosso matiz de sonhos e tempestades, unidos que estamos em vida e sorte além da porta do grande sítio. Vivemos, pequena, em troça de nós mesmos, a espalhar nossa pilhéria a cada alma que cruzar nosso caminho. Ri de tuas flores. Somos muito vivos em nossos sabores, amados e amantes, fatalistas e amargos. Amo-te com o fígado. Para cada nova dor, uma bela resposta. Não te perco e nem te acho, pois não te abandono e nem morto aprecio o sofrer. Trata-se, apenas, de adorar o que és, meu anjo, a sonhar embevecida com cada mindinho entrelaçado e cada beijo estalado, cada vez mais espaçados e destinados à eternidade.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Demissões em massa na FACHA entregam mais uma faculdade aos "valores do mercado"

Desde a última sexta-feira (1), uma das mais tradicionais faculdades de Comunicação Social do Rio de Janeiro passa por uma das maiores crises de seus 40 anos de história. As Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), sob controle do grupo Comatrix, promoveram demissões em massa entre seus professores e coordenadores. De acordo com uma lista que circula entre os alunos da instituição, deixaram a FACHA 14 professores e os coordenadores de ensino, pesquisa e extensão, Dráuzio Gonzaga, e de publicidade e propaganda, Aluízio Pires, além do assessor pedagógico Naílton Maia. Justificados como parte de um processo de reestruturação da empresa "de fins filantrópicos", os desligamentos indignaram alunos e professores, que ameaçam deixar de pagar as mensalidades se não forem apresentados os devidos esclarecimentos.

A Comatrix, contratada por instituições privadas para serviços de "gestão empresarial", é conhecida pelas "reestruturações" que promove após a assinatura de seus contratos, em especial com instituições de ensino. Nas passagens anteriores pela universidades Estácio de Sá e UniCarioca, legou um rastro de cortes de pessoal e arrochos salariais. Especializada em gestão à brasileira, demonstra ver na redução de custos a missão do empresário na Terra, e no aumento das receitas um cume inatingível, afinal os impostos e o Estado são sempre os culpados.

Revoltados, os estudantes da FACHA realizam ao longo desta semana uma série de debates e encontros para discutir a crise na instituição. Em um deles, receberam um representante da empresa gestora, e este confirmou que "houveram algumas demissões". Posteriormente, em assembléias com dirigentes da faculdade, tiveram negados os rumores de que os profissionais demitidos seriam substituídos pelas indefectíveis "aulas semi-presenciais" - à moda da Estácio - e que haveriam novos cortes ainda neste semestre. São comuns as queixas de formandos que perderam seus orientadores e, em especial, contra a atitude de incluir uma antropóloga de 81 anos de idade, mais de 30 na casa, entre os demitidos. E o fim da picada: a proposta feita pela gestora a ela e aos colegas - parcelar o recebimento dos direitos trabalhistas em dez vezes ou ter de recorrer à justiça, em uma atitude amoral.

A entrega da gestão da Hélio Alonso, um dos últimos bastiões do ensino de qualidade e do jornalista-pensador no Brasil, a um grupo que apresenta larga experiência na transformação de instituições de ensino tradicionais em corporações à brasileira, representa muito mais do que os empregos perdidos por 17 chefes de família que culpa alguma têm das intempéries pelas quais passa uma empresa. Representa o triste retrato da submissão de nossas instituições de ensino aos mais obscuros interesses do mercado financeiro e de seus valores e condutas. Ao desrespeitar um trabalhador, no afã de parcelar 30 anos de dedicação em dez vezes - como as prestações de um sofá - os gestores abraçam o que há de mais imoral na relação entre o capital e o trabalho: o total desinteresse, ou mesmo repulsa, de um pelo outro.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Educação Especial versus Escola Inclusiva: uma guerrilha ufanista em que todos saem perdendo

Benjamin Constant Botelho de Magalhães (1836-1891), poucos sabem, foi o primeiro ministro da educação do Brasil. Responsável pelo Ministério da Instrução Pública durante o governo provisório do marechal Deodoro da Fonseca, Constant deu continuidade às políticas públicas que desenvolvera nos últimos anos da monarquia, e que mantém ecos na educação brasileira até os dias de hoje. Duas delas, em especial, se tornaram parte do cenário da cidade e formaram milhares de cidadãos nos últimos 120 anos: o Instituto de Educação, nascido Escola Normal da Corte, e o Instituto Benjamin Constant, antigo Instituto Imperial dos Meninos Cegos. Mais do que duas escolas, as instituições representaram um marco na inclusão social durante o ocaso do Império, e sinalizaram para as reformas liberais que a Princesa Isabel pretendia adotar no país. Mais de um século depois, o Instituto Benjamin Constant tem na ponta de seu longo processo de sucateamento a ameaça real da desativação. Autuado pelos entendidos de plantão como segregacionista e atrasado, tem defendida a sua substituição pelas salas de aula convencionais em que as crianças cegas conviveriam com colegas "videntes" do ensino fundamental.

É doce o sabor do discurso em prol da escola inclusiva. Ninguém discute que uma sala de aula deve estar preparada para receber alunos de todas as origens e limitações. Também não é difícil defender que a convivência saudável entre uma criança portadora de necessidades especiais e outra que se desenvolveu sem elas pode trazer benefícios para ambas. No entanto, são notórias as dificuldades da rede pública de ensino em prover as mais elementares necessidades para a atividade. Como imaginar que uma escola que não tem um quadro negro em bom estado possa disponibilizar o ensino do método braile, que requer aparato especial e profissionais treinados? Em se tratando dos surdos, haverá intérpretes de Libras em número suficiente? A resposta, a despeito das boas intenções de muitos diretores que trabalham com a inclusão em suas instituições, é tão pronta quanto o discurso doce dos defensores intransigentes da inclusão no ensino regular.

Ao agir em defesa da extinção progressiva dos estabelecimentos de educação especial, o ministro Fernando Haddad fecha as portas para a mão-de-obra especializada presente hoje nestas instituições, toda concursada nos anos 70 e 80 e em fim de carreira. Ajuda a encerrar também as relações quase familiares existentes entre o núcleo de alunos, funcionários, pais e professores do IBC e assume os riscos e responsabilidades que o discurso ufanista da inclusão a todo custo trará. Assina, finalmente, o sepultamento de uma das mais bonitas páginas da inclusão através da educação já escritas no Brasil: a luta do educador positivista Benjamin Constant, que acreditava na universalização do ensino e que em todos, independentemente de suas limitações, é possível despertar o conhecimento e o sonho de construir um novo país. Extinta em breve a casa histórica, entregam-se também os cegos à mediocridade da grade curricular convencional.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Biblioteca Nacional: descaso com a memória é queima de arquivo


O Paiz, uma daquelas publicações que deram origem a todas as outras, foi muito mais do que um órgão oficioso da República Velha. Foi, à moda da Tribuna da Imprensa, uma das maiores vítimas da intolerância política da história brasileira. Perseguido em seus primórdios por monarquistas, viveu anos de primavera durante a proclamação e consolidação da República. Foi só Washington Luiz sair preso do Catete para que uma turba enfurecida invadisse, empastelasse e incendiasse a redação do jornal, em 1930, em um dos episódios mais marcantes da Revolução. Pois bem: os alfarrábios da Biblioteca Nacional revelam dois outros períodos de publicação da histórica folha de Quintino Bocaiúva, ambos de curta duração: 1934 e 1968.

Em 1934, durante o sopro democrático da Assembléia Constituinte, fez circular moderadas críticas ao governo Vargas. Foi o suficiente para que, tão logo Getulio fosse eleito indiretamente, saísse de cena. Estes meses surgem, para espanto dos pesquisadores, ao fim da coleção do jornal e não aparecem nos catálogos da Biblioteca Nacional.

Se o pouco cuidado com a coleção de 1934 chama a atenção, a destruição da memória de um dos maiores jornalistas brasileiros gera perplexidade. Em 1968, por outro curto período, Joel Silveira relançou O Paiz como um jornal de esquerda. O discurso combativo de Joel, marxista da velha guarda, pôs fim à trajetória do diário com o AI-5. O escândalo mora aí: a publicação "subversiva" aparece nos catálogos da biblioteca como disponível. Consulta-se o acervo, e nada. De lá, desapareceu misteriosamente com outras publicações de vanguarda.

As duas primeiras edições de O Tico-Tico (1905), subtraídas das prateleiras da instituição em ação inviável sem a conivência ou imprudência de seus funcionários, se revelam como uma pequena parte do descaso maior do povo brasileiro: o ato contínuo de apagar, dia após dia, sua História e seus personagens.

Entregue no governo Lula à presidência de Muniz Sodré - homem das salas de aula e das diatribes sobre a notícia - e desde janeiro ao jornalista Galeno Amorim, convive com seguidas greves de seus servidores e tem o processo de digitalização de seu acervo estacionado há anos. Disponível na Grande Rede em doses homeopáticas, o acesso às publicações para pesquisa pessoal ou inclusão em trabalhos acadêmicos é vinculado ao pagamento de taxas abusivas, muito superiores ao custo da cópia ou mesmo da mão de obra para se transformar um microfilme em papel impresso. Seus microfilmes, aliás, sofrem com o desgaste do tempo e os freqüentadores reclamam do mau estado do equipamento necessário para a leitura nesta obsoleta tecnologia.

Outra nota triste: a digitalização da Última Hora em seus tempos áureos é toda feita em São Paulo, no acervo público estadual. Um dos títulos mais tradicionais da imprensa carioca, pioneiro no jornalismo popular, tem sua memória preservada por uma instituição distante dos grandes nomes da UH que poderiam auxiliar no processo de preservação. O resultado: escaneia-se a folha, mas não se revive o jornal.

Preservar a memória é um ato contínuo, muito mais nobre e trabalhoso do que a mera reprodução. É unir a alma de cada publicação, extinta ou corrente, a seus personagens, leitores e pesquisadores. Só assim é possível escapar da queima de arquivo que condena títulos que contam a história do Brasil ao mesmo esquecimento a ela relegado.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Tribuno, Abdias morreu sem voz

Enquanto nascia em Franca o menino Abdias do Nascimento, em março de 1914, o genial cineasta norte-americano D.W Griffith esbravejava determinações a seu batalhão de figurantes ensopados de tinta preta durante as filmagens do clássico O Nascimento de uma Nação (1915). O épico, que retratou os horrores da Guerra Civil Norte-Americana, reascendeu um dos mais curiosos movimentos culturais da história do ocidente, e que até os nossos dias se faz presente em parcelas da sociedade americana: o lost cause, causa perdida, que via na idéia da supremacia racial o convívio harmônico - desde que em absoluta desigualdade - entre brancos senhores de seu senhorio e negros reduzidos a animais.

O ar de focas-amestradas que a comédia minstrel, encenada no sul dos Estados Unidos até os dias de hoje, dá aos negros - musicais, alegres, festivos e submissos - é um eco da causa perdida sulista, imortalizado no bielorusso Al Jolson também pintado de preto em O Cantor de Jazz (1927). Homem que ajudou a abolir a tinta no teatro brasileiro, Abdias, casado havia muitos anos com a norte-americana Elizabeth Larkin, foi exilado nos EUA e vivenciou em terras ianques a quebra de um paradigma.

Ao sobreviver a 97 longos anos, brotou no Brasil pós-escravidão, cresceu em uma jovem República ainda mais excludente aos negros do que fora o Império escravagista, se refugiou no apogeu da contestação ao apartheid velado que fez vervilharem mágoas da Guerra Civil, retornou ao Brasil, ao lado de Brizola se fez deputado e senador e, nos últimos dez anos de vida, perdeu a voz.

E vieram cotas, revistas especializadas - Abdias foi um dos pioneiros da imprensa negra no país, com a sua Voz da Raça, uma publicação da Frente Negra Brasileira, ainda nos anos 1930 - um canal de televisão afro-brasileiro - a efêmera TV da Gente, de Netinho de Paula - a internet, Benedita da Silva, Paulo Paim Filho, Ivani dos Santos, Jurema Batista, Carlos Alberto Caó, Gilberto Palmares e tantos outros.

E não ouvimos Abdias. Uma das minhas maiores mágoas no jornalismo foi, a exemplo destes todos, não ter tido tempo de dar voz a este grande brasileiro que nos deixou há uma semana. Produzi, certa vez, um bonito especial sobre o Teatro Experimental do Negro, iniciativa do tribuno e que reuniu astros do quilate de Haroldo Costa, Léa Garcia, Solano Trindade, Ruth de Souza e Cléa Simões, todos nomes imortais. Perguntei ao querido Haroldo sobre Abdias, e ele - bem humorado - respondeu: "Não está dançando frevo, mas vai bem". Haroldo, que ainda dança frevo e tem voz garantida todos os carnavais em defesa da cultura afro-brasileira, reverenciou o mestre até seus últimos dias.

Mas onde estiveram setores do movimento negro, que tanto renegam seus pioneiros não alimentados no seio do marxismo, nos últimos dez anos, em que seu maior líder não teve a palavra? Abdias do Nascimento, lúcido até o fim, deixou legado e realizações. Imortal em seus jornais, revistas e peças de teatro, foi um rasgo de dignidade nas pútridas tribunas do Senado Federal dos anos 90, quando conviveu com uma série de processos de cassação de mandato de seus colegas de legislatura. Que o movimento negro, cada vez mais afro e menos brasileiro, ponha os pés no chão e não deixe morrer este libelo contra a segregação.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Pretérito Perfeito

Se o passado cantasse, valsa em dó repetiria. Intrépida pequena fagueira, espia atrás da porta e toca o tabaco com o som dos saltos. Em sobressalto, aponta o indicador aos céus e professa: o amor bem-vindo é o mais puro, terno e perdido. Mareja os dois cristais, borra o rosto com duas marcas de tinta preta, baixa a cabeça, pensa na morte. Mas, que sorte! Ter em companhia a mão amiga, tão achada e tão perdida, é dor de amor e fortuna em vida. É bálsamo, néctar e ambrosia. É forte, intrépido e temerário. Quem morre de amor não teme a morte, a sorte ou o bote das dores. Quem morre de amor é uno, uníssono em voz, alma e sonho a fazer planos para o almoço de amanhã e para o café de cinquenta anos adiante. É sonhar em velhos, anos a frente, vidas tocadas, a acariciar netos e bisnetos. É ver a vida florescer de nossos planos, enganos e danos, todos nossos em vitórias e tropeços, tão nossos quanto os nomes e dedos. Somos, pequena, a dose certa das nossas pequenas glórias e batalhas perdidas. Somos a guerra em nome do amor, a luta inglória contra um mundo de desamor e desapego. Vivemos de bom grado com que a vida nos reservou: ao menos um bom ombro para chorar as nossas mágoas e uma boa testa para compartilhar olhares e ilusões, ávidos por um futuro laureado e saudosos de nossos melhores momentos: sempre os nossos últimos reencontros. A cada dia mais certo de um amor certeiro, digo ao povo que acertei no milhar. Encontrei na mão mais amiga o mais puro caminhar, ao lado de quem acredita, ama e espera. E caminharemos, mesmo quando os pés não caminharem mais.

terça-feira, 10 de maio de 2011

"Doença Crônica": Trinta anos depois, um triste estigma


Jorge Arruda foi um dos maiores militantes da causa negra no Brasil. Negro e homossexual assumido, um dia quis me transformar em "Lucas do PT". Pela rejeição às siglas tradicionais que mantenho desde o início de minha trajetória, agradeci e recusei a proposta. Apesar disso, o trabalho do Arruda a frente da ONG A.F.R.I.C.A, do bairro de Campo Grande, sempre me encantou. Lá, ele mantinha enorme cuidado com as crianças em situação de risco, com a preservação da cultura negra e das religiões afro-brasileiras.

Tempos depois da proposta, já na Rádio MEC, produzia uma edição do debate Atualidades e resolvi convidá-lo. Era Dia da Consciência Negra. Para aquele especial, eu queria reunir grandes negros brasileiros: Zezé Motta, Haroldo Costa, Joel Rufino dos Santos, fazer uma grande homenagem ao nosso Abdias do Nascimento e trazer a palavra contundente do líder Jorge Arruda, grande companheiro de todos eles em tantos anos em prol da igualdade étnica. Liguei para o Arruda e foi a vez dele recusar um convite meu. Agradeceu, mas disse estar muito doente. Desconfiado, soube do que havia acontecido: meu amigo Arruda, que morreu dias depois, era mais um número nas estatísticas da AIDS no Brasil.

Doença de notificação obrigatória ao Ministério da Saúde, cresce em índices ano a ano e todas as medidas, quase todas acertadas, adotadas pelo governo brasileiro têm se mostrado insuficientes para conter a epidemia. Para vocês terem idéia, hoje há no Brasil aproximadamente 600 mil soropositivos. Nem todos eles já desenvolveram os sintomas, mas tiveram seus casos diagnosticados e notificados. Há ainda um número impreciso de subnotificações. O Ministério da Saúde fala em 250 mil, mas instituições internacionais apontam para 600 mil, o que dobraria os índices atuais e nos levariam a espantosos 1 milhão e 200 mil portadores do vírus HIV em nosso país.

Em 2009, desenvolvendo uma oficina de comunicação para alunos de uma tradicional escola de formação de professores aqui do Rio, recebemos Antônio Pinheiro, ativista do movimento LGBT e professor da rede estadual de educação. Pinheiro nos presenteou com um relatório oficial do Ministério da Saúde, distribuído às entidades que cuidam de temas relacionados à sexualidade humana, sobre a AIDS e as demais doenças sexualmente transmissíveis no Brasil. Lemos o conteúdo dos calhamaços atentamente, e pudemos observar uma realidade alarmante: subnotificação, acesso reduzido ao coquetel nas regiões Norte e Nordeste, alto percentual de abandono do tratamento e a definitiva extinção do conceito de Grupos de Risco. Hoje, há de se falar em Comportamentos de Risco, essencialmente o que se acostumou chamar por promiscuidade. É grande o contágio entre as meninas e mulheres jovens, muitas menores de idade, que se relacionam sem o uso do preservativo e parecem não se preocupar com as conseqüências desta ação. Tudo isto aponta para a degradação moral e o descaso.

Há também as barebackings, festas que são um verdadeiro atentado à saúde pública e que são realizadas em residências de alto luxo na Vieira Souto, Farme de Amoedo e Avenida Atlântica. Lá, o sexo é praticado sem o uso de preservativos e com a presença declarada de soropositivos. Todos sabem que há portadores do HIV ali, mas sentem prazer ao não saberem quem são: trata-se de uma grande roleta-russa, em que o bacanal dionisíaco é substituído pela adrenalina de se colocar em risco a própria vida.

A ausência de ações do poder público contra estas festas, poucas vezes denunciadas na imprensa e freqüentadas tanto por casais heterossexuais como por parceiros homossexuais, leva à proliferação do vírus HIV entre jovens saudáveis e produtivos, todos entregues à imbecilidade e à perversão moral nestes eventos. A morte de Marco Aurélio Silva da Rosa - o Lacraia - em mais uma presumível infecção pelo HIV, escarnece a precariedade do nosso sistema de saúde, que oferece o coquetel a um grande número de portadores mas não lhes dá acompanhamento adequado. O Hospital Gafrée Guinle, centro de referência no tratamento da AIDS no Brasil, tem pouco mais de 300 leitos. Se não dá conta dos soropositivos da Tijuca e arredores, como imaginar que atenderá a todos os casos em que sua ação se fizer necessária? Quantos Lacraias e Arrudas mais teremos que perder para que a sociedade desperte e veja no abandono do SUS e na promiscuidade de seu comportamento sexual a verdadeira razão para tanto sofrimento?

sábado, 9 de abril de 2011

Inferno Rubro

Em 31 de janeiro de 2008, há mais de três anos, publiquei neste mesmo espaço um artigo sobre a crise do America, que ainda sob a administração de Reginaldo Mathias patinava na Taça Guanabara e mostrava os primeiros sinais de que o rebaixamento era iminente. Na ocasião, o bom treinador Ademir Fonseca assumiu a equipe, trouxe atletas de sua confiança nas passagens por Cabofriense e Paysandu e não obteve bons resultados, graças á péssima disciplina tática de sua equipe e a uma preparação física deficiente. Reformulado o grupo, a pequena melhora na Taça Rio não impediu o primeiro rebaixamento em 106 anos de história. Em 2008, o America teve quatro treinadores: Ademir Fonseca, que vinha da Cabofriense e depois iria para o Bonsucesso, ambientado no futebol carioca e culpabilizado pelo rebaixamento pelo então presidente, o veteraníssimo Jorge Vieira, técnico campeão em 1960 e que assumiu na condição de interino, Amarildo, o possesso da Copa de 1962 e, finalmente, Gaúcho, hoje funcionário do Vasco, eterno bombeiro dos clubes de menor investimento. Não é difícil concluir que, entre Ademir e Gaúcho, houve um hiato. Amarildo, havia muitos anos fora do Brasil, não conhecia seus jogadores. E, muito pior: não conhecia seus adversários. Sua passagem foi a grande responsável pelo rebaixamento americano. Três anos depois, e após um retorno orquestrado pela boa vontade da FFERJ e da mídia na temporada de 2009, o novo rebaixamento. Afirma a velha máxima que errar é humano, mas insistir no erro é burrice. Repetir, temporada após temporada as mesmas falhas, soa proposital. Entrevistei no programa Esporte em Foco, da Rádio MEC, o então coordenador técnico do clube, Edu Coimbra, em dezembro. Ele havia assumido após o rompimento entre Romário e Paulo Gustavo, na época vice presidente de futebol. As perspectivas que o irmão de Zico me passou, apesar de toda a sua seriedade e comprometimento, foram as piores possíveis. Receitas de televisão antecipadas em 2010 para a disputa da Série D, saída da principal patrocinadora e recusa do clube em fechar com o BMG, o banco que patrocina todos os times e que até para o America fez uma tentadora proposta. Percebi o perfil da comissão técnica que Edu havia montado e logo concluí, antes ainda da montagem do elenco, que o propósito era montar um time com média de idade baixa, de 21, 22 anos. Para treinador, Gilson Gênio, havia muitos anos afastado do futebol profissional: esteve nos juniores de Fluminense e Duque de Caxias nas últimas temporadas. Os jogadores seriam selecionados em peneiras, tática perigosíssima no futebol atual. A razão é clara: quando se investe neles, tem de haver estrutura adequada para treinamentos e boa preparação física, pois a maior parte destes jogadores nunca as tiveram. O America não tem, e não teve nos últimos anos, nem uma coisa, nem outra. O fracasso era inevitável. O golpe político, com a troca de Paulo Gustavo por Antônio Tavares, velha raposa da política rubra, também. Saiu de cena a seriedade de Edu e retornou a postura dúbia de Romário, pouco interessado em ligar seu nome a um trabalho inteiramente fracassado. Comenta-se nos corredores da Campos Sales que o deputado federal pretende se candidatar à presidência do clube, o que o incompatibilizaria com o atual presidente, Ulisses Salgado. Como apoio, apenas foram mantidos os jogadores agenciados por seu empresário, como os atacantes Hugo e Wellington, que já estavam no clube. Retornaram os veteranos Arcelino e Bruno Reis, este último um dos poucos que se salvaram na campanha da Taça Rio. Contratados como referências da atual equipe, marcaram época em Botafogo e Fluminense por seus maus desempenhos. Com a saída de Gílson Gênio, assumiu Lulinha, sogro de Ronaldo Faria, ex junior do Vasco e irmão de Romário. Figura folclórica da Vila da Penha, foi preparador físico e treinador dos juniores do America no início dos anos 2000, levado por Seu Edevair. Venceu duas partidas, contra Americano, na Taça Guanabara e Cabofriense, na Taça Rio. As únicas vitórias do America no campeonato. Desgastado com as seguidas goleadas sofridas pela equipe rubra, deu lugar a Ademar Braga, gerente de futebol no início da gestão Ulisses Salgado e que havia muitos anos não comandava uma equipe profissional. Tal qual Jorge Vieira, Amarildo, Gilson Gênio e Lulinha, uma aposta que não tinha qualquer chance de dar certo. Os cinco foram apresentados aos jogadores do America no primeiro treino. Não faziam a menor idéia de quem eram, em quais posições atuavam e de suas qualidades e carências. Estavam fora do mundo do futebol profissional. E o pior: o clube foi devastado por seus adversários, que atacavam com toda a liberdade e não sofriam qualquer resistência por uma equipe que não era orientada a conter suas principais jogadas. Somente a três rodadas do fim, um irregular Marcelo Buarque, técnico de um bom trabalho no Duque de Caxias e dois maus, por Bangu e Macaé, assumiu a equipe e mostrou algum conhecimento sobre seus jogadores e adversários. Era tarde demais. Fulminado por mais uma derrota, o America Football Club é novamente um clube da segunda divisão do Campeonato Estadual, inchado em seus dezesseis clubes e que não verá, em 2012, um de seus mais antigos e tradicionais participantes. Desde 1987, o America repete erros e seus dirigentes beiram a insanidade. Há quem fale em insolvência e fechamento do departamento de futebol. Em um covil de raposas, em que todos querem embolsar os últimos tostões, realmente não há qualquer perspectiva de união em prol do clube. Por enquanto, o rebaixamento americano só nos deixa uma lição: futebol é para quem é do futebol. Apadrinhamento de quem vem de fora, em um meio tão competitivo, não pode ter outro resultado.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Os seus nove
























Dá cá, cara lembrança, o doce flan de caramelo. Calda saudosa de sabor amargo, gosto passado, voz de saudade de minha velha infância. Lá, menino imberbe, foste a mão salgada nas cantinas de escola. Pastel de forno, risole e hot dog. E a garrafinha de 50 centavos. Foi tua a voz amiga a me consolar nas derrotas e a exaltar as mais serenas vitórias. Foste a voz perdida a cantarolar as tuas dores e suores, as boladas nas queimadas e os dentes perdidos nos pisos de concreto. Fomos os sermões das freiras, sem eiras nem beiras, a soluçar promessas vãs. Somos, tal qual velhos pequenos, as mesmas crianças de treze anos atrás: em lembranças futuras, velhas palavras e ácidos sonhos.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Na Batucada da Vida

Incólume, alvejo em sóbrios olhares teus dedos nus por meus cabelos. Díspares cenas de amor rasgado e rasgar de amores, mórbidos sorrisos e golfejos perante a tua prece. Prece em que pede, em uníssono, a pérfida prole que há de vir: três meninos de bochechas rosadas e calças curtas, a chutar bolas de plástico e riscar o piso da sala. Fábrica de dores e flores, óbitos e reflorestamentos, somos a íncrivel capacidade de ressurgir nossa ínfima existência perante amores e esperanças, muitas vezes vãs, de ardor e felicidade. Trocamos alianças, véus, grinaldas, gravatas e togas. Vai-se o canudo para a prateleira, o diploma para a parede, a certidão para a gaveta e a vida para um caixão. Ou, em final deveras poético, como cinzas ao mar. De que vale então a nossa procissão? Vale do gozo permanente de sobreviver ao lado da pessoa amada, em seus momentos de mais puro ócio ou decisiva agitação. Somos os mesmos, quando juntos, na sala de tarde ou na posse do Planalto. No desemprego ou na fartura, no desamparo ou na fausta, na morte ou na vida, na sorte ou no azar. Guarnições do mesmo prato, a trocar apostas e batidas de pés, teimosos que somos em busca de um altar...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Depois de tudo, um cigarro apagado

Creio que os bregas fonogramas de Lindomar Castilho são bom remédio para meu refluxo. A vitrola, dos tempos do Figner, faz soar o tema triste da canção depauperada, com a voz empostada de um cantor de bordel. E a voz do meretrício canta boleros de amor eterno, no bailar atochado de um casal de um salão lúgubre no Largo do Estácio. Ela, de vestido grená. Rosas amarelas pintadas no tecido, cabelo preso em coque, boca pintada de carmim. Ele, o bom malandro, metro e setenta de furor e fúria, louco a rasgar as vestes alheias e possuir a filha do próximo. Sai Lindomar, vem Elymar. Escancarando de Vez. As mãos se torturam, se enroscam, trocam suores e odores. Ah, como é sui generis o cheiro das mãos naqueles momentos! E bocas se enfrentam, pernas se afagam, dedos se triscam e dentes se raspam. A língua, quente, repete o hálito sujo dos drinques baratos das luzes vermelhas. São dois vulgares, perenes, em saliva, obturações, pontes e resinas. É o encontro de duas bocas que nunca se viram e que apostaram na canção rasgada de um cantor de quinta. Que se coma o fruto até o fim! Nesta noite, no Largo do Estácio, são bacharéis os dois libertinos, a desafiar a moral pública e dar bom dia à ressaca em uma cama de motel barato. Exaustos, perdidos, imundos, fecundos. Suados e sujos, marcados e frágeis, ao bambejarem suas pernas cansadas. Esta é a dor do amor, a dor da exaustão. Enquanto se faz desta dor uma doce morfina, o amor é eterno e o profano é sagrado.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Pílula de Orpheu

Em polvorosa, aposto cá que este novo tempo será a dor e a flor a brotar: introjeto as suas pérfidas frases vãs em minh'alma tal qual veneno ofídico. Bebo cada gota de teu vil curare, mato-me e mordo-me, me aperto em seus garrotes e prefiro sufocar. Ah, a morte gloriosa! Nos braços da amada, afogado ou baleado, canceroso ou esfaqueado, acidentado, seviciado, amaldiçoado, renascido. É fervor de amor te ver assim, tão nua em teus recatos, vestida para matar de amor. E mata... e mata...